A paz mundial não é da sua conta. Só mesmo Morrissey para destilar tal ironia já no título. Disponível nos formatos digital e físico, 'World peace is none of your business', 10º álbum solo de Steven Patrick Morrissey – e o primeiro em cinco anos desde 'Years of refusal' – é um dos trabalhos mais interessantes que você ouvirá neste ano.
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O novo álbum chega na esteira de sua ruidosa autobiografia, com a promessa de ser lançada este ano no Brasil. Produzido e gravado na França por Joe Chiccarelli (vencedor de três Grammys por trabalhos com Café Tacvba, White Stripes e The Raconteurs), o disco foi antecipado por clipes de algumas faixas como 'Istanbul' e 'Earth is the loneliest place'.
A demora em lançar um trabalho inédito é compensada pela variedade de canções. 'World peace...', por sinal, tem diferentes formatos: o álbum oficial conta com 12 canções; há uma versão de luxo com seis faixas-bônus.
Ouça a faixa 'Earth is the loneliest planet':
A canção-título, que remonta aos Smiths, dispara: "Each time you vote, you support the process/ Brazil, Bahrain, Egypt, Ukraine/ So many people in pain" (“Cada vez que você vota, você apoia o processo/ Brasil/ Barein/ Egito/ Ucrânia/ Tanta gente em agonia"), acompanhada por belo solo de guitarra. Na sequência, 'Neal Cassady drops dead' relata a reação do poeta beat Allen Ginsberg ao tomar conhecimento da morte de seu antigo companheiro. Aqui a guitarra vai ganhando camadas distintas no decorrer da canção, até cair num solo quase choroso.
Morrissey canta a morte de um toureiro, defendendo a vitória do touro ('The bullfighter dies') e, dizendo-se cansado de homens e mulheres, já que nunca matou ou comeu um animal, coloca-se acima deles: “I’m not a man/ I'm something much bigger and better than/ A man”. Trocando em miúdos: é algo maior e melhor do que um homem. Este é Morrissey. Melhor ou pior, não dá para ser indiferente a ele. Ainda bem.
Na primeira pessoa
Lançada em outubro de 2013 na Inglaterra, a autobiografia de Morrissey, antes mesmo de vir a público, levantou polêmicas. Foi publicada pela Penguin Classics, editora reconhecida por editar clássicos. No livro de 450 páginas ele descreve a infância dolorosa em Manchester e suas brigas com a gravadora Rough Trade. Também fala de rancores do passado, como com o baterista Mike Joyce, a quem dedica 50 páginas. Dá mais espaço para a vida pessoal do que ao processo criativo. “Não sou mais infeliz do que qualquer outra pessoa”, afirma. No Brasil, a autobiografia será lançada pela Globo Livros. Mas não há data confirmada.