Corazón, novo álbum de Santana, mais uma vez capitaneado por Clive Davis, é o quarto projeto de participações, mas o primeiro disco pela RCA (divisão da Sony Music). É o primeiro destinado ao mercado latino. Aqui, como nos trabalhos anteriores, ele atua ora como maestro, ora como solista e ora, também, como músico de apoio de luxo. 'Saideira', a gravação que ele fez com Samuel Rosa (e abre a edição nacional do álbum), é um bom exemplo. Canção registrada pelo Skank em 1998, não teve mudanças no arranjo, ainda que a assinatura da guitarra de Santana seja o maior atrativo da nova gravação. A versão que abre o disco traz Samuel cantando em português (a mesma que está rodando as rádios), mas há uma faixa-bônus com o registro em espanhol.
Há nomes de peso também na banda de apoio, como o baterista Dennis Chambers e o percussionista Karl Perazza. Diante desse casting, são muitos bons momentos e outros nem tanto. Oye como va, talvez o clássico maior do repertório de Santana e um dos hinos da geração Woodstock, aparece aqui numa tentativa pífia de atualização – e a participação de Pitbull no Oye 2014 não ajuda em nada. A rumba Besos de lejos, com uma Gloria Estefan fazendo o que sempre fez, não acrescenta muito ao trabalho.
Ziggy Marley pegou emprestado do pai Iron Lion Zion, aqui registrada ao lado dos rappers colombianos Chocquib Town. A participação fez com que o reggae ganhasse um sotaque fusion. É um bom momento, como também La flaca, gravação de Juanes para uma canção da banda espanhola Jarabe de Palo, lançada 20 anos atrás. Em Una noche en Napoles, um folk com levada latina que reuniu as cantoras Lila Downs, Nina Pastori e Soledad, Santana sai de sua zona de conforto para mostrar sua familiaridade com o violão de 12 cordas. Yo soy la luz, única faixa do álbum composta por Santana, cai como uma luva para o sotaque latin-jazz que une o guitarrista, Cindy Blackman e Wayner Shorter num solo impecável. Com sua vocação francamente comercial, Corazón reúne com competência um bom time de latinos. E mostra que os sotaques musicais são tão distintos quanto o número de países que fazem parte do chamado bloco latino.