Musica

Disco de Bárbara Eugênia e Fernando Cappi é inspirado em hits dos Beatles

A ideia surgiu quando Bárbara lia o livro 'The Beatles: A história por trás de todas as canções'

Juliana Figueiredo

Bárbara Eugênia e Chankas: com uma pitada também de Neil Young
Um disco inspirado não só pela música dos Beatles, mas também pela história e pelas transformações de cada um de seus integrantes. Este é o 'Aurora', projeto paralelo da cantora Bárbara Eugênia e de Fernando Cappi, o Chankas, guitarrista da Hurtmold. A ideia de fazer um álbum surgiu enquanto Bárbara lia o livro 'The Beatles: A história por trás de todas as canções', do britânico Steve Turner, no final de 2012. Depois de compor as letras, ela chamou Chankas para musicar o trabalho, e foi assim que a bela parceria nasceu.


“Não é um disco sobre os Beatles, mas sobre os questionamentos e reflexões que nasceram em mim a partir da leitura do livro, e sobre coisas que eu passei e queria compartilhar. O que me inspirou foi a história deles, desde o iê-iê-iê, passando pelas canções mais profundas e espiritualizadas, até chegar às carreiras solo, em que cada um estava na sua onda, fazendo a sua música, todos com muita riqueza”, conta Bárbara.

Embora o objetivo não tenha sido fazer algo que remetesse ao som da banda britânica, e, sim, seguir por um caminho mais folk, country e, da parte de Chankas, inspirado na obra de Neil Young, as semelhanças com as canções dos Beatles são notáveis, seja em baladas como 'Say goodbye' (“And i’ts so hard to live without you/ We should be open to what is new”), na qual quase chegamos a ouvir Lennon e McCartney ao fundo, seja em 'Why so mute?' (“Lately I’ve been mute/ I don’t know if I’ll find a companion”), cujo toque psicodélico no fim abre alas para a metade mais experimental do disco, quase o que 'Revolver' (1966) representou para os Beatles.

Confira os comentários de Bárbara Eugênia sobre as faixas do Aurora

Faixa a faixa, por Bárbara Eugenia

Say Goodbye


Fiz essa letra sobre parar de fumar, mas queria que parecesse uma música de amor. Acho que foi a primeira a ser harmonizada. A combinação das vozes saiu muito naturalmente e, depois, quando fizemos o arranjo, também acabou fluindo naturalmente para essa pegada country.

With Love

Fala de como lidar com as mudanças, com as transformações da vida. Entender o momento de cada um e saber que tudo é um processo que, às vezes, precisa ser vivido sozinho. Na criação do arranjo, a música ganhou muito com as ideias do Regis e do Richard de fazer uma baladinha no meio da história. A música vai mudando e crescendo até o fim, assim como a letra vai ficando mais feliz.

Don't let it slip away

Desde o início já pensamos na introdução com a rabeca do Thomas, que acabou virando uma marca da música. Ela fala muito da minha percepção da transformação pessoal dos Beatles e como isso refletiu nas composições deles, como os assuntos deles foram mudando. E como sinto falta de expressões assim hoje em dia na música.

Why so mute

Essa é uma autoanálise, um diálogo comigo mesma sobre o que estava passando na época. Chankas sugeriu fazermos um jogral com as frases, o que deu um ar mais solar, com um final mais feliz e otimista.

Stand up for yourself

Queria fazer uma música do tipo "levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima", dar um recado mais direto. Vamos lá que a vida é boa e curta! Na hora de fazer o arranjo tínhamos muitas ideias, mas nada que realmente parecesse legal. Então inventamos essa – meio - cacofonia, uma doideira que levasse à batida retona e ao discurso direto, talvez pra deixar tudo bem claro mesmo, ressaltar o "texto".

Climb the stairs


Música de amor, leve. Me inspirei na história em que o John Lennon se apaixonou pela Yoko sem conhecê-la, quando foi a uma exposição que tinha a obra da escada (você sobe uma escada e no teto tem escrito bem pequeno "yes"). Então é um chamado para o amor. E consequentemente é a que tem mais molejo, um rebolado maior, cadência...

And love you'll have

Essa é uma carta aberta, e a fiz em 15 minutos, sentada na cozinha enquanto minha roommate fazia um jantar. Desde o início pensei na frase para o Guizado gravar. Tinha uma pegada meio Pink Floyd na sequência de acordes, uma psicodelia inata. Regis contribuiu muito com a abertura de vozes, não só nessa, mas principalmente nessa.

Ants

Essa acabou ficando a mais pesadona, rockão mesmo. Decidimos pelo sax barítono no lugar da rabeca do Thomas pra ficar mais forte. Richard gravou várias viradas de bateria, fizemos uns overdubs. Ficou marcante. É também um questionamento sobre a vida, as relações, o futuro.

Aurora

Essa foi a última a ser escrita. A compus nos últimos dias de ensaio na Casa do Mancha. Queria uma música que resumisse, condensasse a ideia do disco, e que (como faço em meus discos solo) fosse um final com uma mensagem positiva. Já escrevi pensando que seria a última faixa. Ela fala muito do meu aprendizado nos últimos tempos, das transformações. É bem hippie e tenho orgulho total disso! Escrevi três partes diferentes e não sabia como colá-las. Levei pros meninos no ensaio e acabou virando uma parceria minha, do Chankas, do Regis e do Richard. Cada um contribuiu muito para chegar ao resultado final. E na parte do meio, que foi uma inspiração "Ringo", pensei que devia ter o trombone do Gil Duarte; era o que faltava.