Longe do impacto visual que às vezes roubava escancaradamente a cena da música em si, Marisa Monte lança, nos formatos CD, DVD e Blu-ray, o registro da vitoriosa turnê 'Verdade uma ilusão', na qual volta a cantar, principalmente, canções de amor. “Amar alguém só pode fazer bem. Não há como fazer mal a ninguém”, avisa, para decepção dos que resolveram tachá-la de brega.
Verdade que depois de viajar o Brasil inteiro e o exterior, entre 2012 e 2013, a cantora deixa transparecer certo cansaço vocal, com provável risco de fadiga. Nada, no entanto, que comprometa a bela performance cênico-musical da artista, que, mais uma vez, está à frente de praticamente tudo o que faz. Concepção, produção e arranjos (com banda), por exemplo, são de responsabilidade da própria Marisa.
Produzidas pela Conspiração Filmes, as filmagens tiveram direção de Cláudio Torres, que também divide a direção do show com o empresário da cantora, Leonardo Netto. Anteriormente, Cláudio já havia dirigido outros DVDs da artista, que convocou uma plateia de fã-clubes para os dois dias de gravação, na Grande Sala da Cidade das Artes, do Rio de Janeiro.
Além do power trio do grupo Nação Zumbi, formado por Lúcio Maia (guitarras, violão e sitar), Dengue (baixo) e Pupillo (bateria e cocktail drums), a banda da cantora inclui o parceiro Dadi (violões de aço e de nylon, guitarra, backing vocal, ukulele e guitarra pignose) e Carlos Trilha (teclados, voz e programação).
Um quarteto de cordas – formado por Pedro Mibielli e Glauco Fernandes (violinos), Bernardo Fantini (viola) e Marcus Ribeiro (violoncelo) – e o bandoneonista argentino Lautaro Greco também estão na formação, cuja solista exibe ainda o talento e charme da própria cantora tocando ukulele, violão e guitarra em algumas faixas.
A projeção da obra de artistas plásticos contemporâneos – Luiz Zebini, Cao Guimarães e Rivane Neuenschwander, Marcos Chaves, José Damasceno, Mana Bernardes, Tunga, Thiago Rocha Pitta e Marilá Dardot, entre outros – também é prejudicada, à exceção da faixa Depois, em que Dream sequence I, de Janaina Tschãpe, se destaca.
Vale lembrar que no show Marisa canta pela primeira vez E.C.T., da parceria com Nando Reis e Carlinhos Brown, lançada por Cássia Eller. Da dupla Antonio Amurri e Bruno Canfona, ela interpreta Sono come tu mi vuoi, que durante a turnê ela diz ter descoberto na voz da italiana Irene Grandi. Curioso poder observar como Marisa Monte vem desenvolvendo belos vocalizes, que casam bem a voz dela às cordas.
Oportuna, ainda, a capacidade da compositora em trazer à cena histórias como a do Profeta Gentileza na faixa homônima ao nome do filósofo popular. Paulista de nascimento, ele se transformou em verdadeira personalidade urbana carioca ao criar frases como “Gentileza gera gentileza”.
Três perguntas para...
Cláudio Torres
Diretor
O show da gravação parece não ser o mesmo que o público assistiu durante a turnê, que primava pelo uso de efeitos imagéticos. O uso da tecnologia poderia prejudicar de alguma forma a filmagem?
O repertório do DVD é ligeiramente diferente do show, mas filmamos todas as músicas que tinham projeções. A grande diferença é que ao vivo você assiste a uma imagem tridimensional, e muito do cenário que o Batman Zavareze (direção de arte) criou com o Marcelo Lipiani (cenografia) visava exatamente explorar essa tridimensionalidade. O DVD é 2D, então o que acredito que você define como efeitos imagéticos não pode ser capturado. Depois existe a questão da escala. As projeções eram gigantes e o som idem. Na TV fica restrito. Não existe nada como um show ao vivo. Ainda mais aquele show ao vivo. O que o DVD oferece é a proximidade. É estar perto da Marisa, dentro da banda, degustar a música decupada nos seus instrumentos. Sentar em lugares que nem são vendidos nos teatros, dentro do palco.
Em compensação, parece que o público ganhou em termos musicais, com o acréscimo de novas canções. Até que ponto Marisa Monte preferiu privilegiar a música em detrimento dos recursos de imagem?
A ideia foi registrar um concerto. Capturar sem muita afetação, sem cortes rápidos ou o uso de pós-produção. Filmar a música sendo tocada, tendo como diálogo o sentido cênico daquelas videoartes.
Como avalia a experiência de dirigir Marisa Monte, experiência que dividiu com o empresário dela, Leonardo Netto?
Trabalho há muitos anos com Marisa e Leo, desde 1988. Ninguém dirige a Marisa. Ela nos dirige. Somos os olhos e os ouvidos dela fora do palco. Mas mais do que tudo somos amigos. Alem de espantosamente talentosa, Marisa é uma mulher muito inteligente.
Assista ao trecho do DVD de Marisa Monte: