Odair José de Araújo nasceu em Morrinhos, Goiás, em 16 de agosto de 1948. Ao 7 anos, pediu um violão, mas ganhou um cavaquinho. O pai achou que era mais adequado um instrumento menor por causa do tamanho do filho. “Algum tempo depois, convenci meu pai de que eu queria um violão, e não um cavaquinho. Fui aprendendo os acordes e me enturmando com a rapaziada”, lembra o músico.
A família se mudou para Goiânia quando Odair tinha 12 anos. Participou de várias bandas, entre os 15 e os 16 anos. No repertório das apresentações, só canções de sucesso nas rádios, como The Beatles e Rolling Stones. “Essas eram nossas influências. Tocávamos em festas, escolas. Tinha a TV Anhaguera e a gente sempre tentava entrar nos musicais”, conta.
Foi na adolescência que começou a compor. A primeira tentativa de deixar a cidade foi impedida pelo irmão mais velho. “O goiano, de um modo geral, ia para São Paulo. Tentei ir para lá também. Mas o Luiz Jerci me tirou de dentro do ônibus. Alguém me dedurou”, lamenta. Um ano depois, saiu de casa escondido. “Peguei meu caderno e uma mala e parti para o Rio de Janeiro em busca de alguns contatos. Fui para lá achando que seria fácil.”
Dificuldades
O dinheiro que levou para o Rio, em 1966, pagou uma semana em um hotel barato no centro da cidade. Nem de longe, as dificuldades do início deram sinal de existência nos sonhos que o cantor cultivava. “Tive que dormir na rua. A primeira noite foi na escadaria do Theatro Municipal. Depois, descobri o banheiro do Santos Dumont. Dormia sentado no vaso. Ao lado do aeroporto, encontrei o restaurante Calabouço, frequentado por estudantes. Assim, conheci a Casa do Estudante. Como havia chegado ao Rio na época das férias, esperei para me matricular”, recorda.
O jovem ficou um ano sem dar notícias à família. “Olha que inconsequente! Sabia que, quando dissesse onde estava, alguém iria me buscar. Não deu outra. Meu irmão foi me ver. Viu que estava estabilizado, que a coisa era difícil mas estava caminhando. Foi a forma que achei de preservar minha estada no Rio”, narra o músico. Naquela época, os colegas não acreditavam que alguém pudesse sair de Goiânia e se tornar conhecido no país inteiro. “Meus pais, evidentemente, se manifestaram contra. Queriam que eu fosse estudar e arranjar um emprego. Não achavam era que eu era doido o bastante para entrar dentro do ônibus. De certa forma, não estava errado porque consegui muito mais do que esperava. Dois anos e meio depois, já estava gravando meu disco.”
“Virtuoso”
Em contato com os músicos da cidade e uma cultura bem diferente daquela que reinava nos bailes de Goiânia, Odair descobriu que as músicas que estavam no caderno eram muito “verdes e amadoras”. Apesar de não se considerar um músico “virtuoso” na época, a dura realidade não atrapalhou sua determinação. Nesse período, começou a tocar nos bares cariocas. Não se cansa de dizer que só existe dois tipos de música: a boa e a ruim, independentemente do estilo. A noite nos botecos mostrou para o jovem ritmos que iam além do regionalismo goiano e das baladas estrangeiras. Lá, conheceu o samba de Ataufo Alves e Dolores Duran, e a bossa nova de Tom Jobim.
“Dormia às 3h, mas, às 9h, estava de pé na porta das gravadoras. No início, ninguém está a fim de dar oportunidade. Precisei insistir muito. As pessoas sempre acham que você não tem talento, que é mais um chato que vai tomar o tempo delas. Com humildade e insistência, tem que provar para os caras que merece uma chance”, diz, convicto. Um dos produtores que Odair José mais procurou foi Rossini Pinto. “Fiquei no pé dele. Ia sempre ao escritório na Cinelândia. Foi ele que me colocou na CBS e gravou o meu primeiro disco. Estar na CBS era como estar na Seleção Brasileira”, afirma, orgulhoso.
De 1972 a 1977, Odair José foi o artista que mais vendeu discos no Brasil. Eu vou tirar você desse lugar; Eu, você e a praça; Assim sou eu; Na minha opinião; A noite mais linda do mundo; Essa noite você vai ter que ser minha; Foi tudo culpa do amor e Sem saída são sucessos gravados nesse período. “Em 1972, vendi 1 milhão de cópias. Voltei para casa sendo o cara que tinha as músicas mais tocadas no rádio. Senti muita felicidade nos olhos dos meus pais, porque o garoto deu certo. Aquilo de ninguém acreditar ficou para trás”, completa.
Em 1977, o projeto Filho de José e Maria não teve a mesma repercussão dos trabalhos anteriores. A resposta do público e da mídia foram negativas. “Fiquei muito chateado porque todos os segmentos brasileiros me barraram naquele projeto. O cantor da pílula não podia ser pop. Só que nada era mais pop do que falar de pílula. O cantor do Eu vou tirar você desse lugar não podia ser rock’n’roll, quando nada mais é rock do que um cara declarar o amor a uma prostituta. Me desencantei muito. Fui me afastando aos poucos e perdendo o interesse. Eu não fui atrás da mídia nem fiz algo relevante para irem atrás de mim”, reflete. O cantor, que não dá a mínima atenção para os rótulos, está na moda. Alguns enganos estão sendo corrigidos.
A reavaliação de sua obra já não é taxada como brega, mas como um acervo de grande importância para a música popular brasileira. Ao perguntar ao músico o motivo pelo qual o sucesso tenha ficado concentrado na década de 1970, a resposta foge do estrelismo dos mais egocêntricos: “Não mantive a disciplina e o foco dos primeiros anos de carreira. Há uns cinco anos, voltou a vontade de fazer as coisas acontecerem. Hoje, consigo ver minha obra com mais respeito”, avalia, humildemente.
Odair José tem 32 disco gravados. São mais de 450 músicas na carreira. A rotina dos últimos meses tem sido dividida com a produção do CD Dia 16, com lançamento previsto para agosto. “O que eu sou hoje é devido ao meu trabalho. Posso dizer sem pretensão que ele foi benfeito. Mas, evidentemente, para que esse trabalho tenha dado certo houve muita ajuda. Tive muitos parceiros, muitas pessoas me ajudaram fosse num apoio ou numa ajuda para mostrar uma música no rádio e na televisão. Não consegui sozinho”, destaca o goiano.
O que eles dizem
Alexandre Fontanetti, produtor do CD Dia 16, que será lançado em agosto deste ano.
“Há alguns anos fizemos um remake de cinco músicas para uma coletânea. Convivendo com Odair, constatei que ele era muito mais do que eu tinha ideia. Muito culto musicalmente, de raro bom gosto e gente finíssima. O Odair sabe muito bem o que quer e o que não quer. As pessoas vão se surpreender com a grande forma que o Odair se encontra. Para mim, é um dos grandes artistas em ação. O Neil Young brasileiro! Tenho orgulho de fazer parte desse álbum.
Raphael Freitas, filho e jornalista.
“É difícil achar uma memória mais marcante dele. Acho que, como todos os pais, ele me passou valores importantes sobre a vida, sobre ser uma pessoa de caráter, digna, honesta. Eu penso que a vida artística e o seu meio me ensinou muito a não ter preconceito, a ser uma pessoa mais ‘mente aberta’.”
Donni Araújo, irmão e jornalista.
“Odair tem muitas virtudes. Ele é extremamente profissional, sabe o que quer fazer e como. No lado pessoal, é muito humanitário. Ele ajuda muitas pessoas, mas sem se vangloriar por isso. Fazer o sucesso que Odair fez naquela época era muito difícil, mas sempre manteve a humildade.”
32
Total de discos lançados
450
Número de músicas compostas
44 anos
Tempo de carreira