À primeira audição, 'Olhos de onda', que Adriana Calcanhotto está lançando pela Sony Music, nos formatos CD/DVD, pode até soar “mais do mesmo”, tamanha foi a frequência com que a cantora explorou o formato de voz e violão na carreira, desde os primórdios na noite porto-alegrense, nos anos 1980.
De volta ao instrumento, um ano e meio depois da cirurgia de uma lesão na mão direita, no entanto, ela mostra que é possível inovar, ainda que o próprio repertório de 20 canções tenha apenas três inéditas: Motivos reais banais, E sendo amor e a que batiza o disco.
O título Olhos de onda, vale lembrar, é uma referência da cantora-compositora aos “olhos de ressaca” da personagem Capitu, do romance Dom Casmurro, Machado de Assis. No mais, no CD/DVD ela se dedica à releitura de sucessos próprios e de pérolas como Me dê motivo, de Michael Sullivan e Paulo Massadas, e Back to back, de Amy Winehouse.
“Achei uma pena o que aconteceu com Amy. Perdemos uma grande compositora. Veja o que ela fez em pouco tempo de trabalho. Foi embora, mas deixou um legado”, diz a respeito da cantora londrina, morta precocemente aos 27 anos, em 2011. “Ela era tipo Maysa, sem medo de ser infeliz. Era uma intérprete incrível”, acrescenta.
“Nunca fui crooner, sempre fiz tudo de voz e violão”, recorda do início de carreira a cantora, que fez um ano de temporada em bares de Porto Alegre, onde já chamava a atenção pelo instrumento associado ao bom gosto musical e timbre agudo. No novo trabalho, Adriana acrescenta ainda uma impressionante articulação das palavras, notada principalmente no DVD, cujas cenas se atêm a tomadas de detalhes (boca, olhos, mãos) da cantora em cena.
“Estou aprendendo isso, acho que melhorei um pouco”, diz, admitindo tratar-se de uma questão de clareza diante do fato de ela transmitir altíssima poesia para o público. “Ela (a poesia) tem de impactar as pessoas”, defende Adriana Calcanhotto. Dependendo do projeto, volta e meia ela retoma as aulas de canto, que, além de Porto Alegre, fez também no Rio, com Felipe Abreu.
“Tem vezes que o repertório requer outro tipo de emissão, de colocação das palavras. Tem de ser a voz mais suja”, explica a cantora. Liberada do violão em projetos anteriores, devido à presença de Davi Moraes (violão e guitarra) na banda, Adriana se diverte ao lembrar do baixista Zeca Assumpção sobre a relação do artista com os instrumentos.
“Para Zeca, o instrumento é temperamental. É como o barco que tem alma”, justifica a cantora. Ela diz que não abandona o violão. “É ele que me rejeita. E não é apenas a coisa mecânica, mas a relação com ele mesmo”, acrescenta Adriana, que, depois de cirurgia, seguida de fisioterapia, passou a se dedicar à guitarra elétrica até ser liberada para o violão. “Sair da zona do conforto me interessa”, diz.
Produto do convite para uma apresentação em Lisboa no ano passado, Olhos de onda vai de O nome da cidade, de Caetano Veloso, a Maresia, de Paulo Machado e Antonio Cícero, passando por sucessos como Devolva-me, de Renato Barros e Lilian Knape, que estourou na Jovem Guarda; Esquadros, Canção de novela, Cantada (Depois de ter você) e Vambora, todas com a assinatura da própria Adriana Calcanhotto.
No disco ela também resgata Três, dos irmãos Marina Lima e Antonio Cícero, originalmente gravada pela cantora carioca, e Para lá, a primeira composição dela com Arnaldo Antunes, além de Maldito rádio, que assina sozinha.
No extra do DVD, a própria Adriana declama o poema Verão, de Ferreira Gullar, salientando a data de gravação do projeto, no Vivo Rio, em 1º de fevereiro, um dia antes da festa de Iemanjá. “Preciso fazer o que acho que preciso fazer”, diz Adriana a respeito da forte relação da poesia com a música dela. “Não penso em agradar ao público”, confessa sem temor.
EM BH No dia 22, acompanhada apenas de seu violão, Adriana Calcanhotto vai repetir em Belo Horizonte, no Grande Teatro do Sesc Palladium, a performance que fez para comemorar os 20 anos da casa de shows de Portugal, onde ela se apresentou pela primeira em Lisboa. “Ao aceitar o convite, comecei a imaginar que tinha de lembrar minhas músicas. Em casa, por exemplo, não toco Esquadros. Foi bom o reencontro com a minha música, a minha maneira de cantá-la e tocá-la”, avalia a cantora.
Se em Lisboa ela abria o show com o poema O outro, de Mário de Sá Carneiro, que ela musicou e gravou no disco Público, no Brasil Adriana opta por O nome da cidade, de Caetano Veloso, que, no caso do Rio de Janeiro, caiu perfeito.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
. Adriana Calcanhotto
. Cantora
De volta ao instrumento, um ano e meio depois da cirurgia de uma lesão na mão direita, no entanto, ela mostra que é possível inovar, ainda que o próprio repertório de 20 canções tenha apenas três inéditas: Motivos reais banais, E sendo amor e a que batiza o disco.
O título Olhos de onda, vale lembrar, é uma referência da cantora-compositora aos “olhos de ressaca” da personagem Capitu, do romance Dom Casmurro, Machado de Assis. No mais, no CD/DVD ela se dedica à releitura de sucessos próprios e de pérolas como Me dê motivo, de Michael Sullivan e Paulo Massadas, e Back to back, de Amy Winehouse.
“Achei uma pena o que aconteceu com Amy. Perdemos uma grande compositora. Veja o que ela fez em pouco tempo de trabalho. Foi embora, mas deixou um legado”, diz a respeito da cantora londrina, morta precocemente aos 27 anos, em 2011. “Ela era tipo Maysa, sem medo de ser infeliz. Era uma intérprete incrível”, acrescenta.
“Nunca fui crooner, sempre fiz tudo de voz e violão”, recorda do início de carreira a cantora, que fez um ano de temporada em bares de Porto Alegre, onde já chamava a atenção pelo instrumento associado ao bom gosto musical e timbre agudo. No novo trabalho, Adriana acrescenta ainda uma impressionante articulação das palavras, notada principalmente no DVD, cujas cenas se atêm a tomadas de detalhes (boca, olhos, mãos) da cantora em cena.
“Estou aprendendo isso, acho que melhorei um pouco”, diz, admitindo tratar-se de uma questão de clareza diante do fato de ela transmitir altíssima poesia para o público. “Ela (a poesia) tem de impactar as pessoas”, defende Adriana Calcanhotto. Dependendo do projeto, volta e meia ela retoma as aulas de canto, que, além de Porto Alegre, fez também no Rio, com Felipe Abreu.
“Tem vezes que o repertório requer outro tipo de emissão, de colocação das palavras. Tem de ser a voz mais suja”, explica a cantora. Liberada do violão em projetos anteriores, devido à presença de Davi Moraes (violão e guitarra) na banda, Adriana se diverte ao lembrar do baixista Zeca Assumpção sobre a relação do artista com os instrumentos.
“Para Zeca, o instrumento é temperamental. É como o barco que tem alma”, justifica a cantora. Ela diz que não abandona o violão. “É ele que me rejeita. E não é apenas a coisa mecânica, mas a relação com ele mesmo”, acrescenta Adriana, que, depois de cirurgia, seguida de fisioterapia, passou a se dedicar à guitarra elétrica até ser liberada para o violão. “Sair da zona do conforto me interessa”, diz.
Produto do convite para uma apresentação em Lisboa no ano passado, Olhos de onda vai de O nome da cidade, de Caetano Veloso, a Maresia, de Paulo Machado e Antonio Cícero, passando por sucessos como Devolva-me, de Renato Barros e Lilian Knape, que estourou na Jovem Guarda; Esquadros, Canção de novela, Cantada (Depois de ter você) e Vambora, todas com a assinatura da própria Adriana Calcanhotto.
No disco ela também resgata Três, dos irmãos Marina Lima e Antonio Cícero, originalmente gravada pela cantora carioca, e Para lá, a primeira composição dela com Arnaldo Antunes, além de Maldito rádio, que assina sozinha.
No extra do DVD, a própria Adriana declama o poema Verão, de Ferreira Gullar, salientando a data de gravação do projeto, no Vivo Rio, em 1º de fevereiro, um dia antes da festa de Iemanjá. “Preciso fazer o que acho que preciso fazer”, diz Adriana a respeito da forte relação da poesia com a música dela. “Não penso em agradar ao público”, confessa sem temor.
EM BH No dia 22, acompanhada apenas de seu violão, Adriana Calcanhotto vai repetir em Belo Horizonte, no Grande Teatro do Sesc Palladium, a performance que fez para comemorar os 20 anos da casa de shows de Portugal, onde ela se apresentou pela primeira em Lisboa. “Ao aceitar o convite, comecei a imaginar que tinha de lembrar minhas músicas. Em casa, por exemplo, não toco Esquadros. Foi bom o reencontro com a minha música, a minha maneira de cantá-la e tocá-la”, avalia a cantora.
Se em Lisboa ela abria o show com o poema O outro, de Mário de Sá Carneiro, que ela musicou e gravou no disco Público, no Brasil Adriana opta por O nome da cidade, de Caetano Veloso, que, no caso do Rio de Janeiro, caiu perfeito.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
. Adriana Calcanhotto
. Cantora
Como você avalia a atual música popular brasileira?
Diferentemente de outras pessoas, nunca vi crise de inventividade na música brasileira, que segue seu curso de extrema qualidade. Chico Buarque e Caetano Veloso, por exemplo, estão aí fazendo coisas incríveis. O último disco de João Gilberto tinha um violão ainda mais incrível. Lá fora me perguntam se não há competitividade na MPB. Costumo dizer que somos uma grande família. Que na verdade todos se sentem uma coisa só, que todos somos colegas, diferentemente do que ocorre com o balé clássico, com a ópera e com outros setores.
E a nova poesia, quem você tem lido?
Adoro os poetas contemporâneos. Temos Paulo Henriques Britto, Alice Sant’Anna, Cláudia Roquette-Pinto.
Você está preparando um novo livro?
Sim, ele está pendurado pelo meu prefácio. Trata-se de uma seleção de haicais de poetas brasileiros (Haicai do Brasil), por meio do qual procuro lançar um olhar sobre a chegada do gênero por aqui até os dias de hoje. Afinal, primeiro nós assimilamos e deglutimos, para depois inventar. Acredito que o haicai fez no Brasil o mesmo percurso das sandálias Havaianas, que são originalmente japonesas e nós adaptamos ao nosso jeito.
OLHOS DE ONDA – ADRIANA CALCANHOTTO SOLO
Dia 22, às 21h, no Grande Teatro do Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Ingressos: 1 kg de alimento não perecível para o programa Mesa Brasil Sesc. Informações: (31) 3214-5350.