

A música pop sabe construir seus ídolos. O ideal é que despontem jovens, para que tornem-se a preferência da vez de um público sempre ávido por novidades. No espaço de dois dias, Belo Horizonte vai receber duas cantoras que explicitam diferentes matizes do chamado showbusiness, Demi Lovato e Avril Lavigne, quinta e sábado, respectivamente. Para os incautos que veem a movimentação em frente ao Chevrolet Hall, espaço de shows onde ambas se apresentarão, são a mesma coisa. Mas não.
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Só que o ano de 2002 foi bem diferente para cada uma. Demi conseguiu ser contratada, aos 9, para o elenco da série infantil Barney e seus amigos. O lado cantora só veio a despontar mais tarde. Já Avril, sempre com o apoio da família, descobriu a música na infância, primeiramente na igreja. Conseguiu um contrato de peso já para o álbum de estreia, Let go, que estourou com o single Complicated. Versos como “Por que você tem que deixar as coisas tão complicadas?/ Veja o jeito que você age, parece outra pessoa” falavam direto ao coração confuso de todo e qualquer adolescente.
A música chegou para Demi através do cinema, mais precisamente de produções do Disney Channel. Vieram o primeiro, o segundo e somente no terceiro, Unbroken (2011), com a produção de Timbaland e uma imagem bem distante da adolescente certinha da TV, ela chegou lá. Problemas pessoais – disfunções alimentares e internações – foram levados para sua música. Novamente, falou direto para seu público.

Demi e Avril também têm histórias com o Brasil. Avril afirmou que o que mais se lembra do país é da recepção calorosa. “Quando anunciei essa turnê no Twitter, fiz uma enquete em cada cidade a que vou para que os fãs dissessem as músicas que mais queriam. Teve um deles que não parou de me twittar, algo fora do comum. E da última vez que estive aí, a cada hotel que ficava havia um grupo de fãs que não parava de cantar minhas músicas, nem mesmo durante a noite.” Mesmo assim, ela não causa o mesmo impacto de antes. Ainda há ingressos para os shows que apresenta no país a partir de terça-feira.
Já Demi esgotou algumas das oito apresentações que faz no país, entre elas a de Belo Horizonte. Em seis horas, os 5 mil ingressos para a noite desta quinta-feira acabaram (e a venda ocorreu em 21 de novembro, mais de cinco meses da data do show). Na estreia da turnê Neon lights, terça-feira, em São Paulo, a boa moça contou sua história de superação em canções como Warrior, conversou com o público, cantou de baladas a músicas mais roqueiras. Fez o que se espera dela, algo que Avril já vivenciou. No fim das contas, Demi e Avril, de lavras distintas, causam barulho semelhante tanto para quem as segue como para quem olha de longe, apenas curioso, com a comoção que provocam.

AS CAMPISTAS DO ASFALTO
Alheia ao tráfego da Avenida Nossa Senhora do Carmo e ao ir e vir de curiosos, Érica Vasconcelos, de 16 anos, devora as aventuras de Hazel, a protagonista do best-seller teen A culpa é das estrelas, de John Green. Hazel sofre de câncer, mas consegue se reinventar, inclusive cria a identidade de Augustus Waters, graças a um grupo de apoio. Histórias de superação atingem em cheio a estudante do 2º ano do ensino médio. “Ficar aqui é uma inspiração. Ela sofreu muito, foi abandonada pelo pai aos 4 anos, se automutilou. Conseguir passar por tantos problemas me dá muita força”, diz Érica.
“Ela” é Demi Lovato, a razão pela qual Érica vai perder quatro dias de aula neste mês. Chegou à porta do Chevrolet Hall no dia 14, ou seja, duas semanas antes do show. E já havia um grupo dominando a área. A turma de Érica – oito jovens – ocupa a segunda de uma dezena de barracas “acampadas” no asfalto, ao lado da entrada da casa de shows. Organizado, o grupo se divide para que ninguém fique sobrecarregado. A Érica couberam quatro turnos da temporada, das 10h às 16h. Somente os maiores de idade passam a noite, também em esquema de revezamento. Érica não vê a hora do show desta quinta-feira. Será o primeiro de sua vida.
O grupo que acampa para ver Demi Lovato – os fãs de Avril, dizem, só vão aparecer depois de quinta-feira – vem crescendo pouco a pouco, dia após dia. Cada barraca corresponde a um grupo, com média de 10 jovens. Uma ou duas pessoas de cada barraca ficam por vez. Ou seja, dependendo da escala, não se perde aula. A estudante de educação física Nicole Cerutti, de 20 anos, estuda à noite. Então, reserva os dias para ficar na espera. “Ontem, na faculdade, uma menina me disse que é um povo idiota que fica acampado no Chevrolet. Não disse nada para ela, mas acho que ninguém tem nada a ver com isso, pois não deixei de fazer as minhas coisas.”
“Não tem casa? “Vai trabalhar!” Cadê a mãe de vocês?” são algumas das coisas que Jéssica Laia, de 19 anos, tem ouvido nos últimos dias. A resposta ela tem na ponta da língua: “Minha mãe está trabalhando e sabe que estou aqui”, que chegou na sexta-feira, dia 19, para o “acampamento”. A intenção é conseguir o melhor lugar no show de Lovato, mesma razão de Nicole. “Da última vez que ela veio, não consegui ver o show de perto e foi a maior decepção da minha vida.” Rola muito disse-me-disse, inclusive de que a primeira barraca, que está no local desde o fim de março – ela estava vazia quando o EM esteve lá –, tem um integrante que não conseguiu ingresso. Para este campista do asfalto, resta pedir para que Demi Lovato olhe por ele. O que é um ingresso depois de tanta provação?
DEMI LOVATO
Show quinta-feira, às 21h, no Chevrolet Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, 4003-5588. Ingressos esgotados.
AVRIL LAVIGNE
Show sábado, às 21h30, no Chevrolet Hall. Ingressos: R$ 250 e R$ 125 (meia).