Jorge Mautner fala sobre arte e ditadura em BH

Militante do Partido Comunista, Mautner foi preso e exilado durante regime militar. Cantor de 73 anos mantém vários projetos com a nova geração

por Eduardo Tristão Girão 09/04/2014 08:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

Laís Merini/divulgação
Jorge Mautner: militante da inteligência no cenário político e cultural do país desde a década de 1950 (foto: Laís Merini/divulgação)
 

 

Jorge Mautner está em Belo Horizonte, mas não subirá ao palco. Hoje à noite, o cantor, compositor e escritor carioca participa de bate-papo com o público, no Espaço 104, como convidado do projeto Retratos de artista: molduras do pensamento. O evento também trará à capital Paulo César Pinheiro (dia 16), Hermeto Pascoal (dia 23) e Roberto Tibiriçá (dia 30).

Não há direcionamento definido para a conversa, que será mediada pela professora e escritora Vera Casa Nova, mas os 50 anos do golpe civil-militar de 1964 não saem da cabeça de Mautner. “Em Londres, durante o exílio, eu, Caetano Veloso e Gilberto Gil fomos células da democratização, fizemos músicas juntos. Com a nossa vinda para o Brasil, de show em show irradiamos possibilidades. Em 1976, depois da morte de Vladimir Herzog, houve uma coisa muito importante: mesmo os que apoiavam a ditadura se colocaram contra a tortura”, relembra.

Filiado ao Partido Comunista, Mautner foi preso durante a ditadura e enviado para a prisão em Barretos (SP). Solto sob a condição “de se expressar com mais cuidado em suas futuras obras”, decidiu se exilar nos Estados Unidos, onde trabalhou na Unesco como tradutor de livros brasileiros. De lá, seguiu para a Inglaterra, aproximando-se de Caetano e Gil em Londres. De volta ao Brasil, passou a colaborar com o jornal alternativo 'O Pasquim'.

Diálogo

Além de sua relação com a política, Mautner tem muito a dizer sobre sua carreira, que começou cedo. Em 1965, ele gravou o primeiro disco, o compacto simples 'Radioatividade/Não, não, não' (1965). Muito antes, em 1956, escreveu o livro 'Deus da chuva e da morte', aos 15 anos, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti. Aos 73, o artista se mantém absolutamente ativo e interagindo com a nova geração. Para se ter uma ideia, a banda que acompanha Mautner é a Tono, liderada por Bem Gil, filho de Gilberto Gil.

“Eles têm sensibilidade, capacidade incrível e informação. Ao mesmo tempo, estão redescobrindo a profundidade da música brasileira. Estão por dentro de tudo”, elogia Mautner. A propósito, seu último álbum de inéditas, 'Revirão' (2007), reúne nomes como Berna Ceppas e Kassin. Para o fim do ano, ele promete outro CD, desta vez homenageando o parceiro Nelson Jacobina, morto em 2012.

DETONANDO


Pouco depois de mandar para a praça a caixa Três tons, com seus três primeiros discos, Jorge Mautner anuncia novidades. Um álbum duplo trará material inédito gravado ao vivo no início dos anos 1970. Para detonar a cidade, que reúne canções que ele nem se lembrava de ter feito, será lançado no fim do mês. “Os shows foram feitos logo quando voltei ao Brasil. Há longos solos de violino, de bandolim. Antigamente, as faixas eram cortadas para poderem tocar no rádio”, adianta.

RETRATOS DE ARTISTA

Bate-papo com Jorge Mautner. Hoje, às 19h30. Espaço 104, Praça da Estação, 104, Centro. Entrada franca. Informações: (31) 3037-8691 e 9979-3372.

MAIS SOBRE MÚSICA