Feita a comparação inevitável, ela seria imediatamente associada à potiguar Roberta Sá, tamanha é a afinidade do timbre das duas cantoras, além do repertório que às vezes as aproxima. O diferencial no disco de estreia de Susana Dal Poz está no próprio título do trabalho: 'Só sambas'.
O CD, que chega ao mercado pela Fina Flor, é uma incursão da cantora carioca no universo dos bambas, com direito a releituras de clássicos, além da gravação de duas inéditas do mestre Wilson Moreira, que a apadrinhou.
Nascida para a música, na qual introduziu-se por meio do piano, que estudou por oito anos na infância, Susana acabou chegando à famosa Escola Portátil de Música, do Rio, onde, além de chorões, claro, encontrou também sambistas. “Aí, um compositor vai puxando outro, uma música vai puxando a outra...”, recorda ela, que, de repente, se viu atraída pelo universo com o qual faz sua estreia fonográfica.
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Qualquer semelhança com algumas faixas que Roberta Sá também gravou, em início de carreira, claro, é mera coincidência. “Fiquei apaixonada por este repertório”, afirma Susana, que garante ter feito uma “escolha amorosa” das faixas, entre as quais constam 10 regravações e duas inéditas (A mais nova conquista e Vou matar você de raiva), do padrinho Wilson Moreira. Registrou ainda Nelson Cavaquinho (A flor e o espinho, com Guilherme de Brito e Alcides Caminha, e Coração poeta). “São compositores que já admirava”, acrescenta a intérprete, lembrando que está atenta às novidades do gênero.
Como Só sambas é o primeiro CD, Susana Dal Poz admite que o objetivo foi homenagear os mestres. Aos 34 anos, ela diz que a expectativa dela em relação à carreira é positiva, mesmo diante de um mercado fonográfico em crise, dominado pelas cantoras. “Tem espaço para todo mundo fazer um trabalho bom”, diz.
Frescor na tradição
Kiko Ferreira
Moreira fora, o tom de Só sambas é o de releituras de sambas tradicionais, sem muita invenção, mas com bom gosto na seleção do repertório, dos arranjos com pé no choro (a cargo do violonista Bernardo Dantas), do canto limpo, afinado, com divisões benfeitas e sem aquele agudo no limite do incômodo tão comum à maioria das novas cantoras do gênero.
Sua postura perante a dezena de sambas tradicionais do CD é de reverência, mas não de timidez. De respeito, mas não de engessamento. Já de cara ataca de Pra que discutir com madame? (Janet de Almeida e Haroldo Barbosa), um dos preferidos de João Gilberto, que ela defende como uma boa crooner de orquestra. Na Vizinha do lado (Caymmi), libera litros de brejeirice sem soar caricata.
Lembra nossa Letícia Coura na forma de rever Camisa listrada (Assis Valente) e Falsa baiana (Geraldo Pereira) e dá conta da densidade de Nelson Cavaquinho com A flor e o espinho e Coração poeta. Para fechar o pacote, Alegria (Assis Valente e Durval Maia) celebra a felicidade para disfarçar a tristeza em clima de baile de antigamente. Um bom cartão de visitas.