Tal lembrança nos acode tão logo começamos a ouvir o 12º disco de estúdio do grupo, também chamado Dream Theater. Em 2011, a saída do carismático membro fundador e principal compositor Mike Portnoy – tido por muitos como o melhor baterista da atualidade – não impediu seus colegas de continuarem adiante, conforme mostraram no CD A dramatic turn of events. Porém, se naquela gravação a banda conseguiu reproduzir fielmente a aclimatação épica e grandiloquente que lhe angariou fama, ao longo da audição era praticamente impossível deixar de imaginar como determinada intervenção comandada pela bateria do novato Mike Mangini ou alguma inesperada mudança rítmica soaria, acaso ainda estivessem sob o comando do “desertor” Portnoy.
Já adulto, Mangini deixou a música por um tempo de lado para estudar e se pós-graduar em ciência da computação. De volta ao instrumento, tocou bateria para Annihilator, Extreme e Steve Vai antes de assumir o cargo de professor do departamento de percussão do prestigioso Berklee College of Music. Mas suas proezas só adquirem caráter quase surreal entre 2002 e 2005, quando estabeleceu cinco recordes na competição “Baterista mais rápido do mundo”. E são justamente as incríveis categorias nas quais se consagrou campeão que explicam sua admissão no Dream Theater: que tal 10.138 batidas executadas sem baquetas, só com as mãos nuas, em 60 segundos? Ou vertiginosas 4.555 batidas se valendo de um único bumbo, em míseros cinco minutos? Convenhamos, o camarada é mesmo um monstro.
ATAQUE
E por ser justamente este monstro que Mangini desta feita conseguiu roubar as atenções no CD Dream Theater. Das nove composições do disco, o baterista só não esteve ativamente envolvido no processo criativo de duas delas. Mais: longe de apenas tocar bateria, ele também formulou arranjos e colaborou em várias interações orquestrais, verdadeiramente elevando o disco a um patamar de qualidade que não era obtido pelo grupo desde Octavarium, de 2005.
Um Leviatã sônico que se ergue contra nossos tímpanos particularmente no ataque pesadíssimo que DT comanda já na introdutória The enemy inside, em jams alongadas a evocar a jamais negada influência recebida pelo Rush (The looking glass, Enigma machine), na balada de luxo Along for the ride e nos cinco segmentos cujos complexos encaixes resultaram nos 22 minutos de duração (!) da suíte progressiva Illumination theory.