Musica

Dream Theater mostra que superou a saída de Mike Portnoy em 12º disco

Novo baterista, Mike Mangini comparece nas composições e arranjos

Arthur G. Couto Duarte

O baterista Mike Mangini durante apresentação do Dream Theater em Belo Horizonte, no ano passado
No rock atual, talvez nenhum outro grupo seja detentor de tantos recordes – vale dizer, essencialmente absurdos – quanto o sexteto norte-americano Dream Theater. Afora sua peculiar síntese sônica tenha por si só dado vida ao chamado prog-metal, subgênero na qual proficiência técnica e execução instrumental comparável à precisão dos melhores cirurgiões valem bem mais que uma batida ensurdecedora ou a sanha elétrica advinda de algum distorcido riff de guitarra. Em suma, seus músicos sempre primaram por conquistas mediadas por uma quase obcecada perseguição do supremo virtuosismo.


Tal lembrança nos acode tão logo começamos a ouvir o 12º disco de estúdio do grupo, também chamado Dream Theater. Em 2011, a saída do carismático membro fundador e principal compositor Mike Portnoy – tido por muitos como o melhor baterista da atualidade – não impediu seus colegas de continuarem adiante, conforme mostraram no CD A dramatic turn of events. Porém, se naquela gravação a banda conseguiu reproduzir fielmente a aclimatação épica e grandiloquente que lhe angariou fama, ao longo da audição era praticamente impossível deixar de imaginar como determinada intervenção comandada pela bateria do novato Mike Mangini ou alguma inesperada mudança rítmica soaria, acaso ainda estivessem sob o comando do “desertor” Portnoy.


Não que Mangini seja um instrumentista comum. Não mesmo. E é aí que entendemos por que, entre outros tantos habilíssimos concorrentes (Virgil Donati, Marco Minnemann, Peter Wildoer, Derek Roddi, Thomas Lang e o brasileiro Aquiles “Angra-Hangar” Priester), Mangiani venceu tal disputa. Com QI acima da média, Mangini já dominava o kit de bateria aos 2 anos e meio (!) e, aos 9, replicava à perfeição todos os maneirismos do mítico Buddy Rich – jazzista e bandleader cuja mescla de grooves, velocidade, destreza e força absurda levou a crítica a considerá-lo, nas décadas de 1940, 50 e 60, como “o melhor baterista do mundo”.

Já adulto, Mangini deixou a música por um tempo de lado para estudar e se pós-graduar em ciência da computação. De volta ao instrumento, tocou bateria para Annihilator, Extreme e Steve Vai antes de assumir o cargo de professor do departamento de percussão do prestigioso Berklee College of Music. Mas suas proezas só adquirem caráter quase surreal entre 2002 e 2005, quando estabeleceu cinco recordes na competição “Baterista mais rápido do mundo”. E são justamente as incríveis categorias nas quais se consagrou campeão que explicam sua admissão no Dream Theater: que tal 10.138 batidas executadas sem baquetas, só com as mãos nuas, em 60 segundos? Ou vertiginosas 4.555 batidas se valendo de um único bumbo, em míseros cinco minutos? Convenhamos, o camarada é mesmo um monstro.

ATAQUE


E por ser justamente este monstro que Mangini desta feita conseguiu roubar as atenções no CD Dream Theater. Das nove composições do disco, o baterista só não esteve ativamente envolvido no processo criativo de duas delas. Mais: longe de apenas tocar bateria, ele também formulou arranjos e colaborou em várias interações orquestrais, verdadeiramente elevando o disco a um patamar de qualidade que não era obtido pelo grupo desde Octavarium, de 2005.

Um Leviatã sônico que se ergue contra nossos tímpanos particularmente no ataque pesadíssimo que DT comanda já na introdutória The enemy inside, em jams alongadas a evocar a jamais negada influência recebida pelo Rush (The looking glass, Enigma machine), na balada de luxo Along for the ride e nos cinco segmentos cujos complexos encaixes resultaram nos 22 minutos de duração (!) da suíte progressiva Illumination theory.