

saiba mais
À recente 'Estou triste' – “o lugar mais frio do Rio é o meu quarto” – segue-se a vigorosa 'Odeio', do álbum 'Cê' (2006), em que o poeta se diz velho e feio. A tristeza acaba em samba, a contagiante 'Escapulário'. “Dai-nos senhor a poesia de cada dia”, cantam Caetano e o público, arrebatado pela versão arrasa-quarteirão da Banda Cê para 'Funk melódico'. Rock na veia.
Bom de palco, o setentão Caetano não está ali para conversar. Dança, dá seus pulinhos, brinca de roqueiro e, performático, se joga. Em 'Homem', ele confessa a inveja dos orgasmos múltiplos femininos e se esparrama pelo chão. Faz sutil striptease durante a veterana returbinada 'De noite na cama'. Abre a blusa, mostrando barriga e peito. Bem menos que Ney Matogrosso, é certo, mas o suficiente para ironizar os militantes da ditadura dos sarados, devotos da eterna juventude.
O público o aplaude ao ouvir “cadê o Amarildo?”, mantra cívico que ecoou pelo Brasil durante as manifestações de junho e julho do ano passado. A pressão popular obrigou o governo fluminense a esclarecer o assassinato do pedreiro, acusado de tráfico, mas, na verdade, torturado por PMs na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha. “O império da lei há de vingar”, roga o velho baiano.
Descrente das revoluções, o conterrâneo de Marighella não foge à luta. Há anos Caetano Veloso ocupa seu lugar na arena para brigar por suas convicções – seja para questionar a atuação dos biógrafos no Brasil, defender o diálogo com os black blocs ou denunciar a posição da mídia em relação ao deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) no recente episódio da morte do cinegrafista Santiago Andrade. Zona de conforto, definitivamente, não é a praia deste medalhão da MPB.