Em 1966, o compositor César Guerra-Peixe (1914-1993) visitou o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. Impressionado com o que viu no prédio histórico da Praça Tiradentes, compôs uma peça orquestral, com quatro movimentos, que fez sua estreia em novembro de 1972, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência de Isaac Karabtchevsky. Pois é com a execução de Museu da Inconfidência que a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais abre hoje, no Palácio das Artes, sua programação de 2014. Sua escolha é uma homenagem ao centenário de nascimento do compositor fluminense.
A noite, que terá como convidada a pianista Joyce Yang e ainda traz no programa peças de Mozart e Tchaikovsky, será regida pelo maestro associado Marcos Arakaki. “O primeiro movimento leva o nome de “Entrada”, que é como Guerra-Peixe viu o museu quando o visitou. Já o segundo movimento, “Cadeira de arruar”, remete às liteiras, algo bem desconfortável para quem estava do lado de fora, carregando uma pessoa pelas ruas de Ouro Preto. O terceiro (“Panteão dos inconfidentes”), tem um lado meio mórbido, pois foi onde ele viu os restos mortais de 13 inconfidentes, numa sala que tem o caráter de catacumba. Cabe ao maestro explicar para os músicos como executar essa obra dentro dessa perspectiva”, comenta Arakaki.
Diretor artístico e regente titular da Filarmônica, Fabio Mechetti fala acrescenta: “Guerra-Peixe tem um cunho folclórico bem forte e devido a uma tendência nacionalista, foi muito popular entre os anos 1960 e 1970. Também não é um compositor que tenha muita coisa escrita para orquestra, compôs mais para música de câmara.” Mechetti rege, em 29 de abril, concerto que traz outras duas peças de Guerra-Peixe: Ponteado e Suíte Sinfônica nº 1, “Paulista”
Músicos estrangeiros que integram o corpo da Orquestra Filarmônica admitem que só vieram conhecer a obra de Guerra-Peixe quando se mudaram para o Brasil. “Fora Villa-Lobos, não conhecia nenhum outro brasileiro”, afirma o britânico Mark John Mulley, trombonista principal da filarmônica, que está na orquestra desde sua formação. Chileno, Patricio Hernández Pradenas (tímpano principal), só veio executar suas obras na orquestra mineira. “Museu da Inconfidência tem uma música muito descritiva. Ele tem muita força em sua escrita e também tristeza”, acrescenta ele, que sentiu muito do sentimento passado por Guerra-Peixe quando visitou o museu ouro-pretano.
Canadense, a fagotista principal Catherine Carignan, em BH desde o final de 2008, admite que a formação dos músicos estrangeiros pouco traz da composição erudita brasileira. Daí reside parte da dificuldade em executar suas obras. “Quando nos deparamos com Villa-Lobos, Guerra-Peixe, compositores que utilizaram muitos ritmos brasileiros, temos dificuldade para ler, pois não tivemos contato com as tradição rítmicas do país. A música brasileira não faz parte da formação dos músicos, tanto no Brasil quando no exterior. Precisamos de tempo e calma para apreciá-la.”
Quebra-cabeças
Fabio Mechetti só retorna a Belo Horizonte em 6 de março. Ainda está em Jacksonville, nos EUA, onde desde 1999 (e até junho, quando vence seu contrato) é diretor musical e regente titular da sinfônica daquela cidade da Flórida. Afirma que a programação de 2014 da Filarmônica segue a linha dos anos anteriores. “A ideia é apresentar a maior quantidade de repertório diferente, solistas de renome internacional e outros de uma geração mais jovem”, afirma.
O discurso de Mechetti enfatiza a necessidade da inauguração da Sala Minas Gerais (que será a sede da filarmônica, prevista para ser inaugurada em 2015) para o trabalho desenvolvido atingir o nível da excelência. “Em seis anos, tocamos 700 obras de mais de 200 compositores. Nessa primeira etapa, era importante que a orquestra tivesse contato com um maior número de obras. Agora, o mais importante para nós é a preparação do futuro. Com a nossa própria sala, poderemos reestudar o repertório de maneira mais focada.”
Segundo ele, não ter sua própria sala para ensaios dificulta o trabalho. Somente os dois últimos ensaios antes de cada apresentação são realizados no Grande Teatro do Palácio das Artes; os outros são na sala de ensaio. “As acústicas são muito diferentes, a adaptação é difícil e cerceia um pouco o programa da orquestra.”
A programação que está sendo aberta nesta noite está pronta desde o meio do ano passado. Daqui a três meses ele tem que entregar o programa de 2015. “É um quebra-cabeças complicado. A Orquestra Filarmônica é uma organização social que tem um termo de parceria com o governo do estado. Em troca de tantos e tantos concertos, o governo nos dá certa quantia. Esse termo era feito ano a ano e depois de muito custo conseguimos que ele fosse a cada dois anos. Mas o ideal seria que fosse de três, quatro ou até cinco anos”, explica Mechetti.
O maestro cita como exemplo a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que tem um contrato com o governo de São Paulo renovado a cada cinco anos. “Isso dá mais flexibilidade. Não consigo trazer um nome como o (violoncelista) Yo-Yo Ma antes de 2017. É difícil contratar um artista de renome internacional realmente bom apenas dois anos antes. Mesmo assim, estamos conseguindo trazer solistas apreciados pelos assinantes”, finaliza Mechetti.
Outras homenagens
Alberto Nepomuceno
(17 de abril)
Sob a regência de Marcos Arakaki e com a pianista Anna Malikova como solista convidada, o concerto traz no repertório Sinfonia em sol menor (1893), para celebrar os 150 anos do compositor Alberto Nepomuceno. Nascido em Fortaleza e morto em 1920, no Rio de Janeiro, Nepomuceno é um dos nomes mais importantes do nacionalismo na música erudita brasileira. Flertou também com o modernismo. No entanto, a peça escolhida segue a linha do fim do romantismo europeu, sem influência da música brasileira.
Richard Strauss
(3, 15 e 24 de julho)
Serão três concertos com 10 peças, todos sob a regência de Fabio Mechetti, a homenagear os 150 anos do nascimento do compositor alemão, um dos mais importantes nomes da música entre o final do romantismo e a primeira metade do século 20. No concerto de abertura, com o pianista Arnaldo Cohen como solista convidado, será executada uma peça conhecida (Don Juan)
e outra rara nos repertórios orquestrais (Sinfonia em fá menor, composta na juventude de Strauss). Na segunda noite, com a participação da soprano Adriane Queiroz, um dos destaques é sua última composição, Quatro últimas canções. No fim de julho, as peças terão como destaque a trompa, com o solista Szabolcs Zemplèni.
ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
Terça-feira, às 20h30, no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos: R$ 70 (plateia 1), R$ 54 (plateia 2) e R$ 36 (plateia superior). Meia para estudantes e maiores de 60 anos.
saiba mais
Diretor artístico e regente titular da Filarmônica, Fabio Mechetti fala acrescenta: “Guerra-Peixe tem um cunho folclórico bem forte e devido a uma tendência nacionalista, foi muito popular entre os anos 1960 e 1970. Também não é um compositor que tenha muita coisa escrita para orquestra, compôs mais para música de câmara.” Mechetti rege, em 29 de abril, concerto que traz outras duas peças de Guerra-Peixe: Ponteado e Suíte Sinfônica nº 1, “Paulista”
Músicos estrangeiros que integram o corpo da Orquestra Filarmônica admitem que só vieram conhecer a obra de Guerra-Peixe quando se mudaram para o Brasil. “Fora Villa-Lobos, não conhecia nenhum outro brasileiro”, afirma o britânico Mark John Mulley, trombonista principal da filarmônica, que está na orquestra desde sua formação. Chileno, Patricio Hernández Pradenas (tímpano principal), só veio executar suas obras na orquestra mineira. “Museu da Inconfidência tem uma música muito descritiva. Ele tem muita força em sua escrita e também tristeza”, acrescenta ele, que sentiu muito do sentimento passado por Guerra-Peixe quando visitou o museu ouro-pretano.
Canadense, a fagotista principal Catherine Carignan, em BH desde o final de 2008, admite que a formação dos músicos estrangeiros pouco traz da composição erudita brasileira. Daí reside parte da dificuldade em executar suas obras. “Quando nos deparamos com Villa-Lobos, Guerra-Peixe, compositores que utilizaram muitos ritmos brasileiros, temos dificuldade para ler, pois não tivemos contato com as tradição rítmicas do país. A música brasileira não faz parte da formação dos músicos, tanto no Brasil quando no exterior. Precisamos de tempo e calma para apreciá-la.”
Quebra-cabeças
Fabio Mechetti só retorna a Belo Horizonte em 6 de março. Ainda está em Jacksonville, nos EUA, onde desde 1999 (e até junho, quando vence seu contrato) é diretor musical e regente titular da sinfônica daquela cidade da Flórida. Afirma que a programação de 2014 da Filarmônica segue a linha dos anos anteriores. “A ideia é apresentar a maior quantidade de repertório diferente, solistas de renome internacional e outros de uma geração mais jovem”, afirma.
O discurso de Mechetti enfatiza a necessidade da inauguração da Sala Minas Gerais (que será a sede da filarmônica, prevista para ser inaugurada em 2015) para o trabalho desenvolvido atingir o nível da excelência. “Em seis anos, tocamos 700 obras de mais de 200 compositores. Nessa primeira etapa, era importante que a orquestra tivesse contato com um maior número de obras. Agora, o mais importante para nós é a preparação do futuro. Com a nossa própria sala, poderemos reestudar o repertório de maneira mais focada.”
Segundo ele, não ter sua própria sala para ensaios dificulta o trabalho. Somente os dois últimos ensaios antes de cada apresentação são realizados no Grande Teatro do Palácio das Artes; os outros são na sala de ensaio. “As acústicas são muito diferentes, a adaptação é difícil e cerceia um pouco o programa da orquestra.”
A programação que está sendo aberta nesta noite está pronta desde o meio do ano passado. Daqui a três meses ele tem que entregar o programa de 2015. “É um quebra-cabeças complicado. A Orquestra Filarmônica é uma organização social que tem um termo de parceria com o governo do estado. Em troca de tantos e tantos concertos, o governo nos dá certa quantia. Esse termo era feito ano a ano e depois de muito custo conseguimos que ele fosse a cada dois anos. Mas o ideal seria que fosse de três, quatro ou até cinco anos”, explica Mechetti.
O maestro cita como exemplo a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que tem um contrato com o governo de São Paulo renovado a cada cinco anos. “Isso dá mais flexibilidade. Não consigo trazer um nome como o (violoncelista) Yo-Yo Ma antes de 2017. É difícil contratar um artista de renome internacional realmente bom apenas dois anos antes. Mesmo assim, estamos conseguindo trazer solistas apreciados pelos assinantes”, finaliza Mechetti.
Outras homenagens
Alberto Nepomuceno
(17 de abril)
Sob a regência de Marcos Arakaki e com a pianista Anna Malikova como solista convidada, o concerto traz no repertório Sinfonia em sol menor (1893), para celebrar os 150 anos do compositor Alberto Nepomuceno. Nascido em Fortaleza e morto em 1920, no Rio de Janeiro, Nepomuceno é um dos nomes mais importantes do nacionalismo na música erudita brasileira. Flertou também com o modernismo. No entanto, a peça escolhida segue a linha do fim do romantismo europeu, sem influência da música brasileira.
Richard Strauss
(3, 15 e 24 de julho)
Serão três concertos com 10 peças, todos sob a regência de Fabio Mechetti, a homenagear os 150 anos do nascimento do compositor alemão, um dos mais importantes nomes da música entre o final do romantismo e a primeira metade do século 20. No concerto de abertura, com o pianista Arnaldo Cohen como solista convidado, será executada uma peça conhecida (Don Juan)
e outra rara nos repertórios orquestrais (Sinfonia em fá menor, composta na juventude de Strauss). Na segunda noite, com a participação da soprano Adriane Queiroz, um dos destaques é sua última composição, Quatro últimas canções. No fim de julho, as peças terão como destaque a trompa, com o solista Szabolcs Zemplèni.
ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
Terça-feira, às 20h30, no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos: R$ 70 (plateia 1), R$ 54 (plateia 2) e R$ 36 (plateia superior). Meia para estudantes e maiores de 60 anos.