Aos 23 anos, Alexandre Andrés se destaca no cenário musical pela maturidade de sua obra

O terceiro CD do compositor aprofunda a busca de pontes entre a canção e o instrumental. Músico se apresenta gratuitamente nesta quinta e sexta, no Sesc Palladium

por Eduardo Tristão Girão 20/02/2014 07:00

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Cristina Horta/EM/D.A Press
"Escolhi as pessoas certas. Todo mundo se surpreendeu com um processo tão legal", Alexandre Andrés, cantor, compositor e instrumentista (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
A carreira solo do cantor e compositor belo-horizontino Alexandre Andrés começou com o elogiado disco 'Agualuz' (2009), do qual participaram Monica Salmaso, André Mehmari, Kristoff Silva e Uakti (ele é filho de Artur, o flautista do grupo). Para as canções do segundo CD, 'Macaxeira fields' (2012), o músico manteve a bem-sucedida parceria com o poeta Bernardo Maranhão – recentemente, o álbum ganhou prêmio no Japão. Em 'Olhe bem as montanhas', que terá shows de lançamento nesta quinta e sexta-feira, no Sesc Palladium, Artur também quer mostrar sua faceta instrumental.



















O título foi inspirado na obra homônima do artista plástico mineiro Manfredo de Souzanetto. Criada em 1970, ela deu origem a um adesivo que denunciava a degradação da Serra do Curral, que se tornou popular na capital mineira. Recentemente, Alexandre, de 23 anos, precisou escrever música que tivesse relação com BH. “Pesquisando na internet, encontrei a frase. Inspirei-me nela para criar a melodia que sobe e desce, algo próximo à ideia das montanhas”, explica.

No novo disco, ele manteve a faixa-título em sua forma instrumental. O repertório traz outras três nesse formato, além de cinco canções. A última tem letra curta e parte instrumental longa. Maranhão segue como parceiro, assinando todos os versos. “A ponte entre canção e instrumental começou em 'Macaxeira fields', apesar de esse CD reunir apenas canções. Desta vez, quis algo mais enxuto, pois meu trabalho anterior contou com mais de 30 participações”, revela Andrés.

Para isso, montou um quarteto formado por ele (voz, violão e flauta), Rafael Martini (piano e voz), Pedro Santana (baixo acústico e vocal) e Adriano Goyatá (bateria e glockenspiel). No fim do ano passado, o grupo partiu para o estúdio na fazenda da família de Alexandre, em Entre Rios de Minas, no Campo das Vertentes. “O processo foi bem diferente dos anteriores. Em 'Agualuz', fiz todos os arranjos com meu pai; em 'Macaxeira fields', eles são meus e de parceiros – todos canetados para caramba, com sopros, cordas, vozes. Agora não canetei nada”, explica.

Há um ano trabalhando no repertório de 'Olhe bem...', Alexandre já chegou ao estúdio com temas musicais e letras definidos. A forma final de cada composição surgiu durante os ensaios. “Isso poderia ter dado muito errado, mas escolhi as pessoas certas. Todo mundo se surpreendeu com um processo tão legal. Os arranjos foram criados coletivamente. O trabalho se tornou meu e dos integrantes”, conta.

A aposta no instrumental é consequência do fato de Alexandre integrar o sexteto de Rafael Martini há seis anos. “Naturalmente, trouxe influências desse tipo de música, como compassos mais alternados e liberdade um pouco maior para criar arranjos”, analisa. Em setembro, o jovem mineiro tocou em Nova York, nos Estados Unidos, e as performances dos jazzistas locais o marcaram. A obra do Uakti, obviamente, também inspira o filho do flautista Artur Andrés. O jovem chega a reconhecer elementos do disco 'Águas da Amazônia' em certos momentos de 'Olhe bem as montanhas'.

Papel

As novas letras de Bernardo Maranhão surpreenderam o parceiro. “Ele não escrevia sobre amor de jeito nenhum. Em 'Macaxeira fields', nos abrimos mais a isso, com uma balada sobre o tema. Ele se aproximou do cotidiano, mas com muito sentimento”, observa Alexandre.

Na maioria das vezes, as letras são escritas depois de o poeta escutar as melodias. 'Cara a cara', que abre o novo disco, é exceção à regra. “A escrita do Bernardo é impecável, ele se inspira em ótimos autores. Muito ligado em Guimarães Rosa e haikai, ele é um cara sensível, um dos maiores letristas da atualidade”, elogia. Os dois trabalham juntos desde 2005.

ESTÚDIO

Batizado de Fazenda das Macieiras, o estúdio da família Andrés, em Entre Rios de Minas, tem servido para registrar discos de amigos e parceiros de Alexandre. Motivo, de Rafael Martini, foi concebido lá, bem como Adentro floresta afora, da cantora Leonora Weissmann, e Terra das laranjeiras, de Alexandre, Gustavo Amaral e Luiz Gabriel Lopes. Os dois últimos serão lançados este ano.

Enquanto isso...

Sucesso no Japão

Macaxeira fields continua rendendo frutos a Alexandre Andrés. Além de fazer show de lançamento ao lado de convidados em São Paulo na semana passada, ele acaba de receber uma ótima notícia. O álbum conquistou o 1º lugar na categoria Melhor disco brasileiro do ano em votação promovida pela revista Latino Magazine, no Japão. Votaram jornalistas e o público. Olhe bem as montanhas será também comercializado por lá. A possibilidade de fazer shows no país asiático é discutida por ele com o produtor Yoshihiro Narita, do selo NRT, especializado em MPB.

ALEXANDRE ANDRÉS
Teatro de Bolso do Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3214-5350. Quinta e sexta, 20h. Entrada franca.

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