Com repertório que mescla canções inéditas e regravações, 'Mineiro' reúne a produção autoral de Tavito. Ele revela que quando se apresenta em locais em que o público o desconhece, costuma recorrer a clássicos de carreira para que saibam de quem se trata. Afinal, Tavito é autor de 'Casa no campo', sucesso na voz de Elis' Regina que ele compôs em parceria com Zé Rodrix.
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“Este ano/ Quero paz no meu coração/ Quem quiser ser meu amigo/ Que me dê a mão. O tempo passa/ E com ele caminhamos”, dizem os versos do jingle, uma espécie de hino do réveillon de 1976, em pleno governo Geisel. “A princípio, não gostava de revelar que essa música era minha”, confessa Tavito. Ele próprio era uma das vítimas do horror da ditadura: foi preso e perdeu pessoas próximas. “Já estávamos no período de distensão política. Se não fizesse, outros fariam”, justifica o compositor, autor de outros jingles famosos, como “Vem pra Caixa/ Você também”.
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Dono de um dos maiores acervos publicitários do país, com 3 mil peças entre jingles e trilhas, Tavito migrou para o setor quando interrompeu a carreira artística depois da morte prematura de um irmão. Ele ainda se exercita na área, porém em ambiente caseiro. De 1975 a 1979, na agência Zuruna, ele teve como sócio o compositor Paulo Sérgio Valle. Ivan Lins, Djavan e Mariozinho Rocha trabalharam para a dupla.
“Assim como a música, a publicidade também secou, bombardeada pela banalidade de tecnologia”, acusa Tavito, lamentando o fato de a internet e de outros meios encherem o mundo de pressa. A música é outra vítima, em sua opinião. “As pessoas falam em música de qualidade. Para quem?, já que estamos diante de uma geração inteira sem referência?”, lamenta. E adverte: na civilização contemporânea, tudo leva ao emburrecimento. “O Carlos Careqa tem uma letra que traduz muito bem isso: ‘Por que você quer ser artista?/ Por que você quer ser cantor?/ O campo precisa de gente/ Não tem mais agricultor’”, afirma Tavito.
“Em um mundo de ideologias precárias, a velharada está cansada de tanta remandiola e rebosteio”, lamenta, acrescentando que a juventude ficou “sem ideias definidas”. O CD 'Mineiro' é um sinal de sobrevivência, afirma Tavito. “Ele privilegia coisas muito pessoais, com enfoques de infância e adolescência muito ricas e absolutamente felizes que tive em BH”, confessa.
“A toada com a qual encerro o CD ('Ponto facultativo') é resultado da presença de nossa época. É um lamento de quem perdeu algo precioso”, afirma. Em parceria com Aldir Blanc ele fez um tango ('Sensual'), enquanto 'O último bolero' é assinado com Renato Teixeira. Juca Novaes e Tavito compuseram o samba Adrenalina pura. O amigo e parceiro Zé Rodrix (1947-2009) é resgatado em três faixas: Amor e foguetes, 'Esquematizando esquemas' e 'Coisas pequenas'. O CD tem como convidados as cantoras Renata Pizi e Adriana Dre e o Rossa Nova, grupo de rock rural descoberto por Rodrix. Produção independente, Mineiro será distribuído pela Trattore.
MINEIRO
'Tudo e nada' – De Tavito e Gilvandro Filho
'Parece quase nada' – De Tavito e Alexandre Lemos
'Esquematizando esquemas' – De Tavito e Zé Rodrix
'Está na pele' – De Tavito e Ricardo Magno
'Sábado' – De Fredera
'Amor e foguetes' – De Tavito e Zé Rodrix
'Minha Cinderela' – De Tavito
'Coisas pequenas' – De Tavito e Zé Rodrix
'Na beira da canção' – De Tavito e Luhli
'Adrenalina pura' – De Tavito e Juca Novaes
'O último bolero' – De Tavito e Renato Teixeira
'Sensual' – De Tavito e Aldir Blanc
'Meu lugar' – De Tavito
'Ponto facultativo' – De Tavito e Léo Nogueira