Quem vê a revolução na indústria provocada por 'House of cards' não imagina que as referências do produto audiovisual mais moderninho do momento remontam ao século 15. O rei Ricardo III da Inglaterra (1452–1485), como descrito na peça escrita por William Shakespeare no século seguinte, foi inspiração para o ator escocês Ian Richardson dar vida ao papel de Francis Urquhart, na primeira versão de 'House of cards' (BBC, 1990) para a tevê.
A minissérie, por sua vez, fora inspirada em livro homônimo de Michael Dobbs, ex-integrante do Partido Conservador britânico. Richardson, morto em 2007 aos 72 anos, já falava com a câmera no seriado — estratégia também usada por Kevin Spacey na série americana, para garantir cumplicidade e simpatia do espectador, mesmo para com os mais aterrorizantes estratagemas na busca pelo poder. Evitemos spoilers, mas vale uma espiada para conjecturar sobre o que vem por aí.
NA TRAMA
O original
Michael Dobbs, de 65 anos, autor do livro de 1989 que deu origem à minissérie britânica, começou a carreira política como assessor de Margaret Thatcher e terminou como líder do Partido Conservador.
O rei
Muso do ator escocês que deu vida ao deputado na versão britânica, Ricardo III é retratado em peça de Shakespeare que evidencia elementos importantes da teoria política, como persuasão, virtudes e vícios do príncipe, audácia,
astúcia e dissimulação.
O britânico
A versão britânica foi indicada a 14 prêmios Bafta — o mais importante do Reino Unido.
O pulo do gato
A partir do consumo do público — que vê vários episódios de uma só vez — , o Netflix desenhou a estratégia adotada. Com base nas informações, a empresa descobriu que quem gostava de David Fincher ('Os homens que não amavam as mulheres' e 'A rede social') gostava de Kevin Spacey. O Netflix mostra que não entrou na guerra para perder: uniu os dois, entregou todos os episódios de uma vez e caiu nas graças da audiência.