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"Vi a morte de muito perto", diz Netinho, após assumir uso de anabolizantes

Depois de sérios problemas de saúde, o cantor fala ao Correio sobre a volta à rotina de shows para divulgar novo trabalho

Adriana Izel

"Eu me agarrei à minha crença. À minha fé. Busquei força. Fui desenganado duas vezes, por dois hospitais"
Conhecido por esbanjar alegria, o cantor Netinho ganhou os holofotes no ano passado por um motivo diferente. Em abril de 2013, ele deu entrada no Hospital Aliança, em Salvador, com fortes dores na coxa esquerda. A partir daí, começou a apreensão dos familiares, amigos, fãs e do próprio artista. Por conta da gravidade do quadro, o baiano foi transferido para o Sírio-Libanês, em São Paulo, ficou internado por mais de cinco meses — a maior parte no Centro de Terapia Intensiva (CTI) — e viu a morte de muito perto.


Após o susto, o músico retorna, aos poucos, à rotina. Lançou o disco 'Beats, baladas & balanços — Manual para baladas'; no fim de janeiro, estará de volta aos palcos no carnaval de Salvador embalado pela nova música de trabalho, 'Decolaê'; e começa a escrever o livro 'Nada como viver', com detalhes sobre o período de internação, assunto que Netinho também contou ao Correio em entrevista.

Ele admitiu que o problema de saúde pode ter sido causado pelo uso de esteroides, que eram vendidos pelo médico do cantor. “Até hoje não se sabe o que tive. Provavelmente, uma predisposição a ter tudo isso ou a aceleração de tudo por causa de resíduos de anabolizantes”, afirma. O cantor ainda falou sobre o novo disco, o aumento da fé e a escolha — anos atrás — de deixar o comando da Banda Beijo para apostar na carreira solo, como está fazendo Bell Marques do Chiclete com Banana. “A decisão de sair do grupo e ser apenas Netinho foi muito difícil, pois estávamos no auge da Banda Beijo”, ressalta.

Em 2013, você passou mais de cinco meses internado. Durante o período, especulou-se sobre os motivos e a doença. O que realmente aconteceu?
Nunca tive câncer, nunca tive Aids e não sou careca como muitos insistem em dizer. Todas essas especulações considero normal, pois sou uma pessoa pública e conhecida. Não se sabe exatamente o nome do que tive. Na verdade, foram várias coisas. Em abril de 2013, num ensaio com minha banda em Salvador, senti uma fortíssima dor na coxa esquerda e não consegui mais andar. Fui direto ao hospital. Chegando lá, fui submetido a uma extensa série de exames de todos os tipos à procura de um diagnóstico. Durante esses exames, numa biópsia da coxa e do fígado, sofri complicações, pois meu fígado já estava debilitado. Adquiri infecção generalizada no hospital.

E o que houve a partir daí?
Por causa disso, minha família e meus amigos me transferiram para São Paulo. No Sírio-Libanês, sofri três AVCs, hemorragia cerebral, hidrocefalia (acúmulo de líquidos no cérebro), perdi a fala, tive trombose na perna e no braço, e diplopia (visão dupla). Quase morri. Até hoje não se sabe o que tive. Provavelmente, uma predisposição a ter tudo isso ou a aceleração de tudo por causa de resíduos de anabolizantes, que tomei nos verões de 2009 e de 2010. Tomei receitado por um médico em São Paulo, considerado o melhor endocrinologista da cidade. Apesar de saber dos prejuízos que essas substâncias podiam trazer, confiei no fato de estar acompanhado por um especialista e de tudo ter sido receitado e vendido por ele mesmo. Graças a Deus, aos médicos e às orações que muitos fãs e amigos fizeram, sobrevivi. Agradeço muito.

Ao que você se agarrou para manter a força e lutar contra a doença?
Agarrei-me à minha crença. À minha fé. Busquei força. Fui desenganado duas vezes, por dois hospitais. Vi a morte de muito perto. E digo: o que passei não é para qualquer um. Tive a sorte de ter condições de ir para um ótimo hospital. Sei que quem não tem esta sorte, nem um bom plano de saúde ou dinheiro, simplesmente morre neste país que não oferece uma digna saúde pública.