
Vítima de complicações no sistema circulatório aos 75 anos, a líder comunitária e presidente do grupo Meninas de Sinhá deixou como parte de seu extenso legado o trabalho musical que segue coordenado pelo neto, Felipe Cordeiro, sempre ao segundo domingo de cada mês. "Queremos relembrar um pouco de tanto que ela já fez por nós", afirma o músico sobre as homenagens preparadas para este fim de semana em tributo à avó.
Ele ressalta que Valdete foi a maior incentivadora do Sambalto, ainda em 2008, quando a iniciativa era um projeto de estudantes que ocupavam a Escola Municipal Israel Pinheiro (Emip) aos domingos. "Ela era muito amiga da diretora da escola, eu era aluno e atuava pelo programa Escola Aberta, que abre o espaço para a comunidade aos fins de semana", recorda Felipe.
"Tínhamos um dia vago, aos domingos, em que nada acontecia na comunidade. Minha avó sabia do meu gosto pela música e me deu a ideia de unir o útil ao agradável, em parceria com a direção da escola", relata o neto de Valdete, que ainda aponta o apoio de Ramon Izidoro, ex-aluno da Emip e coordenador do Escola Aberta, como um dos fatores decisivos na consolidação do Sambalto.
Sambalto há 5 anos
As edições mais recentes do projeto reuniram, de acordo com a organização, entre 1,5 mil e 2 mil pessoas. "Com o tempo o número de pessoas foi aumentando, a comunidade foi aderindo, acabou virando um encontro de amigos. Tomou uma proporção tão grande que tivemos que ir para a rua", explica Felipe.

Também foi ideia de Dona Valdete a gravação de DVD e CD do Sambalto, que serão lançados neste domingo. "Ela incentivou para que a gente gravasse o DVD, ainda que fosse em formato demo", explica o neto. No registro, o grupo conta com a formação de Leandro Camilo, Manu Dias, Felipe Cordeiro, Erick, Teco, Andinho Santo, Betinho, Farley Lino e Tico. Com início marcado para as 14h, o encontro de moradores e músicos tem entrada franca.
Um dos destaques na homenagem à madrinha do Sambalto ficará por conta das Meninas de Sinhá, convidadas especiais da edição. Fundado por Valdete há quase 25 anos, o grupo formado inicialmente por donas de casa do Alto Vera Cruz se dedica à integração de participantes na vida da comunidade, através da interpretação de cantigas de roda e exercícios de expressão corporal. "Elas vão cantar cinco músicas com a gente", adianta Felipe Cordeiro. "Uma delas é 'Xô tristeza', que Efigênia Lopes, integrante do grupo, compôs para minha avó", anuncia o músico.
Em duas décadas de atuação, as Meninas de Sinhá gravaram dois álbuns em estúdio — o primeiro, 'Tá caindo fulô' (2007), foi declarado patrimônio cultural pelo Ministério da Cultura — e participaram de diversos festivais sobre inclusão sociocultural, inclusive fora do Brasil. No último mês de dezembro, o grupo preparava a gravação do primeiro DVD, mas o processo foi interrompido pelo agravamento dos problemas de saúde de Dona Valdete. Internada em 3 de janeiro no Hospital Risoleta Neves, na capital, a líder comunitária morreu no dia 14 e deixou marido, quatro filhos, 16 netos e quatro bisnetos.
Sambalto - roda de samba no Alto Vera Cruz
Domingo, 9 de fevereiro, de 14h às 18h30. Participação das Meninas de Sinhá. Rua Itaipu, 836 (esquina com a Rua Tebas). Entrada franca. Informações pela página oficial do evento no Facebook.