Violeiro português Pedro Mestre se une ao mineiro Chico Lobo em DVD

Encontro que mescla as violas campaniça e caipira e desperta para a história do Brasil e de Portugal

por Eduardo Tristão Girão 02/02/2014 00:13

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Cineviola Filmes/Divulgação
Pedro Mestre e Chico Lobo lançam o DVD 'De Minas ao Alentejo', que em Portugal terá nome invertido (foto: Cineviola Filmes/Divulgação )

Quando se conheceram, em 2006, o mineiro Chico Lobo e o português Pedro Mestre promoveram encontro então inédito de suas violas tradicionais, a caipira e a campaniça, respectivamente. De lá para cá, os dois fizeram disco, shows, oficinas e palestras sobre o tema. O interesse no instrumento luso, que andava esquecido, aumentou significativamente e novas possibilidades foram abertas para o brasileiro, que despertou curiosidade no país europeu. Celebrando isso, lançam o DVD De Minas ao Alentejo.

Além de 13 faixas gravadas ao vivo no Rio de Janeiro (músicas de Chico e de domínio público português), o DVD conta com documentário de 52 minutos. Rodado em Minas Gerais e no Alentejo, o filme compara as duas culturas violeiras a partir dos pontos de vista dos dois artistas, com a participação de representantes locais de cada tradição, professores, luthiers e especialistas. Um registro importante para a compreensão da origem da viola caipira.

“Pedro era um jovem de 22 anos quando o conheci em Portugal, mas que já trazia bagagem imensa no gosto das tradições portuguesas. Nosso ponto de convergência foi a paixão dele pela campaniça, uma viola do campo, quase extinta e que ele aprendeu a tocar e a construir com os últimos mestres, e a minha paixão pela caipira e o interesse de reconhecer nossa história. Conversamos por mais de três horas naquele dia”, lembra Lobo, que tinha show marcado para o dia seguinte em Serpa, no Alentejo.


Mestre apareceu por lá para assistir à apresentação com sua viola. “Convidei-o para subir ao palco e improvisamos juntos. Foi uma emoção e um impacto para os presentes no Espaço Nora, nas muralhas de um castelo, que estava lotado”, relembra o mineiro. Três meses depois, o português veio ao Brasil para fazer alguns shows com Lobo. Ficou hospedado 15 dias na casa dele, o que fortaleceu a amizade entre os dois. A partir daí, iniciaram parceria em atividade até hoje, registrada no disco Encontro de violas (2007).

AGENDA Empenhados, os dois preparam-se para o lançamento do DVD em Portugal (1 mil cópias), onde terá o nome invertido, Do Alentejo a Minas, e apoio da Câmara Municipal de Castro Verde (onde nasceu Mestre). Os shows por lá ainda não têm data definida, mas serão realizados em março ou abril. Em 11 de junho, será a vez de o português retornar a Belo Horizonte para show de lançamento do DVD, no Crea Cultural. Aliás, a dupla já tem músicas novas para gravar outro disco.

 “Temos também o desejo de trazer ao Brasil o Encontro de Violas de Arame, extensão de nosso encontro. Já aconteceu por quatro vezes em Portugal, juntando outras violas portuguesas, como a braguesa, a beiroa, a da terra, que é dos Açores, e a madeirense, da Ilha da Madeira, às nossas violas caipira e campaniça”, conta Lobo. No momento, ele prepara show de lançamento de seu disco mais recente, 3 Brasis, com o violoncelista Márcio Malard e o clarinetista Paulo Sérgio Santos. Mestre também está em estúdio.

Três perguntas para...

Chico Lobo
violeiro e compositor

É possível falar em algum tipo de impacto da viola caipira na cena de viola campaniça em Portugal? E no caso oposto?
Sim, com certeza. Pedro Mestre define bem no DVD: ‘Se a viola caipira ganhou com esse encontro, a viola campaniça ganhou muito mais’. A campaniça ganhou em popularidade, a imprensa despertou para esse importante instrumento na cultura do Alentejo; os jovens passaram a se interessar em aprender a tocá-la. Pedro, inclusive, abriu uma produtora para se profissionalizar. Para a caipira, um mercado de trabalho se abre em Portugal, onde começa a surgir interesse em conhecer esse instrumento que se originou das violas de lá. As vindas de Pedro ao Brasil incentivaram violeiros a se aprofundar no reconhecimento da origem histórica da viola. A presença dele em alguns projetos sociais que desenvolvo ajudou a incentivar senso crítico e desejo de aprender viola caipira em jovens.

Os músicos portugueses costumam conhecer a viola caipira? Qual é reação deles ao vê-la e ouvi-la?
Muitos portugueses têm viola caipira e procuram aprender a tocá-la. Desde meu primeiro concerto lá, a emoção e a admiração pelo som dela e pela forma de tocar foi uma coisa maravilhosa. Nossa música é muito admirada lá, e eles reconhecerem a viola caipira com toda a sua riqueza despertou muito interesse. Depois de várias idas (incluindo as ilhas da Madeira e dos Açores) com concertos e a presença da viola caipira em jornais e na TV portuguesa, hoje ela é instrumento admirado. Da mesma forma, alguns violeiros aqui no Brasil quiseram aprender a tocar a campaniça. Aliás, um luthier do interior de São Paulo, Luciano Queiroz, construiu duas campaniças. Uma está comigo, outra com Pedro.

Como anda a popularidade da viola campaniça em Portugal hoje, já que ela estava meio esquecida?
Quando assistimos ao documentário pela primeira vez, minha esposa e produtora, Ângela Lopes, encheu os olhos d’água e disse que, quando fomos a primeira vez a Portugal, eram dois os últimos mestres, além de Pedro tocando. Passado esse tempo, são muitos jovens estudando a viola e, inclusive, aprendendo a construí-la. Isso enche a gente de alegria, emoção e esperança, traz a certeza de que o caminho escolhido foi o certo. Hoje, a campaniça é uma realidade, ganhou em popularidade e está mais viva do que nunca. Isso não é só graças ao nosso encontro, mas também às ações de Castro Verde, município preocupado em preservar e divulgar a viola campaniça.

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