Musica

Com letras de conteúdo e homenagem aos mestres do samba, Cesinha Pivetta lança o primeiro CD

Fã de Adoniran Barbosa, o jovem cantor e compositor é fruto da animada cena paulistana

Walter Sebastião

O cantor e compositor Cesinha Pivetta afirma que 'Nossa bandeira' é um disco político
O paulista Cesinha Pivetta, de 28 anos, chega ao primeiro disco depois de dedicar praticamente toda a sua vida ao samba. O CD Nossa bandeira traz composições dele e de parceiros – entre elas, Baquetas em pedaços (2003), composta na adolescência. Os mestres também comparecem: o repertório conta com Lamento de uma raça, composição inédita de Candeia e Waldir 59, de 87, sênior da ala de compositores da Portela.


“Nossa bandeira é a luta do povo por liberdade e igualdade. Ainda somos um país com muita discrepância social”, afirma Cezinha. “Arte e música, por si só, são transformadoras. Nesse sentido, esse é um disco político”, explica. O título remete também ao gosto do cantor de reunir pessoas, autores e trabalhos coletivos.

Assinada por Cesinha e pelo violonista Marron Santos, a produção teve um cuidado especial: buscar conteúdo. Essa atitude vai na contramão de letras que têm cada vez menos história para contar, de acordo com o artista. “Elas são praticamente onomatopeias”, lamenta. A dupla optou por um bandolim bem marcado. “O instrumento faz parte da nossa música. Precisamos popularizá-lo de modo que não se torne exclusividade dos eruditos”, defende Cesinha.

Nascido e criado na região da Bela Vista e do Bixiga, berço do samba paulistano, reduto de Adoniran Barbosa e da escola Vai Vai, Pivetta é filho da cantora e atriz Márcia Moraes e do dramaturgo César Vieira, criador do Teatro Popular União de Olho Vivo. Logo cedo ele já estava no palco interpretando o menino Adoniran Barbosa. “Aprendi tudo sobre ele e me encantei”, recorda. Batuqueiros amigos de seu pai, Mestre Pelão (“que fez o primeiro disco de Cartola”) e Plínio Marcos estimularam o gosto do menino pelo samba.

Cesinha Pivetta admira os compositores Adoniran Barbosa, Batatinha e Paulinho da Viola. O primeiro pela crônica da vida popular; o baiano pela beleza e melancolia das melodias; e o carioca por sua integridade e respeito ao ofício. “Paulinho da Viola é um gênio, tem samba na veia. Ele é quase a mistura de Noel Rosa e Cartola, se isso fosse possível”, brinca. Gravado ao vivo, 'Nossa bandeira' traz Waldir 59 como convidado especial.

Três perguntas para

 

Cesinha Pivetta
Cantor e compositor

Como vai o samba em São Paulo?
Temos dezenas de comunidades: Sambas da Vela, da Feira e do Bule; Toca do Samba; Batalhão da Vagabundagem; e Pagode da 27, entre outras. Todas estão nas mídias sociais. Mais que roda de samba, o encontro de centenas de pessoas, sem vaidade ou bairrismo, reverencia mestres e incentiva novos compositores, essenciais para dar identidade à produção paulista.

Como você avalia esse movimento?

Ele faz com que fãs de outros gêneros se interessem pelo samba, além de aguçar os mais jovens a conhecer mais o assunto. São alternativas de lazer e cultura a baixo custo e com muitas opões. Você encontra partideiros e autores em cada esquina de São Paulo. Luiz Carlos Micharia, por exemplo, é morador de rua e um baita compositor.

Quem já tem disco e merece ser ouvido com atenção?
Guilherme Lacerda, Emerson Urso, Adriana Moreira, Flávia Oliveira, Fabiana Cozza e Pagode da 27. Essa nova geração está batalhando, suando a camisa. A rapaziada traz várias vertentes: do samba-canção, gênero hoje pouco ouvido, ao samba de terreiro. É legal cultivarem o partido-alto, o verso de improviso feito no momento. O Eugênio Gudin nos dá alicerce. Ele tem um bar e abre espaço para nós tocarmos.