Musica

Érika Martins lança disco inspirado em músicas tradicionais portuguesas

Intitulado 'Modinhas', álbum é uma homenagem ao pai da cantora, nascido na Terrinha

Ailton Magioli

''A modinha influenciou o trabalho de várias artistas'', diz Érika
Quando gravava 'Modinhas' (Coqueiro Verde), Érika Martins já imaginava que este seria o seu melhor disco. “Estava cercada de gente legal, que só somou”, afirma a ex-vocalista do grupo Penélope, cujo segundo trabalho solo chama a atenção tanto pelo reconhecido talento da cantora quanto, principalmente, pelo conceito.


Filha de pai português, que morreu há quatro meses, Érika dedica o álbum a ele – do repertório, que remete ao gênero musical de origem lusitana, à capa ilustrada com o famoso lenço dos namorados, bordado característico do Norte de Portugal. Tudo soa verdadeiro em 'Modinhas', gravado por sugestão de Constância, colega da banda Penélope.

Depois do conselho da amiga, Érika leu 'Policarpo Quaresma', de Lima Barreto, que cita a primeira música civilizada brasileira, não por acaso uma modinha, originada da canção típica do folclore português, que ganhou adeptos do porte do maestro Heitor Villa-Lobos.

O repertório traz 'Modinha' (Serestas – Peça nº5), parceria de Villa-Lobos e Manuel Bandeira modernizada por Érika, que atualiza também clássicos como 'Ganas de volar', versão em espanhol do 'Prelúdio pra ninar gente grande' (Menino passarinho), de Luiz Vieira; 'Modinha – A rosa', de Sérgio Bittencourt, filho de Jacob do Bandolim; e 'Casinha pequenina', de autor desconhecido.

De lavra própria da cantora, 'Memorabilia' foi o ponto de partida para a (re) leitura contemporânea do gênero musical que conquistou fãs no Brasil a partir do século 18. São inéditas 'Fundidos', de Botika Botikay; 'A Curi', de Tom Zé e Elifas Andreato; 'Garota interrompida', parceria de Érika com Luisão Pereira; 'Rolo compressor', de Pedro Veríssimo e Fernando Aranha, e 'Vien ici', do francês Ramy Mustakin em parceria com Felipe Rodarte, produtor do disco.

Pesquisa
As novas modinhas chegam para provar que há espaço, sim, para a releitura de gêneros musicais centenários. A pesquisa do repertório foi difícil, diante da ausência de material. “São poucas regravações. Se erudita, é rebuscada”, critica Érika Martins. “A modinha influenciou o trabalho de vários artistas”, ressalta a cantora, que descobriu pérolas como Menino passarinho via internet. Como gosta de lembrar, Marcelo Jeneci (de quem gravou Dar-te-ei, parceria com José Miguel Wisnik), Verônica Pessoa e Helder Lopes têm tudo a ver com a modinha.

Como o disco é produto de financiamento coletivo, Érika tem certeza da aprovação dos fãs, que entraram de cabeça no projeto e viabilizaram sua gravação. “Não sou nada sem eles, todos muito carinhosos comigo. O disco é uma parceria, as pessoas se sentem parte da história”, diz.

Depois do primeiro teste na temporada europeia – ela se apresentou também em Portugal –, em março Érika vai estrear a turnê de lançamento em São Paulo. “O pacote das modinhas é a minha cara. É a minha memória afetiva de infância”, conclui, empolgada.