O MC belo-horizontino Douglas Din foi o vencedor das duas últimas edições do Duelo de MCs Nacional. Resultado expressivo e que não fez com que ele “deitasse na cama”. Usou boa parte do dinheiro que ganhou nessas premiações para concluir 'Causa mor', seu primeiro disco, que teve produção de Sérgio Giffoni (com DJ Cost) e participações do coletivo Família de Rua (que organiza o Duelo) e dos MCs Matéria Prima, Demorô e Vinicin. Ele e toda essa turma subirão ao palco do Teatro Oi Futuro Klaus Vianna, em BH, neste sábado, para colocar à prova o novo repertório.
“Quando pensei nesse disco, havia imaginado algo misto, sem temática central. Um jogo de palavras com a temática variando. Quando o Giffoni começou a mexer na parte instrumental, escrevi uma letra sobre educação infantil. Acredito que somos mais educados pelos exemplos que temos do que pelo sistema educacional que está por aí. Inclusive, já vi muito pai levando filho ao Duelo de MCs”, conta Din, que tem 23 anos e mora no Aglomerado da Serra, na Zona Sul da capital mineira. Assim nasceu 'Causa mor', a canção que deu nome ao seu álbum de estreia e lhe serviu de pilar.
Triste por ter precisado vender seu cavaquinho, o jovem artista também toca violão, mas limitou sua ação às letras e ao microfone para a gravação do disco. “Nunca fui muito a fundo com os instrumentos”, confessa. Vontade não falta e ele também gostaria de arranjar mais tempo para se dedicar aos livros – o último que leu foi 'A elegância do ouriço', de Muriel Barbery. “Ando em falta com a leitura. Já li 'A arte da guerra', de Sun Tzu, e também sobre neurolinguística, psicologia e autoajuda, que é básico para sair da fossa”, conta.
Ele reconhece que tudo isso é de extrema importância para um bom desempenho na vertente conhecida como free style, na qual o MC improvisa para criar na hora os seus versos. Para ele, essa forma de expressão tem ajudado a atrair cada vez mais pessoas aos eventos ligados ao rap e ao hip-hop. “O free style roubou a cena e faz total diferença. As pessoas se aproximam mais e passam a querer fazer parte daquilo quando você fala da pessoa que está de camisa vermelha na plateia, por exemplo. É uma forma de convidá-las”, analisa o artista.
Radar
Outra mudança significativa na opinião dele é que em Belo Horizonte tem sido possível integrar o rap a outros gêneros musicais. Ele cita como exemplo a cena instrumental da cidade. “Isso é muito legal. Algumas pessoas do rap ainda não recebem isso de forma boa, mas a maioria gosta muito”, conta Din. Essa abertura a outras influências, continua, é essencial não apenas aos adeptos da renovação musical do rap, mas também para aumentar as chances de entrar no radar de quem ainda não presta tanta atenção ao gênero.
Em matéria de instrumentistas, o disco contou com a participação de apenas um guitarrista, Helder Araújo, na faixa 'Amizade'. Ele pensa em ampliar a participação de músicos em seus próximos trabalhos, embora com algum limite: “Comecei fazendo rap cru, com batida quadrada e sampleado, e gosto desse jeito. Conheço vários músicos que topariam participar de trabalhos meus para que eu possa explorar isso”.
Não por acaso, inspirado pelo que ouvia em casa quando criança e pelos elogios que recebeu ao cantar (sem a impostação do rap) no Festival de Arte Negra, ano passado, Din quer gravar um samba quando voltar ao estúdio para produzir o segundo disco. “Ideia não falta. Falta é dinheiro”, diz. Viver de música é complicado, mas ele abandonou emprego com carteira assinada para poder se dedicar à carreira artística. Acostumado a tocar fora de BH, quer rodar pelo Brasil, mas sem deixar de marcar presença no Duelo de MCs. “Confio no evento e nele exerço minha arte”, completa.
Hio-hop à luz do sol
ltará a ser realizado mês que vem, mantido sob o Viaduto Santa Tereza, no Centro de Belo Horizonte. A exemplo das últimas quatro edições do ano passado, continuará sendo realizado quinzenalmente, aos domingos, às 14h (com término previsto para 19h).
“Ano passado, demos uma parada de uns quatro meses porque estávamos cansados do clima de sexta à noite. Estava tomando um rumo que não queríamos. Houve desentendimento com o poder público e houve gente ocupando o espaço para consumir droga. Tentamos várias articulações, mas que a galera não abraçou. Paramos para repensar”, explica Pedro Valentim, integrante do Família de Rua, que organiza o evento.
Ainda é cedo para avaliar se essa mudança surtiu mesmo o efeito desejado, mas Valentim já observou alteração no perfil do público presente. “O clima é outro e a luz do sol dá outra condição para a ocupação do espaço. Há presença de famílias e crianças e outras pessoas foram chegando”, conta. Ele calcula que cada edição atraia entre 1 mil e 1,5 mil pessoas – em dias de duelo nacional, esse número pode triplicar.