Eles não estavam exatamente em grande forma. Lou Reed, fora do Velvet Underground, questionava até mesmo se queria continuar fazendo música. Pensava sem pressa sobre o futuro na casa dos pais, em Long Island, trabalhando na empresa de contabilidade da família. Iggy Pop já tinha enfiado o pé na jaca vezes a perder de vista. E Os Stooges não tinham passado de uma promessa. A banda havia implodido há pouco e ele, sem muito o que fazer, afundava na heroína. E David Bowie, a despeito de planos de sucesso e uma veia prolífica para a composição, ainda não tinha conseguido sair do lugar.
saiba mais
-
Lady Gaga abrirá museu com acessórios de Michael Jackson
-
Billie Joe, do Green Day, e Norah Jones se unem no disco 'Everly Brothers'
-
Coachella 2014 divulga atrações; OutKast, Muse e Arcade Fire são os headliners
-
David Bowie divulga faixa 'Tis a pity she was a whore', inspirada na Primeira Guerra Mundial
-
Cher, Rita Lee e David Bowie: relembre artistas que já ameaçaram aposentadoria, mas voltaram atrás
Parcerias
Bowie produziu Transformer em 1972, primeiro álbum solo de Reed e aquele que determinou as bases de sua carreira. Também levou Iggy para a Inglaterra, se esforçou para que os Stooges voltassem a se reunir, resultando em seu terceiro álbum, 'Raw power', mixado pelo próprio Bowie. O reconhecimento de público que ele tanto almejava também chegou no mesmo período, com o fundamental 'The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars'. O glitter rock tinha agora seu protagonista, e o punk rock os atores ideais para que pudesse florescer.
Tudo isso está retratado na obra de Thompson. Mas o que faz a narrativa crescer é o entorno, com personagens secundários que foram essenciais para os protagonistas. É clara uma certa preferência do autor pela figura de Lou Reed, que ganha a primeira parte da história. O nascimento do Velvet Underground e o cenário de excessos da Nova York da segunda metade da década de 1960 têm duas figuras de destaque. A começar pela modelo alemã Nico, que gravou com o Velvet Underground o clássico álbum “da banana”, é uma espécie de Pattie Boyd da era glam. A exemplo da loura que se dividiu entre George Harrison e Eric Clapton, Nico namorou Reed (que nunca deu muita bola para ela) e Iggy, bem como Jim Morrison e Alain Delon.
Andy Warhol, catalisador de todas essas figuras, permeia boa parte da história. Com a Factory, que serviu como cenário para que o Velvet Underground florescesse, e toda cena alternativa nova-iorquina a seu dispor, o artista tem passagens impagáveis no livro. Uma das melhores é do primeiro encontro dele com Bowie. Nervoso, o britânico chegou sem saber o que dizer para o artista, que mais ouvia do que falava. Mostrou a ele a canção feita em sua homenagem, 'Andy Warhol' (gravada em 1971). Andy odiou, causando constrangimento a Bowie, que, no entanto, lhe chamou a atenção pelos sapatos amarelos, muito elogiados. Foi o único diálogo que os dois tiveram naquela ocasião.
A narrativa continua explorando esse universo de androginia, sexo, purpurina, álcool, maquiagem, drogas. A maneira como o autor cruza as histórias faz um retrato irretocável da época, 40 anos depois. Com a cultura dos excessos, o rock nunca mais foi o mesmo.
Exposição do camaleão está chegando ao Brasil
Apresentada entre março e agosto do ano passado no Victoria & Albert Museum ( V&A), em Londres, a mostra depois foi para Toronto (Canadá) e chega a São Paulo no fim deste mês. Após a bem-sucedida experiência com Stanley Kubrick, exposição terminada ontem que fez o Museu da Imagem e do Som receber, pela primeira vez, extensas filas de visitantes, a mesma instituição abre dia 31 a mostra organizada pelo V&A, que criou a retrospectiva com os arquivos do próprio músico. O barulho na Inglaterra foi significativo: 40 mil ingressos foram vendidos antecipadamente, um recorde dos museus britânicos.
Por aqui os ingressos também estão à venda. A exposição, que no Brasil vai se chamar apenas David Bowie, terá cerca de 300 itens, incluindo manuscritos de letras e figurinos originais. Estarão na mostra, que ficará em cartaz em São Paulo até 20 de abril, o macacão em vinil e a bota plataforma que Bowie usou na turnê de 'Aladdin Sane'; o terno com que aparece no curta 'Life on Mars'? e a calça e jaqueta feitas para 'Ziggy Stardust'. No material iconográfico está a foto feita para a banda The Kon-rads, quando Bowie tinha 16 anos, além de uma imagem dele com o escritor William Burroughs.
A Cosac Naify já colocou em pré-venda em seu site o livro da exposição, editado pelo MIS a partir da edição original inglesa. Além das imagens que serão vistas na exposição, a obra apresenta a trajetória de Bowie e ensaios sobre música, cinema e comportamento.
DAVID BOWIE
Abertura dia 31, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Os ingressos custam R$ 25 já podem ser adquiridos pelo site ingressorapido.com.br. O livro David Bowie (R$ 119,90) está em pré-venda no site editora.cosacnaify.com.br.