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“O funk é o estilo musical mais popular no YouTube. Os vídeos quase sempre viram fenômenos”, observa Flávio Saturnino, criador do portal Popline, exemplificando com as garotas do Bonde das Maravilhas, que, no ano passado, com o hit “quadradinho de oito”, angariaram mais de 10 milhões de internautas. Com esse dado nas mãos, Saturnino acredita que a questão, no caso de Valesca Popozuda, esbarra mais no conceito de viralização (que é quando um produto vira sucesso de massa na web) do que propriamente em planejamento. “Acho que ela vai colher bons frutos, embora não tenha grande espaço na mídia”, arremata.
'Beijinho no ombro', postado no último dia 27, pode até não ter tido estratégia de marketing robusta, mas sua produção consumiu R$ 437 mil. A cifra, muito acima dos valores de mercado para projetos do tipo, foi bancada por Valesca e pelo empresário da moça, Leandro Pardal. A visibilidade gera mais convite para shows, e esse é o objetivo da dupla. “Se eu não investir em clipe, mudar o jeito de ela se vestir e tratá-la como uma grande artista, ela vai ficar para trás”, pondera Pardal. Em termos comparativos, o hit 'Show das poderosas', de Anitta, teve o vídeo avaliado em R$ 100 mil.
Na estrada há pouco mais de uma década, Valesca consegue viver bem com o cachês de suas apresentações. Com a agenda sempre cheia, faz shows em bailes funk, boates gays, festas de formatura e até faculdades. “Valesca tem um mercado muito grande a ser conquistado. O que falta a ela é estrutura, mas o trabalho, em si, é profissional”, acredita Flávio Saturnino.
Como o gênero da funkeira carioca começou a atingir outros segmentos sociais, a música dela também sofreu alterações. Os palavrões e as letras explícitas dos tempos da Gaiola das Popozudas, que Valesca liderou até o ano passado, perderam vez.
A temática de 'Beijinho no ombro' esbarra na de 'Show das poderosas'. Enquanto Popozuda deseja “a todas as inimigas vida longa”, para que elas vejam sua vitória, a segunda “afronta as fogosas” com sua dança sensual, que deixa os homens “babando”. Esses funks “para toda a família” em nada se parece com os proibidões que dominaram o estilo de outrora.
“Nunca me faltou trabalho”, diz Valesca, “mas eu sonho com uma gravadora, sim. Todo artista quer. Quem falar que não está mentindo”. Segundo Pardal, existem hoje cerca de 15 artistas, independentes ou não, que conseguem viver de shows de funk. Popozuda, para o orgulho dele, é uma delas. “O funk está começando a sair do amadorismo. Isso é bom, claro, mas, enquanto empresário, também me traz novos desafios. Eu não posso apenas colocar uma música no YouTube. É preciso investir muito mais para conseguir algum retorno.”
Rainha
Gravado no Castelo de Itaipava, na região serrana do Rio, o clipe traz Valesca interpretando várias rainhas e fazendo alusão a divas do mundo pop. Até um tigre foi usado em uma sequência. “O Pardal não mediu esforços, fez uma produção do c… mesmo. Era um sonho. Agora, quero um DVD no estilo Beyoncé”, diz a funkeira. “Eu não imaginei que teria esse tanto de visualizações, ainda mais no período de recesso. Até quem não curte funk diz que ficou encantando com o clipe.”
Apenas o “aluguel” do tigre custou cerca de R$ 130 mil. Além de veterinários à disposição, Valesca passou alguns dias em treinamento para perder o medo do animal. Quarenta bailarinos foram convocados para o filme. A produção ficou impecável para os padrões de uma funkeira independente. As musas que Popozuda admira certamente iriam se divertir com as cenas. “Acho que a Valesca é bem esperta nesse quesito: percebeu a carência de divas pop no cenário nacional e tentou suprir esse perfil”, diz Flávio Saturnino.
O próximo videoclipe de Valesca será parcialmente gravado em Brasília, em fevereiro. A música é 'Tá pra nascer homem que vai mandar em mim', que adentra a questão da violência doméstica contra a mulher. Esta semana, o canal da moça no YouTube divulgará o making of de Beijinho no ombro.
Análise da notícia
É pop ou não é?
» LUIZ PRISCO
Nos últimos anos, o sertanejo universitário virou o produto de exportação da música brasileira. No entanto, o público “gringo” do estilo é dividido entre brasileiros que moram no exterior e estrangeiros que buscam uma coisa exótica da cultura nacional. Agora é a vez do funk, em roupagem mais comercial, mirar o mercado internacional, mas com uma estratégia diferente: a adoção da estética do pop.
Anitta, que foi apontada pela Forbes como uma das candidatas a bombar lá fora, anunciou um remix do hit 'Show das poderosas' junto do rapper Pitbull, que já gravou com nomes como Jennifer Lopez, Shakira e Enrique Iglesias.
No clipe de 'Beijinho no ombro', Valesca Popozuda se inspirou em Katy Perry, Lady Gaga e Beyoncé — inclusive, a funkeira esteve no show da cantora em Brasília, ano passado. Mais um dado que aproxima o funk do pop internacional.
Assista ao clipe de 'Beijinho no ombro', de Valesca Popozuda: