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Corpo de Nelson Ned é cremado em cemitério na Grande São Paulo
Veja fotos do velório de Nelson Ned
Em 2003, o cantor e compositor havia sofrido um AVC. Perdeu a visão de um olho e precisava se locomover em cadeira de rodas. Tinha diabetes, hipertensão e foi diagnosticado com mal de Alzheimer em fase inicial. O corpo será cremado hoje no Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Região Metropolitana de São Paulo.
O jornalista Paulo César Araújo, autor do livro 'Eu não sou cachorro não', afirmou que Nelson Ned era sagaz em relação ao mercado fonográfico. “Ele tinha visão crítica e lúcida com relação ao contexto da música. No Brasil, sempre fez muito sucesso entre as camadas mais populares, mas não dá dúvida de que seu reconhecimento e prestígio foram muito maiores no exterior.”
Do ator Paulo Gracindo o cantor mineiro ganhou o apelido que o consagraria: Pequeno Gigante da Canção. “O começo foi muito difícil para mim, pois o Brasil estava acostumado a só ver anão fazendo show em circo ou pegando alguma ponta em programa humorístico de televisão. Foi muito difícil provar às pessoas que sou pequeno e canto bem, assim como o Ray Charles e o Stevie Wonder são cegos e também cantam”, afirmou Nelson em sua autobiografia, O pequeno gigante da canção. Ele gravou 32 discos. Era ídolo no México, Colômbia, Argentina, Espanha, Portugal, Angola, Luanda e Moçambique, entre outros países. 'Tudo passará' teve 40 regravações em vários idiomas.
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Nos anos 1960, Nelson Ned morava com a família em BH, vindo de Ubá. Apresentou-se em programas de auditório nas rádios Guarani e Inconfidência e na TV Itacolomi. Em 1963, mudou-se para o Rio de Janeiro. Peregrinou por rádios, TVs e gravadoras, contou com o empenho de Chacrinha para divulgar seu trabalho até estourar com 'Tudo passará' em 1968.
No Brasil, o mineiro fazia sucesso no programa do Chacrinha e nas rádios populares. Era tratado com desdém pela crítica brasileira, enquanto no exterior despontava como top do showbusiness. Em 1976, interrompeu a carreira por causa de um descolamento da retina. Em meio ao desespero e à dor num hospital norte-americano, tornou-se evangélico.
Em sua autobiografia, Nelson fala do sucesso, da mudança para os Estados Unidos, da fortuna e do envolvimento com mulheres, além de bebidas e drogas. Em 1988, o cantor frequentou as páginas policiais: a mulher, Cida, segundo ele, sofrera acidente com arma de fogo na residência do casal, na capital paulista. Nelson nega ter atirado nela, mas foi processado. Parou de beber e de cheirar cocaína, mas voltou aos vícios. Só se livrou dos tormentos no fim dos anos 1990. Em 2003, sofreu o AVC que interrompeu sua carreira. Perdeu a fortuna e contou com os cuidados dos irmãos Ned Helena, Nélia, Nedson, Neuma, Neyde e Nelci. O cantor foi casado duas vezes e deixou três filhos: Monalisa, Verônica e Nelson Jr.
Ubá
Cunhado do cantor, Rubens Pereira ressalta a cordialidade, gentileza e generosidade dele com a família. “Nelson ajudou a muita gente, mas não gostava de divulgar isso. Vê-lo cantar, com toda aquela emoção, sempre foi uma alegria para os fãs. Morre o homem, mas não o artista, porque a obra dele vai ficar para sempre”, conclui. (Colaborou Walter Sebastião)
Palavras do cantor
"Quando virei evangélico, era muito depravado, bebia muito, usava muita droga e tinha muitas mulheres. E aí Deus falou comigo de madrugada. Porque Deus fala com a gente é de madrugada: ou você muda, ou vou tirar você daqui. Então eu
resolvi mudar.”
“A coisa que mais sinto falta de Minas é a comida. Eu amo o Brasil. Eu amo Minas Gerais e eu amo Ubá.”
“Conheço o mundo inteiro. Viajei muito. Mas gosto mesmo é de Miami. Foi lá que minha carreira internacional começou. Mas pra mim já está bom. Tá na
hora de sombra e
água fresca.”
“Tenho saudades de mim mesmo.”
Nelson Ned em sua última entrevista, ao Estado de Minas, em 7 de dezembro de 2013