“O resultado me deu a confirmação de seguir a carreira autoral, sobre a qual ainda tinha muitas dúvidas”, afirma Alexandre Rezende. Sua extensão vocal de tenor, com certeza, tem muito a contribuir para o gênero musical mais popular do país, que, convenhamos, anda meio desprestigiado.
“O samba rola muito na informalidade, o que acaba nos dando certo medo”, admite Rezende. De acordo com ele, o sucesso acaba restrito às tradicionais rodas, que permitem ao iniciante até se tornar parceiro dos ídolos.
Mineiro de Belo Horizonte, Alexandre tem parentesco distante com o bamba Ary Barroso. A bisavó, que assinava Sabino Barroso, era prima do pai do compositor de Ubá. Filho de família seresteira de Sabinópolis, no Vale do Rio Doce, o cantor iniciou-se como sambista em BH.
“As festas em Sabinópolis, regadas a música, costumavam durar uma semana, com direito a rodas de viola pela madrugada”, relembra. Já na capital, depois de integrar os grupos Clã do Jabuti, Samba da Silva e Chapéu Panamá, Alexandre passou a pesquisar o samba rural. Chegou a apresentar o programa Batuque na cozinha na Rádio UFMG.
“Samba rural é como o calango, com refrão improvisado, marcado. Ambos têm muito a ver com o partido alto”, compara. Paralelamente à carreira musical, o cantor estudou artes e jornalismo, dedicou-se à fotografia e chegou a trabalhar na redação de um jornal paulista. A inscrição no Festival Novos Bambas, promovido pelo Bar Carioca da Gema – reduto de jovens e talentosos sambistas, que funciona na Lapa –, trouxe o insight de uma nova etapa de vida. Alexandre diz que ela vai deslanchar em março.
Além da temporada de um mês na casa carioca, o cantor e compositor espera ter mais visibilidade depois do lançamento do disco ligado ao festival, previsto para o primeiro semestre. Além das faixas autorais – o samba dolente 'Alegoria' e o sincopado 'Maria Estela' –, o repertório inclui a releitura do clássico 'Cueca com batom', de Marquinhos Diniz.
NO VOTO
“Foram mais de 900 votos, com cerca de 4 mil visualizações no site do festival”, diz Alexandre. Além do apoio de familiares e amigos de Sabinópolis, ele contou com a campanha virtual da turma de BH. Na final, acabou fora do julgamento do júri, conforme as regras do evento, por causa de sua expressiva votação popular.
Alexandre diz que o festival mostrou-lhe o caminho a seguir. “Foi a confirmação do destino”, aposta. Atualmente, o cantor vive na ponte aérea BH-Rio de Janeiro. De olho no mercado carioca, ele não descarta a possibilidade de viver da música na capital mineira, assim como fazem os companheiros e parceiros Thiago Delegado, Tino Fernandes e Lucas Telles.
“Belo Horizonte pode criar ponte com o Rio”, volta a apostar, de olho em palcos importantes na Cidade Maravilhosa, como os famosos bares Semente e Trapiche da Gamboa – redutos do samba contemporâneo.
BATUQUE DE BH
Em 2002, havia pouquíssimos conjuntos de samba em BH. Praticamente, eles se resumiam ao Copo Lagoinha e ao Zé da Guiomar. Alexandre Rezende e seu grupo participaram de um concurso promovido pela Coopersamba, que reunia bambas como Geraldo Magnata, Raimundo Nonato, Cabral (parceiro do carioca Luiz Carlos da Vila) e Serginho Beagá.
Fabinho do Terreiro venceu, mas foi o Clã de Jabuti, grupo de Alexandre, que chamou a atenção dos veteranos. Na época, outra integrante da turma, a clarinetista Mariana Bacana, tinha apenas 14 anos. Com o fim do Clã, Alexandre passou a cantar na noite e a se dedicar ao violão. Assim surgiu a obra autoral que o Festival Novos Bambas projeta para o Brasil.
Fabinho do Terreiro venceu, mas foi o Clã de Jabuti, grupo de Alexandre, que chamou a atenção dos veteranos. Na época, outra integrante da turma, a clarinetista Mariana Bacana, tinha apenas 14 anos. Com o fim do Clã, Alexandre passou a cantar na noite e a se dedicar ao violão. Assim surgiu a obra autoral que o Festival Novos Bambas projeta para o Brasil.
FALA, ALEXANDRE
OFÍCIO
“Samba é mais do que música. É o conjunto de elementos que criam um estado de espírito. Na verdade, por mais que o samba não toque, a gente vive para ele, que nos exige muito. É um estilo de vida, um ritual constante. Uma entrega.”
SAMBISTA
“João Nogueira. Primeiro, como cantor – mais parece um gato correndo atrás de um rato, com sua divisão e rítmica diferentes. João tem uma síncope maravilhosa. A obra dele como compositor é muito extensa e vasta, contempla vários estilos.”
CANTORA
“Gosto da Graça Braga, de São Paulo. Tem a Fabiana Cozza, de lá também, que está mais para MPB. Graça é uma senhora, dona do Bar Você Vai Se Quiser, com vários discos gravados.”
ESTILO
“Samba de breque e samba rural. São as vertentes às quais mais me dedico.”
ESCOLA
“Cidade Jardim, de Belo Horizonte, em cuja quadra frequentei ensaios e desfiles. No Rio, é a Portela, por toda a história e tradição. Há um respeito enorme pela Velha Guarda.”
CLÁSSICO
“Favela', de Padeirinho da Mangueira. Simples, curto e de uma síntese muito inteligente. É música de descarrego.”
MESTRE
“Ary Barroso. Ele criou o Dia do Samba (2 de dezembro) e deixou legado muito grande, uma obra riquíssima. Ary conseguiu criar uma riqueza harmônica incrível. Para mim, a grande obra dele é 'Na Baixa do Sapateiro', pela dinâmica que propõe.”