Com Pedro Galvão
Rock feito com a intenção de ajudar é o propósito do Matriz Solidária, que acontece no próximo domingo, 22, a partir das 14h, na Matriz Casa Cultural. Criado em 2002, o evento reúne diversas bandas da cidade, com objetivo de arrecadar brinquedos e alimentos e doá-los para creches e instituições filantrópicas. A iniciativa parte do casal formado por Edmundo Correa e Adrea Diniz, responsáveis pela fundação e existência do estabelecimento que resiste como um dos principais redutos da arte e da música independente de Belo Horizonte, tendo como marca registrada a diversidade.
Outras expressões artísticas, que incluem poesia, cinema e exposições de pintura e fotografia, também têm lugar no espaço, pequeno, mas capaz de abrigar um bar com mesas e cadeiras na parte da frente e um palco com pista de dança na parte de trás, ligados por um corredor. O teto baixo, com o quadriculado colorido e as televisões nos cantos passando filmes alternativos complementam a caracterização.
À frente disso tudo estão duas pessoas. Edmundo e Andrea são os responsáveis pela casa e dividem as funções como reuniões com bandas, marcação de agenda, divulgação, operação do caixa e controle do som. “Estamos aqui todas as noites e nunca revezamos, estamos sempre juntos. E olha que abrimos de quinta a domingo. É cansativo, mas é prazeroso. Conhecemos muita gente de diferentes grupos, com diferentes ideias, é muito bom”, explica Edmundo sobre o trabalho deles.
Como tudo começou
A Matriz foi inaugurada em 2000, mas a semente para sua criação já havia sido plantada anos antes por Edmundo. Desde 1985, ele participava do Bar Calabouço, no bairro Primeiro de Maio, Região Norte da capital. Ali começou a ter o contato com a música, por meio de nomes como Maurício Tizumba, Chico Lobo, Toninho Horta, Chico César, Zeca Baleiro e outros da nova MPB. Além dos shows, também eram promovidos debates e encontros de artistas e movimentos sociais, sempre com o propósito de tornar a cultura acessível para a comunidade local.
saiba mais
As amizades e contatos feitos no Butecário possibilitaram a realização de um antigo sonho, de abrir um local próprio e independente. “Queria inaugurar um espaço novo , mas não queria que fosse na Savassi, queria ficar no Centro, por ser mais popular e de acesso mais fácil para quem vem de bairros distantes. Aí surgiu a ideia do JK, já que ali existia um bar, chamado Caverna, que estava fechado havia dois anos. Alugamos, reformamos e montamos o Matriz”, explica Edmundo, que contou com o apoio da esposa Andrea desde o princípio.
Trabalho pelos artistas
Toda essa história definiu qual seria o propósito do Matriz: apoiar os artistas locais, proporcionando uma experiência cultural diversificada e acessível para a população de BH. E a missão tem sido cumprida ao longo dos quase 14 anos de funcionamento. Ali, muitas bandas deram seus primeiros passos e muita gente viu seu primeiro show nas matinês realizadas desde 2005, reunindo artistas mineiros e de outros estados, com censura 14 anos. “Somos uma das únicas casas de shows da cidade que se propõe a abrir para o publico adolescente, e isso só é possível porque fazemos tudo certinho, com alvará, sempre de acordo com a fiscalização”, explica Edmundo, que acredita ser fundamental que jovem possa ter acesso a esse tipo de espetáculo desde cedo.
Em uma Belo Horizonte cada vez mais dominada pelas boates que abrem espaço exclusivamente para as bandas cover, cujo espetáculo é quase sempre garantia de retorno financeiro na bilheteria, a Matriz prefere apoiar o artista local que cria sua própria música e arte. “Nossa intenção é formar público e dar o espaço para quem faz coisas novas. Mesclamos artistas mais e menos conhecidos. Se não tiver quem faça esse trabalho, o público nunca vai crescer. Procuramos abrir também para outras linguagens artísticas, como exposições e poesia. Arriscamos junto com o artista, se não vier ninguém, ok, mas achamos importante ele se apresentar e trabalhar junto com a gente”, explica Edmundo.
Apesar da fórmula ousada, a iniciativa tem dado certo. Segundo o proprietário da casa, o movimento cresceu 15% em 2013 e a expectativa é de aumentar mais 10% no ano que vem. Bom para os artistas que seguirão tendo um local onde apresentar o próprio trabalho, independente do estilo e do apelo, e para o público, que além de conhecer novos nomes, também pode conferir atrações maiores, como as mais de 20 bandas estrangeiras que tocaram por lá neste ano.
Rock e solidariedade
Não são apenas os artistas que tem o apoio da Matriz. Desde 2002, no último domingo antes do Natal, é realizado o Matriz Solidária. O evento reúne várias bandas de Belo Horizonte, que tocam gratuitamente. O objetivo é arrecadar alimentos e brinquedos, que são doados para a Creche Dora Ribeiro (Bairro Providência), Creche Gilmara Iris (Bairro Novo Tupi), Creche Etelvina Caetano de Jesus (Bairro Primeiro de Maio) e Obras Educativas Jardim Felicidade (Bairro Jardim Felicidade).
No próximo domingo, dia 22, será realizada mais uma edição, com 15 bandas se apresentando a partir das 14h. A entrada custa R$5 mais 1Kg de alimento não perecível ou um brinquedo. Para conhecer melhor quem vai tocar, acesse a página oficial do evento.
Matriz Solidária
Domingo, 22 de setembro, às 14h no Matriz (Rua Guajajaras, 1353 , Centro).Shows de Hevana, Nu Theory, Vô Diddley, Evil Matchers, Cães do Cerrado, Severa, Colt 45, Dead Pixels, Zombizarro, Cordoba, Bombeizing, Pelos, Seash, Curved e Dopaminas. Ingressos a R$5 + 1Kg de alimento ou brinquedo. Informações: 3212.6122. 14 anos.