Foi de seu estúdio Ministereo que saíram os celebrados 'Falange canibal' (2002), 'Labiata' (2008) e 'Chão' (2011), mais recentes álbuns de carreira do parceiro pernambucano. Assim como Tostoi levou para Lenine referências eletrônicas que permearam de uma maneira ou outra esses trabalhos, a recíproca é verdadeira. 'Impaciência' (2000), disco de estreia do Vulgue Tostoi, foi criado em cima de interferências eletrônicas e ruídos inspirados na poesia concreta. Já 'II' é um trabalho mais orgânico, criado a partir do violão.
Mas esqueça qualquer convencionalismo. Em 16 faixas, sem qualquer divisão entre elas, a dupla constrói uma teia interessante, cheia de camadas que vão sendo descobertas a cada nova audição. Num mesmo disco, a dupla expõe vertentes mais palatáveis, como na suingada Coliseu, marcada por metais (Jesse Sadok, Zé Canuto e Aldivas Ayres) e com refrão pop, a outras mais experimentais, como na instrumental 'No bar Rebouças com Morricone', um duelo das cordas de Tostoi com as baquetas de Pantico Rocha, outro integrante da banda de Lenine que gravou a maior parte das baterias do álbum.
Lenine, por sinal, participou de 'Samba' do silêncio, marcada por cordas – ele gravou os dois primeiros versos de 'Lembranças', antiga canção de Benil Santos e Raul Sampaio citada no final da canção. Já Kátia B marca presença em Doce, canção que passeia em diferentes climas, faixa que é sucedida por Som se parte, música mais delicada do disco, com belo arranjo vocal e um clima quase folk.
A delicadeliza, contudo, é apenas aparente. 'Bomber' tem um peso de rock industrial, enquanto 'Na Casa da Matriz' (conhecido reduto do underground do Rio de Janeiro) é caracterizada pelos ruídos. Sempre imprevisível, o Vulgue Tostoi comprova com 'II' por que é uma das formações mais interessantes da cena carioca, ainda que de produção bissexta.