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Quando foi anunciado o nome de Ross Robinson para a produção, muitos dos fãs imaginaram tratar-se de uma volta ao passado. Chamado de padrinho do new-metal, já que produziu Korn, Slipknot e Limp Bizkit, é também dele a produção de 'Roots' (1996), o polêmico divisor de águas do Sepultura. Disco que marcou a despedida de Max, foi ainda pautado pelo experimentalismo, com a fusão de ritmos brasileiros em músicas como 'Ratamahatta' (com Carlinhos Brown), 'Itsári' (com uma tribo xavante). Fãs xiitas torceram o nariz, porém 'Roots bloody roots' é indiscutivelmente uma das músicas mais populares do Sepultura.
Pois esqueça tudo isso. A inspiração de 'The mediator...' é outra. A começar pelo nome do álbum, quase uma dissertação se levada em consideração os lacônicos títulos dos trabalhos anteriores ('Kairos', 2011; 'A-Lex', 2009; 'Dante XXI', 2006, só para citar os mais recentes). Tirada de uma frase do antológico filme 'Metrópolis', de Fritz Lang (1927), a frase – cuja tradução literal é “o mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração” – critica a crescente robotização da humanidade, que deveria viver de maneira mais humana. “Essa preocupação do Ross deu sentido total ao disco. Ele também não queria que minha bateria soasse como máquina, e sim o mais natural possível”, afirma Casagrande.
Bem cotado entre a crítica especializada de metal, 'The mediator...' busca romper com o que restava do Sepultura dos irmãos Cavalera. Para os que continuaram com a banda depois das seguidas mudanças de formação, o disco é um alento. Bastante sombrio, diga-se de passagem. Gravado no estúdio que Ross Robinson tem em casa, em Venice Beach, Califórnia, coloca Casagrande à prova já na primeira faixa, 'Trauma of war'. Rápido, mas nada mecânico, o baterista destaca-se nesta e também em Obsessed, em que duelou com Dave Lombardo (ex-Slayer).
Com letras assinadas por Kisser e Green, o Sepultura mantém forte a crítica ao mundo atual. 'The Vatican' revisa, de maneira irônica, séculos da Igreja Católica; 'Impending doom' centra fogo no consumismo exacerbado. Um dos destaques é 'Manipulation of tragedy', que, com ênfase na parte, percussiva, evoca o que o Sepultura fez no passado, quando se envolveu com a música brasileira. Essa, por sinal, é o que fecha o álbum. No Rock in Rio, a banda tocou um cover de 'Da lama aos caos', emblemática canção de Chico Science & Nação Zumbi. Aqui ela é relida, com o devido respeito ao original, e a devida personalidade do Sepultura. É Kisser quem faz os vocais.
Cumprindo os últimos shows da agenda brasileira em 2013, o Sepultura parte, no início do ano, para a primeira fase da nova turnê, com datas na Europa. Se for como a do disco anterior – em 2012 foram 150 apresentações do álbum 'Kairos' – ao final da temporada 'The mediator…' terá rodado boa parte do planeta. E, desta vez, Casagrande vai como titular.
Três perguntas para...
Eloy Casagrande
Baterista do Sepultura, de 22 anos
Você é mais novo que o próprio Sepultura. Como foram os seus primeiros contatos com a banda?
Eu devia ter 9, 10 anos, foi na época de 'Nation' (2001). Ouvi a propaganda e pedi para a minha mãe comprar o disco para mim. Ela não deixou, disse que eu não iria escutar aquela banda. “É muito pesada, não é para você”. Até que passou um ano ou dois, acabei conhecendo a discografia deles e virei um grande fã.
Como foi gravar com Dave Lombardo?
Em janeiro estava participando de uma feira de música em Los Angeles e nos encontramos. Contei que iríamos gravar em junho e ele disse que queria assistir à gravação. Eu não iria chamar o cara para me ver tocar, ainda mais um cara como Dave Lombardo. Mas, no dia em que estávamos gravando em Venice Beach, o Ross, que é amigo dele, o chamou para ir. Eu já tinha gravado a minha parte (da bateria na fase 'Obsessed'), e a gente queria fazer um overdub (uma gravação extra) numa sala grande, que tinha um eco diferente. Foi o Ross que deu a ideia de o Dave gravar comigo. Tocamos juntos uns 15 minutos. Foi uma parte curta, poucos compassos. Acabou que a jam inteira aparece no disco, escondida, depois da gravação de 'Da lama ao caos'.
Ao entrar para o Sepultura você deixou seus outros trabalhos, menos a banda Iahweh, de rock católico. Não tem problema tocar nas duas?
Estou com o Iahweh há cinco anos, já lançamos um disco ('Neblim', 2009) e clipe. É meio complicado por conta da agenda, mas ela tem dois bateristas para me substituir. Sempre estive envolvido com esse lado católico, comecei minha carreira tocando num coral bem simples de São Bernardo, também no ABC. Até então o Sepultura não tinha feito nada contra a igreja, as músicas são mais de revolta contra o sistema, a sociedade. Não tem problema.