Musica

Arthur Moreira Lima interpreta peças de Ernesto Nazareth e Chopin em BH

"O balanço e a expressividade que caracterizam os compositores não estão na pauta, cabe ao instrumentista adivinhá-los", diz o pianista que irá tocar no CCBB

Walter Sebastião

Ernesto Nazareth (1863-1934) e Frédéric Chopin (1810-1849). Um brasileiro, outro polonês – ambos criadores de obras-primas para piano. Peças da dupla serão a atração do concerto que Arthur Moreira Lima fará nesta quarta-feira e quinta, em BH. O pianista tocará polcas, valsas e mazurcas que esbanjam lirismo, romantismo e musicalidade com a proposta de criar um diálogo entre os dois virtuoses.


“Nazareth e Chopin são filhos e retrato de suas respectivas épocas”, afirma Arthur Moreira Lima. Há grande identificação do primeiro com o Rio de Janeiro da passagem do século 19 para o 20, enquanto o outro traduz a Polônia dos anos 1800.

A dupla tem em comum a referência à música popular de seus países. Ambos usaram o piano como principal veículo de expressão artística. “Por isso é bom passar por eles para compreender o instrumento”, observa. Outra afinidade entre os compositores é a liberdade rítmica: “mais controlada” em Chopin, “mais livre” em Nazareth, de acordo com Moreira Lima.

Amigo


Os dois autores fazem parte da história de Arthur Moreira Lima. Ernesto Nazareth foi amigo dos bisavós dele. A avó, pianista, tocava peças desse autor. “Compositor sofisticado, ele tem valor musical grande”, lembra. O fato de ter tocado com Época de Ouro, Nelson Gonçalves e artistas populares foi importante para Arthur compreender Nazareth. Motivo de orgulho para o pianista é ter sido o primeiro, “há 50 anos”, a fazer concerto em que Nazareth, Schumann e Prokofiev estavam no mesmo plano. Desde então, o preconceito com a música popular se reduziu em todo o mundo, constata o pianista.

O brasileiro iniciou sua carreira internacional tocando Chopin, ganhando concursos dedicados a jovens instrumentistas. Até hoje Arthur é celebrado por sua dedicação ao polonês, a quem considera mestre. “Sinto grande identificação com ele”, conta.

O pianista brasileiro, inclusive, já comparou suas próprias mãos com a réplica das mãos do autor polonês. “Elas tinham o mesmo tamanho. Talvez isso explique a minha facilidade para tocar Chopin”, suspeita.

Com relação à sua interpretação, Moreira Lima pondera que, primeiramente, é fiel à partitura. “Hoje, estou tocando com maior liberdade de tratamento. O balanço e a expressividade que caracterizam os compositores não estão na pauta, cabe ao instrumentista adivinhá-los”, conclui.

NAZARETH E CHOPIN

Com Arthur Moreira Lima. Quarta e quinta, às 20h. Centro Cultural Banco do Brasil, Praça da Liberdade, Funcionários, (31) 3431-9400. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada).