Musica

Creedence Clearwater Revival volta às prateleiras com lançamento de CD triplo

Banda foi ícone do rock nos anos 1960 e 1970 e já teve algumas de suas canções regravadas por nomes como Ike & Tina Turner e Elvis Presley

Arthur G. Couto Duarte

Usualmente editadas sem a devida autorização dos próprios autores, disponibilizadas a toque de caixa pelas gravadoras ao sabor do oportunismo ou simplesmente produzidas sem qualquer critério por pessoas que parecem desconhecer as criações daqueles que supostamente deveriam apresentar ao público, de forma abrangente e compreensiva, as coletâneas musicais no mais das vezes acabam por prestar enorme desserviço aos artistas. Independentemente de estilo, tais “picadinhos” vez por outra são desovados no mercado ostentando capas pavorosas, desprovidos de encarte ou quaisquer informações técnicas acerca do material neles contido.


Exceção digna de nota cabe ao recém-lançado, e por sinal merecidamente intitulado 'The ultimate collection – Greatest hits & all time classics', CD triplo que consegue resumir de forma quase perfeita a obra completa do mítico Creedence Clearwater Revival. Não importa sequer que, ao longo das últimas três décadas, tal gravação tenha sido precedida por mais de 40 (!) coletâneas supostamente semelhantes, já que raras vezes artistas de rock do porte do finado quarteto californiano fizeram por merecer uma seleção musical tão minuciosa e o exemplar tratamento gráfico dado tanto ao belíssimo encarte de 20 páginas quanto à multifacetada capa em digipack que envolveu os CDs desta 'The ultimate collection'.

Fábrica de hits

Seguindo na direção oposta das bandas de rock de sua geração, então às voltas com “discos conceituais” e pretensiosas experimentações com o jazz e a música clássica, o Creedence Clearwater Revival nunca deixou de privilegiar a simplicidade fundamental que um dia deu vida ao rock. Se pela autoria do também líder, vocalista e guitarrista John Fogerty surgiram algumas das músicas que melhor encapsularam o espírito contestador e inconformista dos anos 1960-1970, ao mesmo tempo suas canções pareciam obedecer a uma fórmula espartana em que riffs, acordes e melodias eram usados de forma simplesmente devastadora.

Imortalizadas em compactos de vinil que, em raras ocasiões, romperam a marca dos 3 minutos de duração, 'Proud Mary', 'Green River', 'Bad moon rising', 'Who’ll stop the rain', 'Up around the bend', 'Down on the corner' e outras tantas obras-primas também se mostraram providenciais ao reabilitar a urgência e a crueza de gêneros esquecidos como o blues, o country, a soul music e o rock’n’roll dos anos 1950. Tudo pespontado por licks, vibratos, riffs encharcados em fuzz e outros efeitos providos pelo guitar-hero John Fogerty. “Acho que Eddie Cochran ou Buddy Holly ainda estivessem vivos eu estaria tentando entrar para suas bandas de apoio”, era como o próprio costumava resumir sua paixão pelo rock’n’roll.

Banda favorita dos soldados norte-americanos que lutaram na Guerra do Vietnã no alvorecer da década de 1970, o Creedence foi a única formação ianque a fazer frente àquela avalanche inglesa chamada Led Zeppelin. E se por um lado o grupo teve o prazer de ouvir suas músicas regravadas por muitos ídolos (Ike & Tina Turner, Solomon Burke, Wilson Pickett, Elvis Presley), as releituras que o Creedence proveu para sucessos alheios ('I put a spell on you', de Screamin’ Jay Hawkins; 'Suzie-Q', de Dale Hawkins; 'I heard it through the grapevine', de Marvin Gaye; 'Before you accuse me', de Bo Diddley) ganharam arranjos tão ousados e singulares que acabaram por se tornar definitivas em tais interpretações, a ponto de se igualar ou – por que não? – superar os originais.

Fazendo jus a esta saga, os dois primeiros CDs da caixa 'The ultimate collection' não deixaram de fora deles nenhum dos hits lançados oficialmente em compacto pelo Creedence, entre setembro de 1968 e abril de 1972. Privilegiados merecidamente pelos produtores Chris Clough e Nick Philllips, os álbuns Green River e Cosmo’s factory só tiveram excluídas da seleção duas de suas faixas. E se a omissão de coisas como 'Ramble tamble', 'Effigy', 'Ninety nine & a half (Won’t do)', 'Sinister purpose' ou 'Ooby dooby' deixar algum fã da banda mais inconformado, vale lembrar que o terceiro CD da coletânea – ocupado somente por faixas gravadas ao vivo – traz raridades do quilate de 'Suzie Q', com quase 12 minutos de extensão em registro imaculado no auditório do Fillmore, West, de San Francisco, em 12 de março de 1969.