Barão de Cocais – “Ainda bem que vocês não são como a espineta, pois ela sofreu muito mais no ônibus do que nós. Temos muita música pela frente”, afirma Iara Fricke Matte, regente do coral Ars Nova. Semelhante ao cravo, o instrumento havia acabado de ser afinado para acompanhar as 21 vozes do grupo, que, depois de quatro anos de pausa, foi reativado em abril e teve seu quadro de coristas totalmente renovado. Entre jabuticabeiras, pitangueiras e amoreiras, eles se reuniram no último fim de semana para série de ensaios em esquema de imersão numa pousada em Cocais, distrito de Barão de Cocais, a 80 quilômetros de Belo Horizonte.
Este é um momento importante e, ao mesmo tempo, curioso para o Ars Nova. Criado em 1959 e incorporado pouco depois à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o grupo tornou-se referência sólida na área com regentes como Sergio Magnani e Carlos Alberto Pinto Fonseca, tendo recebido prêmios e menções honrosas e realizado várias viagens internacionais. Ao mesmo tempo que se apoia em toda essa tradição, o renovado grupo, formado sobretudo por cantores entre 20 e 35 anos, empolga-se com a possibilidade de escrever sua própria história.
“Estamos construindo uma coisa nova e as pessoas estão crescendo juntamente com esse trabalho. Isso é muito positivo”, analisa Iara. Paralelamente, o coral empenha-se na consolidação de sua nova identidade musical às vésperas de encerrar o primeiro ano desta nova fase. Seu calendário inclui apresentações em Santa Bárbara (sábado), a 107 quilômetros de Belo Horizonte, e na capital mineira, onde haverá concertos de Natal com peças de Bach, no Cine Theatro Brasil (dia 17 do mês que vem) e na Capela de Nossa Senhora da Conceição do Colégio Arnaldo (no dia seguinte).
Os dois últimos concertos serão muito especiais. Serão interpretados o moteto 'Singet dem herrn' (para coro a oito vozes e baixo contínuo) e a primeira parte do 'Oratório de Natal' (para solistas, coro e orquestra), ambos do compositor alemão Johann Sebastian Bach. Especialistas em música antiga de outras partes do país e do exterior foram convidados a participar das apresentações, uma vez que são poucos os que dominam instrumentos de época, como o trompete natural, o violino barroco e o oboé d’amore. “Esse trompete é extremamente difícil de tocar. Não há válvulas e tudo é feito com os lábios. A probabilidade de erro é imensa”, exemplifica Iara.
Tamanho
“Todo regente imprime sua cara no trabalho, é natural. Minha ênfase é na música antiga e contemporânea. Não quero comparar uma fase do coral com a outra, mas será diferente, com certeza. Sempre fui fã do Ars Nova e aprendi muito com o Carlos Alberto. Fui assistente dele em outro coral quando cheguei a Belo Horizonte, nos anos 1990”, conta Iara. Gaúcha de Ijuí, ela se formou em regência pela Unicamp (Campinas, SP) e fez mestrado e doutorado em regência coral nos Estados Unidos. É professora de música da UFMG desde 1997 e atua como coordenadora da Semana de Música Antiga.
Ano que vem, adianta ela, planeja colocar o Ars Nova na estrada para apresentações em cidades mineiras e de outros estados, de preferência que tenham escola de música. Até lá, Iara quer adicionar mais um integrante ao grupo, totalizando 22 coristas, sem passar disso. “O Ars Nova chegou a ter 40 vozes. Minha proposta é diferente, com estética distinta. Coros maiores são uma estética que prevaleceu até o final do século 20. Chegaram a existir corais com mais de 100 vozes. Sabemos que, no passado, não era assim e não havia mais que quatro vozes por naipe. Até porque, não cabia tanta gente nas igrejas”, diz.
Quanto mais vozes, acredita Iara, menor a capacidade de silêncio e menor a possibilidade de ouvir as pequenas articulações entre as palavras. “Minha proposta de repertório para o coral privilegia nuances pequenas e discretas, que se perderiam na soma de muitas vozes”, analisa a regente. A propósito, durante os ensaios em Cocais, Iara prestou especial atenção à forma como os coristas encadeavam as palavras, orientando-os a evitar o legato, expressão que designa notas cantadas ligadas umas às outras, sem intervalo.
Detalhe: na véspera da imersão na pousada, o coral teve aula de alemão com Georg Otte, professor da Faculdade de Letras da UFMG, para auxiliar na pronúncia do texto. “Vou sonhar com Hitler de tanto alemão”, brincou o tenor Charles Muzi
* O repórter viajou a convite da UFMG.
• Concertos
» Sábado – Matriz de Santo Antônio, em Santa Bárbara, às 19h30. Entrada franca
» 17 de dezembro – Cine Theatro Brasil (Praça Sete, s/nº, Centro, no quarteirão fechado entre as avenidas Afonso Pena e Amazonas e a Rua Carijós), em BH, às 20h. Ingresso: um quilo de alimento não perecível.
» 18 de dezembro – Capela de Nossa Senhora da Conceição do Colégio Arnaldo (Rua Ceará, esquina com Avenida Carandaí, Funcionários), em BH, às 20h. Ingresso: um quilo de alimento não perecível.
Casa nova
A base do Ars Nova em sua nova fase é o Conservatório UFMG, no Centro de Belo Horizonte. O coral planeja a implantação do Centro de Memória e Pesquisa Ars Nova, cujo objetivo é disponibilizar acervo com produção e história do grupo a pesquisadores e outros interessados no tema.
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“Estamos construindo uma coisa nova e as pessoas estão crescendo juntamente com esse trabalho. Isso é muito positivo”, analisa Iara. Paralelamente, o coral empenha-se na consolidação de sua nova identidade musical às vésperas de encerrar o primeiro ano desta nova fase. Seu calendário inclui apresentações em Santa Bárbara (sábado), a 107 quilômetros de Belo Horizonte, e na capital mineira, onde haverá concertos de Natal com peças de Bach, no Cine Theatro Brasil (dia 17 do mês que vem) e na Capela de Nossa Senhora da Conceição do Colégio Arnaldo (no dia seguinte).
Os dois últimos concertos serão muito especiais. Serão interpretados o moteto 'Singet dem herrn' (para coro a oito vozes e baixo contínuo) e a primeira parte do 'Oratório de Natal' (para solistas, coro e orquestra), ambos do compositor alemão Johann Sebastian Bach. Especialistas em música antiga de outras partes do país e do exterior foram convidados a participar das apresentações, uma vez que são poucos os que dominam instrumentos de época, como o trompete natural, o violino barroco e o oboé d’amore. “Esse trompete é extremamente difícil de tocar. Não há válvulas e tudo é feito com os lábios. A probabilidade de erro é imensa”, exemplifica Iara.
Tamanho
“Todo regente imprime sua cara no trabalho, é natural. Minha ênfase é na música antiga e contemporânea. Não quero comparar uma fase do coral com a outra, mas será diferente, com certeza. Sempre fui fã do Ars Nova e aprendi muito com o Carlos Alberto. Fui assistente dele em outro coral quando cheguei a Belo Horizonte, nos anos 1990”, conta Iara. Gaúcha de Ijuí, ela se formou em regência pela Unicamp (Campinas, SP) e fez mestrado e doutorado em regência coral nos Estados Unidos. É professora de música da UFMG desde 1997 e atua como coordenadora da Semana de Música Antiga.
Ano que vem, adianta ela, planeja colocar o Ars Nova na estrada para apresentações em cidades mineiras e de outros estados, de preferência que tenham escola de música. Até lá, Iara quer adicionar mais um integrante ao grupo, totalizando 22 coristas, sem passar disso. “O Ars Nova chegou a ter 40 vozes. Minha proposta é diferente, com estética distinta. Coros maiores são uma estética que prevaleceu até o final do século 20. Chegaram a existir corais com mais de 100 vozes. Sabemos que, no passado, não era assim e não havia mais que quatro vozes por naipe. Até porque, não cabia tanta gente nas igrejas”, diz.
Quanto mais vozes, acredita Iara, menor a capacidade de silêncio e menor a possibilidade de ouvir as pequenas articulações entre as palavras. “Minha proposta de repertório para o coral privilegia nuances pequenas e discretas, que se perderiam na soma de muitas vozes”, analisa a regente. A propósito, durante os ensaios em Cocais, Iara prestou especial atenção à forma como os coristas encadeavam as palavras, orientando-os a evitar o legato, expressão que designa notas cantadas ligadas umas às outras, sem intervalo.
Detalhe: na véspera da imersão na pousada, o coral teve aula de alemão com Georg Otte, professor da Faculdade de Letras da UFMG, para auxiliar na pronúncia do texto. “Vou sonhar com Hitler de tanto alemão”, brincou o tenor Charles Muzi
* O repórter viajou a convite da UFMG.
• Concertos
» Sábado – Matriz de Santo Antônio, em Santa Bárbara, às 19h30. Entrada franca
» 17 de dezembro – Cine Theatro Brasil (Praça Sete, s/nº, Centro, no quarteirão fechado entre as avenidas Afonso Pena e Amazonas e a Rua Carijós), em BH, às 20h. Ingresso: um quilo de alimento não perecível.
» 18 de dezembro – Capela de Nossa Senhora da Conceição do Colégio Arnaldo (Rua Ceará, esquina com Avenida Carandaí, Funcionários), em BH, às 20h. Ingresso: um quilo de alimento não perecível.
Casa nova
A base do Ars Nova em sua nova fase é o Conservatório UFMG, no Centro de Belo Horizonte. O coral planeja a implantação do Centro de Memória e Pesquisa Ars Nova, cujo objetivo é disponibilizar acervo com produção e história do grupo a pesquisadores e outros interessados no tema.