Poeta, folclorista, produtor musical, autor de literatura de cordel, cantor e compositor, o mineiro Téo Azevedo é um ícone da cultura popular no Brasil. Além dos próprios trabalhos, incentivou e produziu discos de dezenas de artistas da chamada música de raiz. Ao comemorar 70 anos de vida e 50 de carreira, ele tem seu trabalho consagrado com o reconhecimento internacional: são duas indicações para o Grammy Latino 2013, considerado o Oscar da música latino-americana. Téo disputa a categoria de Melhor Álbum Brasileiro de Raiz com os álbuns Salve Gonzagão – 100 anos e O Velho Chico – Sob o olhar januarense. A solenidade de entrega será quinta-feira, em Los Angeles (EUA).
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Em sua terra natal ele mantém acervo que se tornou um pequeno museu sobre sua trajetória, com discos, certificados de premiações, reportagens e fotografias em que aparece ao lado de outros artistas com os quais trabalhou ou fez apresentações. Em destaque, fotografias em que posa orgulhoso ao lado de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Patativa do Assaré e do ator e compositor Jackson Antunes, seu amigo e parceiro, natural do Janaúba, também no Norte de Minas.
Téo Azevedo conta que poderia viver em São Paulo, o mais importante centro de produção para o tipo de música que faz. Mas optou pelo retorno às origens de forma madura e tranquila. “Na verdade, nunca saí do Norte de Minas. Mesmo quando morava em São Paulo (onde ele mantém um apartamento), vinha à região onde nasci pelo menos três vezes por ano. Nunca me afastei do cerrado, que é a fonte de inspiração do meu trabalho. E que inspiração”, reconhece o artista, que gosta sempre de citar elementos da cultura local e da natureza do Norte de Minas em suas canções.
De acordo com o jornalista e pesquisador da cultura popular Assis Ângelo, Téo Azevedo é o compositor em atividade com o maior número de músicas gravadas no Brasil. São mais de 2,5 mil composições, segundo as contas do próprio artista. Entre seus intérpretes estão nomes como Sérgio Reis, Luiz Gonzaga, Zé Ramalho, Tonico e Tinoco, Chrystian e Ralf, Milionário e José Rico. A dupla Caju e Castanha chegou a gravar um CD somente com as criações do compositor mineiro.
O cantor lançou 20 discos e tem cerca de mil histórias de cordel publicadas. Como produtor musical dedicado ao segmento da música sertaneja, esteve à frente de mais de 3 mil trabalhos, incluindo os LPs, compactos e CDs. Téo se envaidece de ter descoberto no Norte de Minas o instrumentista Zé Coco do Riachão, que fazia suas próprias rabecas e violas e chegou a ser chamado de “Beethoven do sertão” pela crítica especializada da época. Os discos de Ze Coco são hoje raridades cultuadas por pesquisadores.
Quem pensa que com tantas músicas gravadas Téo Azevedo ficou rico se engana. Ele tem apenas um pequeno apartamento na região central de São Paulo e a casa simples em Alto Belo. Anda num carro popular, usado nos seus deslocamentos entre a capital paulista e o Norte de Minas. Seguro de suas opções, não é de reclamar da vida. Mas defende seus colegas de profissão que nem sempre têm o respeito que merecem por parte do mercado.
“Tem gente que veio ao planeta com uma estrela para ficar rico. Outros vieram com a estrela para fazer um bom trabalho. Este é o meu caso. Procuro trabalhar com seriedade e honestidade, mas nunca pensei em ganhar dinheiro”, diz Téo Azevedo. Ele se emociona ao falar das dificuldades financeiras enfrentadas pelos artistas populares. “O dinheiro faz falta sim. Existem leis de incentivo, mas exigem projetos e tem muita burocracia. A gente, que faz cultura popular mesmo, não consegue entrar nesse metier”, desabafa.