Chegar a seu 10º álbum de estúdio, Lightning bolt, a banda norte-americana Pearl Jam estabelece clara divisão entre a primeira e a segunda metade de sua produção. Até o disco Yield (1998), conseguia emplacar várias músicas marcantes numa tacada só. A partir de Binaural, o fôlego diminuiu e as canções marcantes tornaram-se escassas a cada lançamento. O quinteto de Seattle não se tornou uma banda pior ou desinteressante, mas um tanto cansada.
A produção do álbum ficou a cargo de Brendan O’Brien, parceiro de longa data, que assinou a maioria dos discos da banda, como Vs., No code e o anterior, Backspacer, lançado em 2009. As gravações foram realizadas entre 2011 e este ano, resultando em 12 faixas cujas letras foram escritas pelo vocalista e guitarrista Eddie Vedder – as músicas têm colaboração de todos os integrantes, à exceção do baterista Matt Cameron.
O espaço entre os lançamentos do Pearl Jam, a propósito, tem sido de três ou quatro anos – maior que no início de carreira. No caso deste novo disco, a demora se deve não apenas à intensa agenda de shows do grupo pelo planeta (incluindo duas passagens pelo Brasil), mas também aos projetos paralelos de seus integrantes. Vedder, por exemplo, gravou o álbum solo Ukulele songs (2011) e iniciou turnê acústica para divulgá-lo.
PETECA A audição começa promissora, com rock and roll básico e benfeito de Getway e a pegada um tanto punk de Mind your manners, que remete imediatamente a Spin the black circle, porretada bem dada do saudoso ano de 1994, quando lançaram um de seus melhores trabalhos, Vitalogy. My father’s son passa sem deixar maiores impressões, seguida por aquele que promete ser o (único?) hit do disco, a boa balada Sirens, que tem o gosto do repertório lado B noventista do grupo. Aliás, o clipe já está no YouTube.
A vibrante faixa-título quase empolga e o guitarrista Mike Mc- Cready ensaia iniciar um solo daqueles, mas freia seu ímpeto. Afinal, guitar hero parece ser uma figura em extinção na cena roqueira mainstream. Em termos de empolgação, o mesmo vale para Infallible, cujo refrão não está à altura da estrofe. Morna, Pendulum passa sem deixar recado, numa atmosfera um tanto sombria. Jogando a peteca para cima, o quinteto recobra as energias com Swallowed whole, rock que poderia tranquilamente ser do R.E.M.
Sem maior expressão, Let the records play mantém o clima rock até a chegada de Sleeping by myself, peça do disco solo de Vedder que ganhou releitura, mantendo certa atmosfera acústica. Yellow moon, outra canção com cheiro de lado B de antigamente, é o último suspiro do quinteto antes de o vocalista encerrar com versos de esperança em Future days, na qual canta e toca violão quase sozinho.