Considerado um dos criadores do choro, Ernesto Nazareth é tema de série de concertos em BH

Compositor fez a ponte entre o clássico e o popular. Apresentações começam nesta quarta-feira e terão participações de chorões e instrumentistas eruditos

por Ailton Magioli 30/10/2013 08:37

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IMS/Reprodução
Ernesto Nazareth é considerado um dos criadores do choro brasileiro (foto: IMS/Reprodução)
Um dos pilares da música brasileira, ao lado de Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros e Pixinguinha, Ernesto Nazareth (1863-1934) é a atração musical de estreia do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Praça da Liberdade. De hoje a 28 de novembro, o público irá desfrutar de concertos e palestras sobre a obra do mestre carioca, autor dos clássicos 'Apanhei-te, cavaquinho', 'Brejeiro', 'Faceira', 'Garoto e Odeon', entre outros.


Produzido pela Luz Produções, de Mário de Aratanha e Valéria Colela, o projeto “Ernesto Nazareth 150 anos depois” pretende abrir o leque das realizações do compositor, extremamente sofisticado e eclético, cuja música se presta a vários tipos de interpretação.

Da roda de choro comandada pelo cavaquinista Henrique Cazes e Grupo Flor de Abacate até o concerto do pianista Arthur Moreira Lima, que, na década de 1970, acabou responsável por abrir as salas de concerto para a música de Nazareth, a oportunidade para conhecer mais sobre o mestre e sua música é imperdível.

Se para Cazes Nazareth foi o compositor que fez da fronteira entre o popular e o erudito um território fértil, do qual surgiu a música de outros mestres (Heitor Villa-Lobos, Radamés Gnatalli e Tom Jobim), para o pianista e educador Antonio Adolfo ele foi de suma importância para o piano, que, na época do compositor, era um dos instrumentos mais tocados na casa dos brasileiros.

“Não podemos nos esquecer de como Nazareth juntou com mestria a alma brasileira influenciada pelos ritmos afro-brasileiros, a música europeia e o jazz”, ressalta Adolfo, um dos pioneiros da bossa nova. De acordo com Henrique Cazes, só agora o Brasil está tendo plena informação sobre a obra do autor, por meio do site www.ernestonazareth150anos.com.br. “Lá tem tudo, e isso vai gerar certamente um trabalho bom”, propagandeia o cavaquinista, que também é pesquisador da MPB.
 
Na palestra que irá fazer sobre o mestre, Cazes promete centrar-se no Nazareth criador de um território musical entre o popular e o erudito. Com solista, o cavaquinista gravou Escovado e Apanhei-te, cavaquinho, de autoria de Nazareth. Já com os conjuntos que tocou – Camerata Carioca, Camerata Brasil e Orquestra de Cordas Brasileiras – gravou várias outras composições do mestre. “As peças de Nazareth são ótimas para escrever arranjo, pelo fato de serem muito bem acabadas, resolvidas. Ajuda o arranjador”, atesta Henrique Cazes.

Para Antonio Adolfo, muitas das composições do mestre, sempre de caráter bem popular, foram absorvidas pelos grupos de choro. “Àquela época eles chamavam de tango brasileiro, maxixe, polca e outros nomes, não de choro. Depois viu-se que eram – e são – autênticos choros. E tem as valsas também, que muitas vezes são interpretadas por grupos de choro.” Talvez pelo fato de a obra de Nazareth ter sido escrita para o piano, não tenha alcançado tanta popularidade entre os chorões, como ocorreu com Pixinguinha. “Quem contribuiu muito para trazer as músicas de Nazareth para os grupos de choro foi Jacob do Bandolim”, diz Antonio Adolfo.

 

Intérpretes

A programação dos concertos vai mostrar as várias possibilidades do compositor. Maria Teresa Madeira (piano) e Pedro Amorim (bandolim) vão mostrar a música tal como era apresentada na época de Ernesto Nazareth. “Vamos retomar o Nazareth tradicional dos salões”, diz o produtor Mário de Aratanha, lembrando que nos anos 1990 o duo já havia registrado sua leitura em disco ('Sempre Nazareth'), que foi lançado inclusive na França. Maria Teresa acaba de ganhar o Prêmio Funarte para gravar a obra completa do compositor, que contabiliza cerca de 200 composições.

Já com Mú Carvalho & Banda, o projeto vai dar um salto para a vanguarda, mostrando como as melodias do compositor carioca se prestam à reinterpretação. Como faz questão de ressaltar o produtor, Mú integrou o grupo A Cor do Som, que fez leitura pop da música do mestre e acaba de gravar o disco 'Elétrico Nazareth'. Antonio Adolfo irá mostrar o lado mais jazzístico do compositor, enquanto Arthur Moreira Lima se responsabilizará por mostrar a afinidade de Nazareth com Chopin.

TRÊS PERGUNTAS PARA…

Henrique Cazes, músico e pesquisador

Qual é o grande legado de Ernesto Nazareth para a música brasileira?
Foi ele quem fez da fronteira entre o popular e o erudito um território fértil, onde floresceu a música de figuras como Villa-Lobos, Radamés Gnattali, Tom Jobim e muitos outros. Ou seja, a melhor música brasileira do século 20.

 E a principal contribuição dele para o choro?
Ajudou a estabelecer o alto padrão artístico na composição, ao lado de Pixinguinha, formando a dupla de gênios dessa música.

Entre Nazareth e Pixinguinha, qual foi mais importante para o choro?

Pixinguinha deu forma final ao gênero musical choro, que não havia na época em que Nazareth surgiu. A música de Nazareth só foi realmente absorvida na roda de choro depois da década de 1940, com as gravações de Garoto e Jacob do Bandolim. De certa maneira, Pixinguinha influenciou mais e continua sendo mais tocado. Mas uma geração nova está trazendo mais e mais Nazareth para a roda e enriquecendo-a substancialmente.

ERNESTO NAZARETH 150 ANOS DEPOIS

>> Concertos
Quarta e quinta, às 20h, Henrique Cazes e Grupo Flor de Abacate; 6 e 7 de novembro, Maria Teresa Madeira e Pedro Amorim; 13 e 14 de novembro, Mú Carvalho & Banda; 20 e 21 de novembro, Antonio Adolfo; e 27 e 28 de novembro, Arthur Moreira Lima. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada).

>> Palestras gratuitas

Amanhã, com Henrique Cazes, às 15h30; e 21 de novembro, com Antonio Adolfo, às 15h30.
. Centro Cultural Banco do Brasil, Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400.

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