“O samba nunca sai de moda. Já tivemos lambada, forró... ’’, lista Neguinho, admitindo que o gênero jamais perde a majestade, mesmo que o mercado vá moldando-o aos novos tempos. O samba-enredo, do qual é um dos maiores puxadores, por exemplo, ganhou novo andamento, além de outras mudanças, segundo admite. “Na minha época ele era limitado à ala de compositores da escola. Hoje elas abriram geral. Há até condomínios, grupos de quatro, cinco compositores que fazem sambas e espalham pelas escolas”, critica, sob o argumento de que o gênero perde a identidade. “Você vai ver e é a mesma linha melódica em várias escolas”, acrescenta.
Intérprete oficial da escola de samba de Nilópolis (RJ) desde 1976, Neguinho também integra a ala de compositores da Beija-Flor, para a qual levou também o filho Luiz Antônio Marcondes Júnior, há 14 anos. É de Luiz Antônio 'O astro iluminhado', samba com o qual a agremiação vai homenagear José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o famoso diretor de TV, mais conhecido por Boni. “O samba é muito bom”, afirma Neguinho, elogiando o trabalho do herdeiro musical. Pai orgulhoso de mais três filhos – Paulo César Santos, Ângela e a caçula Luiza Flor –, Neguinho vê PC, que é baterista, também se interessar pelo mundo do samba.
Mercado caótico
Sucessos de Bezerra da Silva ('Malandro é malandro e mané é mané'), Mário Lago ('Sorriso negro') e Serginho Meriti ('Angela') estão no disco, que marca uma nova etapa na carreira de Neguinho, depois de criar o próprio selo (NB Records) e passar por várias multinacionais (Top Tape, CBS/Dony e PolyGram/Universal), além da Indie Records.
“O mercado fonográfico está mudando para pior, principalmente para as gravadoras”, constata, salientando que se as empresas não criarem um sistema que possibilite o fim da pirataria não haverá salvação para o setor. “A decadência começou com a fita cassete. Depois de acabar com o LP e o cassete veio o CD e aí arrebentou com tudo”, continua o artista, para quem a criação musical, no entanto, resiste às crises. “Eu, por exemplo, depois de 'Obrigado, Jesus', vou lançar agora, via internet, o samba exaltação 'A soberana', da parceria com Samir Trindade, em homenagem à Beija-Flor.”
Na opinião de Neguinho, a situação está boa exatamente para artistas que estão se promovendo via internet. “Veja o caso de Luan Santana”, exemplifica, citando o jovem cantor sertanejo universitário. No novo disco, ele também aproveita para homenagear a escola do coração com 'A deusa da passarela', que é um tema do “esquenta bateria” antes dos desfiles, e o samba-enredo Sonhar com rei dá leão, com o qual ele ganhou o primeiro título na Beija-Flor, em 1976.
Os já consagrados pot-pourris também estão presentes em 'A história do sorriso negro', como as faixas que juntam 'Bem melhor que você'/''Gamação danada', ou ainda '1.800 colinas'/'Meu drama' ('Senhora tentação')/'Acreditar', 'Problema social'/'Menino pé no chão' e 'Malandro também chora'/'Malandro chorão'. Composta originalmente em 1979, O campeão ('Meu time'/'Domingo eu vou ao Maracanã') ganhou nova letra para atingir outras torcidas. “Era uma música reduzida ao Rio e ao estádio do Maracanã. Além disso, os jogos hoje já não ocorrem só aos domingos, como antigamente. Há um ano resolvi fazer a nova letra”, justifica a mudança. Aos 37 anos de carreira e 36 discos lançados, Neguinho da Beija-Flor sabe o que faz.