Marcelo Fortaleza Flores ainda era uma criança quando ouviu no rádio uma música que tinha um falsete que o deixou impressionado. “O radialista não chegou a anunciar de quem era aquela voz, mas hoje dá para perceber que ela tinha mais relação com a música clássica do que com a MPB. Sem nenhuma palavra, a composição trazia todo o sentimento que a música deveria ter”, avalia o diretor de cinema, que, já nos Estados Unidos, onde foi morar, descobriu tratar-se da canção Francisco, de Milton Nascimento.
“Como todo brasileiro sou apaixonado por ele, que faz parte do nosso DNA”, afirma Marcelo, atualmente às voltas com Milton – A voz, filme híbrido de documentário e ficção, por meio do qual pretende focar vida e obra do cantor, compositor e instrumentista. Nascido no Rio de Janeiro, Bituca, como se tornou conhecido entre os amigos e fãs, fez de Minas Gerais a sua casa e fonte de inspiração para uma criação musical que, da MPB ao jazz, passando pela world music, conquista fãs no mundo inteiro. E é exatamente isso que o longa-metragem pretende mostrar.
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“Como gosto muito da onda de documentários sobre MPB, percebi que ainda não havia um filme sobre ele, entrei em contato com a equipe de Milton, conseguindo inclusive ter a Nascimento Música como parceira”, comemora o diretor, salientando o fato de a questão da trilha sonora do filme, sobre um cantor-compositor, já estar resolvida. Segundo Marcelo, a princípio ele começou a explorar mais os aspectos musical e ficcional do projeto do que o documental em si. “Depois é que passei para o documentário”, acrescenta, lembrando que a ligação dele com o gênero vem da temporada em que morou na Amazônia, como ativista ecológico.
Além de já ter gravado entrevistas com o cantor em sua casa, no Rio, o diretor de Milton – A voz já filmou em Três Pontas, no Sul de Minas. Na agenda, está prevista passagem por Barbacena, onde, além da parceria com o grupo de teatro Ponto de Partida, funciona a Bituca Universidade de Música Popular, além de Santa Bárbara, onde está o Santuário do Caraça, em que Bituca gravou o disco Sentinela. E mais: Diamantina, onde o então iniciante Clube da Esquina se encontrou com o presidente bossa nova, Juscelino Kubitschek. A passagem por Belo Horizonte, onde o cantor morou e conheceu a família Borges, ainda está sendo avaliada pelo diretor.
Rosto para o jovem
Protagonista de Faroeste caboclo, o baiano Fabrício Boliveira, de 31 anos, viverá Milton Nascimento mais jovem no filme de Marcelo Fortaleza Flores. “Trata-se de um excelente ator, que ficou entusiasmado com o projeto e já foi inclusive levado por mim para conhecer Milton”, relata o diretor. Dois atores mirins também serão contratados, já que o longa vai retratar passagens da infância do cantor que contribuíram para a sua formação musical e inspiraram muitas de suas obras. Marcelo garante que Milton – A voz vai muito além de uma cinebiografia, compondo-se de recortes pessoais e emocionais da vida do cantor.
Brasil, Cuba e EUA
Além do próprio Milton, o diretor já entrevistou o cubano Pablo Milanés e a americana Esperanza Spalding, aguardando o momento para também ouvir Herbie Hancock, Paul Simon, Wayne Shorter e os irmãos franceses Lionel e Stéphane Belmondo. Aqui no Brasil já estão na lista de entrevistados Caetano Veloso, Márcio Borges, Gilberto Gil, Fernando Brant e Chico Buarque, entre outros. Wagner Tiso também já gravou depoimento para o filme.