Musica

Guilherme Arantes faz show nesta quinta no Sesc Palladium

Apresentação tem repertório do novo CD, 'Condição humana', trabalho que vem despertando o interesse da nova geração

Ailton Magioli

Aos 60 anos, pai de Marieta, de 33; Gabriel, de 31; Pedro, de 29; Thiago, de 27; e Paola, de 15; e avô de Pedro, de 5, Guilherme Arantes tem consciência de que conseguiu reverter a imagem de popstar, hitmaker e galã de TV que o perseguiu nas décadas de 1970 e 1980. “Tudo isso compõe um perfil que é difícil de reverter para o sucesso de crítica, algo cult, como ocorreu comigo agora, naturalmente”, avalia, aliviado, o cantor, compositor e instrumentista. Ele faz show amanhã, no Grande Teatro do Sesc Palladium.


Responsável pela façanha, 'Condição humana', o 22º álbum solo de inéditas do artista em mais de 40 anos de carreira, disputou e ganhou de Caetano Veloso ('Abraçaço') e Metá Metá ('MetaLMetaL') o Prêmio Multishow 2013 de melhor disco do ano. “Acho que cada época impõe um estilo de hitmaker. O Chico Buarque, por exemplo, foi um nas décadas de 1960-70. O Milton Nascimento também. Mas isso depende do que o público está querendo”, acrescenta o cantor, admitindo que hoje o discurso predominante é a balada, não algo mais reflexivo ou mais lúdico, como anteriormente.

Acompanhado de banda formada por Luiz Sérgio Carlini (guitarra, violões e lap steel guitar), Alexandre Blanc (guitarras e violões), Willy Verdaguer (baixo), Gabriel Martini (bateria, cajon e percussões), Marietta Vital e Luciana Oliveira (vocais), Guilherme Arantes (voz, piano acústico, piano Fender, clavinet Honner, órgão Hammond e teclados) vai interpretar o repertório do premiado e elogiado disco no qual a presença de “guitarras dialogantes” acabou responsável por criar um componente mais “heavy metal” em suas baladas.

“Queria que elas tivessem o piano, a doçura das canções, mas queria também algo de um rock mais pesadão, que Luiz Sérgio Carlini e Alexandre Blanc acabaram criando graças ao naipe de guitarras da banda”, comemora o cantor, feliz pela profusão de guitarras que ele diz terem faltado em seu passado musical. Ele, no entanto, faz questão de lembrar as presenças do mutante Sérgio Dias, do barão vermelho Frejat e do próprio Carlini em trabalhos anteriores.

A bateria de Gabriel Martini, que dividiu com ele e o filho Pedro a produção de 'Condição humana', também é comemorada pelo artista. O disco foi gravado no Coaxo do Sapo, estúdio e selo próprios, que ele montou em Camaçari, vizinha a Lauro de Freitas, onde mora há 14 anos, na Bahia. O responsável pelo baixo é o argentino Willy Verdaguer, que tocou com os Secos & Molhados e os Beat Boys (que dividiu com Caetano Veloso a célebre interpretação de 'Alegria, alegria' no Festival de MPB da TV Record, em 1967). Atualmente, o baixista é líder do grupo Raízes de América.

Infra própria

Na opinião de Guilherme Arantes, a criação do Coaxo do Sapo foi fundamental para ele montar a infraestrutura que antes era oferecida aos artistas pelas chamadas majors, as gravadoras multinacionais. “Hoje você monta a sua infra ou morre”, constata Arantes, que, pela primeira vez, se viu na condição de sucesso de crítica graças ao novo disco. “Já imaginava que nesta encarnação não iria ter mais condições para isto”, afirma o cantor, atribuindo o ocorrido a uma série de fatos que foram se somando. “Mano Brown fala bem de mim, a cultura negra olha de outro jeito para mim. O DJ Zé Pedro faz um disco com as cantoras interpretando minhas músicas”, vai listando fatos que, acredita, tenham contribuído para a adesão à sua música.

Além das gravações de músicas suas por Vanessa da Mata ('Um dia um adeus') e Adriana Calcanhotto ('Meu mundo e nada mais'), entre outras. “De repente me vejo tocado por várias personalidades, especialmente as mulheres, o que foi muito importante”, avalia Arantes que, na década de 1980, tornou-se hit na voz de Elis Regina com Aprendendo a jogar. Tudo isso desembocou no coro all star que ele formou para acompanhá-lo na gravação de 'Condição humana': de Tulipa Ruiz à filha Marietta Vital, passando por Marcelo Jeneci, Curumim, Kassin, Adriano Cintra, Thiago Pethit, Marcelo Segretto, Tiê, Mariana Aydar, Duo Ani, Edgard Scandurra e Luciana Oliveira.

“Foi incrível fazer o coro em 'Onde estava você?'. De repente, uma galera muito jovem que gosta de mim e até da ideologia da minha música. Todos ali poderiam estar ricos, mas lutam por uma música ética”, elogia a turma, reconhecendo em Marcelo Jeneci uma espécie de “filho, um presente da minha música”. “Senti-me em casa com ele. Nada foi manipulado nem fabricado”, confessa Guilherme Arantes, consciente de que o novo disco ainda tem muito chão para percorrer. Depois de Tudo que eu só fiz por você, o novo single do disco é Você em mim.

Arantes não esconde a esperança – “não sei se ilusões” – de ter uma das faixas do disco aproveitada em trilha sonora de novela, por julgá-lo comercialmente viável. “Enquanto Mariozinho Rocha estiver focado nas classes C e D fica difícil para mim, Skank, Jota Quest, Pato Fu. A gente está sofrendo muito, praticamente ninguém é mais hitmaker”, afirma. “Está difícil fazer o crossover”, admite o artista, salientando que a moda está muito comportamental, além de a juventude, em sua opinião, não estar interessada em papo-cabeça.
 
“Lógico que tem nuances nas cidades. Fui ver o Rodrigo Amarante, que está fazendo um show reflexivo, melancólico. Mas é um gueto, não se espalha, não contamina”, garante Arantes, ressaltando que a cultura mais elaborada é cheia de escrúpulos e dedos, não querendo ser identificada com o chamado brega ou populacho. “Vivemos em uma sociedade de camadas que não se contaminam entre si. Então é complicado para artistas do meu perfil. E isso não é exclusivo do Brasil”, avalia.

Além dos novos sucessos ('Tudo que eu só fiz por você', 'Castelo do reino', 'Cruzeiro do Sul' e 'Olhar estrangeiro'), Guilherme Arantes vai mostrar clássicos como 'Meu mundo e nada mais', 'Amanhã', 'Cheia de charme' e 'Planeta água' em show que tem cenário de Anna Turra e iluminação de Alexandre Carmo.

GUILHERME ARANTES & BANDA
Quinta-feira, às 21h, no Teatro do Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Ingressos: plateia 1: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada); plateia 2: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia);  plateia superior: R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia). Informações: (31) 3214-5350.