É no diálogo da nova com a velha safra que está um dos acertos de 'Abraçaço', show absolutamente econômico, do power trio formado por Pedro Sá (guitarras), Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), ao cenário geométrico, e à própria presença de Caetano, que deixa a verborragia costumeira de lado para concentrar-se unicamente na música.
'A bossa nova é foda', 'Um abraçaço', 'Parabéns', todas do álbum de 2012, ganham outra dimensão ao vivo. Têm resposta fácil da plateia, que embarca no Caetano de outrora com 'De noite na cama' (em que chega a desabotoar a camisa), 'Reconvexo' (com a plateia enfatizando o verso “quem não rezou a novena de Dona Canô”) e 'Você não entende nada'.
Mas o melhor de 'Abraçaço' não está no mais festivo ou no mais popular, e sim numa sequência um tanto melancólica, iniciada com 'Um comunista', o libelo a Carlos Marighella, que dá lugar a 'Triste Bahia' (do icônico 'Transa', de 1972, com versos de Gregório de Mattos), aqui interpretada de forma doída pelo baixo de Dias Gomes e a guitarra de Pedro Sá e 'Estou triste'.
É nesse diálogo entre velho/novo, passado/presente que Caetano comprova que sua reaproximação recente com o público jovem, iniciada em Cê, se dá não apenas pela sonoridade “roqueira” de sua banda atual, mas pela atemporalidade de sua obra. Nem precisaria se render ao apelo fácil de 'A luz de Tieta', deixada para o bis. Caetano é melhor quando é diferente.