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'Abraçaço' tem arrebatado o público. Você esperava tamanha recepção?
Sinceramente, não. Não tinha ideia de como poderia ser recebido. Fiquei surpreso quando muitas pessoas me diziam que adoravam o disco. Quando o show estreou, me impressionou muito que as plateias cantassem 'Abraçaço', a segunda parte de 'O império da lei' e 'A bossa nova é foda'. No Circo Voador, no Rio, cantavam até o refrão de 'Um comunista' (isso me comovia). Pensamos que era um público especial, do Circo, que conhecia as músicas do disco novo (embora mesmo ali isso fosse inesperado para mim). Mas a segunda cidade que nós fizemos foi Fortaleza. E o público de lá também cantava essas músicas. No Recife, cantavam até a frase “Quero ser justo”, bem alto, comigo, quando esse verso aparece no meio do solo de Pedro Sá. Daí em diante fomos nos acostumando. Em BH foi divino, tanto no Palácio das Artes quanto na Praça da Estação.
Não mudou muito. No Circo e em Fortaleza, fizemos 'Alexandre', que adoro mas nunca consegui decorar. Não mudamos muito ao longo da temporada. O show tem uma estrutura. E na verdade é isso que as pessoas querem ir ver. O que não quer dizer que uma ou outra novidade não possa surgir no bis.
Diante da plateia, o que você descobriu sobre 'Abraçaço'? A receptividade a alguma das canções te surpreendeu?
A receptividade às canções novas, todas, me surpreendeu. Ainda não fomos à Europa e pensava que esse show talvez só tivesse comunicabilidade com plateias brasileiras: as canções novas podem ser apreciadas pelas letras e as antigas são conhecidas aqui, mas na sua maioria não foram gravadas por mim e sim por outras pessoas – e eu pensava que estrangeiros podiam achar um show muito fechado. Mas Buenos Aires e Montevidéu me fizeram mudar um pouco essa expectativa. Não sei o que pode acontecer na Europa, na Ásia e nos EUA.
Diante desse sucesso todo, você pensa mesmo em encerrar o ciclo com Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado? Vai mesmo deixar a Banda Cê?
Não tenho vontade de deixar essa banda. Quando comecei a gravar 'Abraçaço', imaginei que o ciclo se fechava. Agora, fazendo os shows, não penso no assunto. E quando alguém fala nisso, como você, sinto que não quero deixar a Banda Cê de jeito nenhum. Enfim, deixo para pensar nisso depois.
Você tem afirmado que a bossa nova, além de foda, é masculina – “macha”, eu diria. O que você quer dizer com isso?
A bossa nova jé está estabelecida na história. O acontecimento total que foi João Gilberto inventar aquele jeito de tocar samba no violão e dar a Jobim, Vinicius, Lyra, Bôscoli e Menescal o caminho para desenvolverem seus estilos – além de reestudar Ary, Caymmi, Geraldo Pereira, Bide, Marçal e Wilson Batista – fez uma marca indelével no mundo. Em 'A bossa nova é foda' me refiro a esse momento em que a coisa explodiu. Foi o big bang. Nosso universo se formou ali. De Chico Buarque a Tim Maia, de Roberto Carlos a Jorge Ben, dos tropicalistas aos rockeiros dos anos 80, do Mangue Beat à Lira Paulistana, tudo e todos devem àquele gesto. E seus ecos chegam até Beck, sem falar em coisas como Nouvelle Vague. João gosta de MMA. O jiu-jitsu brasileiro, em sua invenção da luta livre moderna, é a bossa nova das artes marciais. É uma síntese brasileira – e os lutadores brasileiros ainda são maioria entre os melhores. (Eu próprio nunca tinha gostado de lutas, mas meus filhos gostam e me mostraram muitas coisas: meu favorito é José Aldo). Em suma, minha estranha canção, com uma letra que parece um conceito de palavras cruzadas e uma música que não tem nada de bossa nova, é o desmentido de um gênero que se criou como diluição da invenção de João. Ele próprio passou anos sem cantar a expressão bossa nova em 'Desafinado'. Não é um gênero. Foi uma revolução.
ABRAÇAÇO
Chevrolet Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro, (31) 3209-8989. Neste sábado, 22h. Mesa: esgotado. Arquibancada/inteira: R$ 80 (1º lote), R$ 100 (2º lote) e R$ 120 (3º lote). Meia-entrada na forma da lei. Permitida a entrada de adolescentes de 14 e 15 anos acompanhados dos pais ou responsáveis legais.