Se o Rock in Rio fosse um ser, ele seria Ivete Sangalo. Com todos os polegares para cima e para baixo que a definição possa significar, é esta mulher quem representa melhor o que o festival se tornou desde 1985, quando começou a fazer história. Grande, com um alvo de longo alcance, mais para entreter do que fazer pensar, Ivete é uma locomotiva indomável sobre duas pernas esculturais, movida por uma urgência de vida. Seu show de ontem, 13, foi um tratamento feito a base de choque, administrado por longas doses de adrenalina desde a primeira canção. É como se a montanha russa de Ivete não tivesse subida, só descida. E como se não convidasse, mas sim sequestrasse aqueles que passam por perto para um longo passeio.
É como se tudo viesse pensado para fazer as pessoas tirarem o pé do chão o tempo todo. Os ranzinzas que estão no público precisam ter personalidade. País Tropical, Real Fantasia, Arerê, Berimbau Metalizado, Não Quero Dinheiro, Festa, Acelera Aê. Jogadas assim parecem repertório de festa de formatura. Mas no palco fazem sentido, com seus arranjos bem amarrados. Muito além do axé, ela migra para o rock, o funk, o reggae, mas tudo para ser absorvido por qualquer um.
Ivete não parecer querer ganhar status entre cantores e críticos. Sua sucesso é medido pela quantidade de cabeças em movimento. E no Rock in Rio, não houve um instante em que ela permitiu que esse movimento parasse. Quando pareceu acalmar, colocando um piano na festa, começou a cantar Love of My Life, do Queen, para espertamente lembrar do momento mais emocionante de todas as cinco edições do Rock in Rio. Fez o mundo que estava a sua frente cantar a música que um dia foi regida no mesmo Rock in Rio por Fred Mercury. Nenhuma tirada poderia ser melhor. Até Orlando Moraes, se fizesse o mesmo, colocaria a Cidade do Rock a seus pés. O Rock in Rio que não é mais apenas rock tem em Ivete Sangalo, que não é mais apenas axé, sua mais completa descrição.
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