Fortaleza – Ela canta e muito. No entanto, Beyoncé insiste em que não prestemos atenção em seu poderio vocal. Somente na meia hora final das duas de duração de 'Mrs. Carter show' é que a catarse, a experiência única provocada por um grande espetáculo, acontece. Em meio ao delírio sensorial provocado por imagens do telão de LED de altíssima definição, extensa troca de figurinos (nove, ao todo), fumaça, fogo, jogos de luzes, inúmeros integrantes (Suga Mama, a banda que a acompanha, conta com 10 instrumentistas, todas mulheres; há também outra dezena de dançarinos) o olhar se perde. E, muitas vezes, se confunde.
Confira o esquema de trânsito no entorno do Mineirão para o show de Beyoncé em BH
saiba mais
-
Ingressos para show de Beyoncé em BH são vendidos pela metade do preço
-
Lista de exigências de Beyoncé no Brasil inclui oito camarins e comida light
-
Beyoncé mostra carinho por fãs em vídeo de bastidores do show que vem a BH
-
Público chega cedo e entrada no show de Beyoncé tem pouca fila
-
Coral Lírico e Orquestra Sinfônica se apresentam no Festival Gabriel Fauré
-
Solange Knowles, irmã caçula de Beyoncé, conquista fãs com o soul
-
Show em BH destaca a importância do 1º CD solo de Otto para a MPB contemporânea
Desde o primeiro semestre Beyoncé está correndo mundo com sua terceira turnê internacional. 'Mrs. Carter show' faz referência ao sobrenome do marido, o rapper Jay-Z, nascido Shawn Corey Carter. Foi concebido para ser o grande show de 2013. E é inegável que deve terminar este ano como tal, dada a parafernália tecnológica que o acompanha. Beyoncé parece desconhecer o conceito de que menos é mais. A opulência encanta nos primeiros momentos, até cansar dada a quantidade de estímulos sensoriais. Curtir, ou não, fica ao gosto do freguês.
O conceito do show é basicamente o seguinte: um telão que vai de uma lateral à outra do palco (uma espécie de parede) atua quase como mais um personagem no universo da Beyoncé. Ora ele está rente ao palco, servindo como pano de fundo (e escondendo a banda, que fica suspensa na parte de trás); ora ele está em cima, exibindo vídeos criados para os momentos em que a cantora está nos bastidores fazendo a troca de figurinos. Dois telões postados nas laterais atuam como suporte para assistir ao espetáculo.
Narrativa
Com 25 minutos de atraso, Beyoncé entrou no palco do Castelão depois de mostrar, no primeiro dos vídeos com narrativa, ela ser coroada num reino absolutamente branco. Surge, agora finalmente em carne e osso, no collant branco bordado. Abre o show com o hit 'Run the world (Girls)', que dá lugar a 'End of time', música que é seguida de cascata de fogos (isso em pouco mais de 15 minutos de apresentação). Ao final da canção, Beyoncé faz o primeiro dos poucos contatos diretos com o público, quando cumprimenta a cidade de Fortaleza e faz as obrigatórias menções ao Brasil.
Canta no meio do público 'Flaws and all' e depois sai para a primeira troca de roupas (volta com um collant preto). Aí o vídeo de espera já a exibe num mundo destruído. A montanha-russa vai e vem ao longo da hora seguinte. Entre os destaques está a execução de 'Baby boy', com Beyoncé sozinha acompanhada do telão todo branco, que brinca com imagens em P&B; 'Naughty girl', em que ela, em frente a um biombo acolchoado, faz um arremedo do que Madonna fez em 'Human nature', só que com jogo de espelhos, na turnê 'MDNA; Party' remete aos antigos cabarés, e a cantora dança no meio de uma roda de plumas.
É a partir de 'Irreplaceable' que ela vai ao encontro do público. No palco pequeno, mais perto da plateia, as pessoas finalmente pegam na diva. Começa aí a catarse propriamente dita (já tem 1 hora e 20 minutos de show!), com uma sequência que inclui 'Love on top' (e seu delicioso acento Motown), e os megahits 'Crazy in love' e 'Single ladies (Put a ring on it)'. Essa última, obviamente, é acompanhada pela indefectível coreografia que toma conta do gramado do estádio. Menos espetacular, mais cantora, Beyoncé capricha nos característicos rebolados e jogadas de cabelo (o aplique atual, por sinal, está pouco abaixo dos ombros).
Volta numa exuberância kitsch com 'Grown woman', faixa percussiva que remonta à África (telões exibem animais; figurinos trazem estampas estilizadas de onças) para retornar, daí pela última vez. O vídeo final, uma egotrip que a mostra como benfeitora, mulher pública (ao lado de Obama) e também com a filha Blue Ivy (que a acompanha no Brasil) a prepara para a entrada final. Em contraluz, homenageia Whitney Houston com 'I will always love you', seguida de explosão de luzes que a levam para o centro do palco a cantar 'Halo' e 'Suga mama', que encerraram o show.
Com mão de ferro
É um contrassenso e tanto, já que quase não se vê uma pessoa do público que não esteja munida de celular com vídeo e câmera. NA segunda-feira, já no início da manhã, toda a sorte de imagens da cantora, feitas por fãs, estava disponível na internet. Esse é o único momento em que Beyoncé não consegue exercer o controle de sua imagem. Porque de resto a diva atua com mão de ferro. Além dos dois fotógrafos que integram a equipe internacional da turnê, não houve outro registro profissional permitido.
Até o encontro com a imprensa foi ensaiado. Antes do show, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas estiveram com ela numa área reservada do Castelão. Tiveram a companhia de 10 adolescentes da Central Única de Favelas (Cufa), que momentos antes haviam feito um tête-à-tête com a cantora. Ela responderia a apenas três perguntas, que tinham sido enviadas previamente para aprovação pela produção da cantora.
Subiu a um pequeno tablado em que posou para fotos enquanto respondeu a coisas protocolares como “meu sonho sempre foi conciliar a vida pessoal com a carreira, porque é tão difícil ter uma carreira e ser mãe”; “gosto tanto do Brasil que nem sinto que estou trabalhando”; “sempre fico animada quando posso usar coisas novas nos meus shows. Acho que esse é o que tem o maior número de luzes na história de todas as grandes turnês.”
Foram sete minutos, em que ela, de pé, short curtíssimo e salto vertiginoso, não perdeu a pose para responder às perguntas enquanto os flashes espocavam. Bem, só uma vez. No primeiro momento em que subiu ao tablado logo desceu. O colar tinha sido aberto.
Tem bilhete na promoção
Uma semana antes da apresentação de Beyoncé em Belo Horizonte, anúncios em sites de compras coletivas anunciavam promoções de até 50% no preço dos ingressos para a pista. Como ainda tem ingresso disponível, é sinal de que por aqui a passagem da cantora não será tão avassaladora quanto o esperado. Pelo menos em termos numéricos. A produção está preparada para receber 40 mil pessoas, sendo que a estimativa é a partir de 30 mil.
A montagem do palco no Mineirão começou assim que terminou a partida entre Cruzeiro e Flamengo, no domingo. Quinze carretas já foram descarregadas. A previsão é de que hoje à tarde o restante do material chegue de Fortaleza, inclusive os painéis móveis de LED que concentram boa parte da graça da performance de Mrs. Carter show.
O show está marcado para 20h30 e a previsão é de que até meia-noite não haja mais ninguém dentro do estádio. É esse o acordo feito com a Minas Arena. Os portões serão abertos às 17h30. Aqueles que optarem pelo transporte público contarão com 10 linhas de ônibus que dão acesso ao evento. São elas: 2004 (Bandeirantes/Pilar via Olhos D’água); 5401 (São Luiz/Dom Cabral); 64 (Estação Venda Nova/Santo Agostinho via Carlos Luz); Circulares 503 e 504 (Santa Rosa/Aparecida/São Luís); Suplementares 51 e 52 (Circular Pampulha), 53 (Confisco/Pampulha/São Gabriel), 54A e 54B (Dom Bosco/Shopping Del Rey). Quem quiser ir de carro, o estacionamento do estádio estará disponível pelo valor de R$ 50, a partir das 15h30. (Carolina Braga)
BEYONCÉ
Quarta-feira, às 20h30, com abertura dos portões às 17h30
Local: Mineirão
Endereço: Av Antônio Abrahão Caram, 1.001, Pampulha
Informações: (31) 2532-8201
Cadeira superior: 1º lote: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia); pista: 1º lote: R$ 260 (inteira) e R$ 130 (meia); pista premium: 2º lote: R$ 600 (inteira) e R$ 300 (meia); camarote premium Beyoncé, 2º lote: R$ 550.