Talvez o grupo que melhor traduz a somatória de contradições, picos criativos, excessos, ambições, triunfos, estrelismos, desilusões, conflitos pessoais e histeria coletiva que tipificaram as grandes bandas de rock de sua época, The Eagles se viu transportado para as telas de cinema pelo trabalho meticuloso do diretor Allison Ellwood. Junto ao produtor Alex Gibney (documentarista já laureado com um Oscar), Ellwood optou por dividir em duas partes a história do quarteto de Los Angeles.
De forma tangencial à cronologia dos fatos, ambas terminam por se entrelaçar durante a narrativa, reconstituindo com intimidade flashes da trajetória de cada um dos protagonistas – como não se emocionar, por exemplo, diante da voluptuosa imponência de Linda Ronstadt, diva do country-rock cujo hedonismo aditivado por cocaína culminou com seu septo nasal substituído por um implante de platina, dos conflitos que culminaram na expulsão do guitarrista Don Felder ou da tresloucada genialidade do multi-instrumentista Bernie Leadon, cuja saída do grupo que fundara se deu quando derramou uma garrafa de cerveja sobre a cabeça de um atônito Glenn Frey? Essa saga veio forjar um dos monstros sagrados da era de ouro do rock.
Se Beatles rima com Eagles pelo menos em termos de harmônica sonoridade, guardadas as devidas proporções não há como deixar de enxergar certas similaridades na constante – e, no mais das vezes, disfarçada – fricção que sempre corroeu as entranhas de ambas as formações. No caso do último, mesmo diante da esperada omissão acerca da transformação do grupo em um feudo comercial conduzido com mãos de ferro pelos veteranos Don Henley e Glenn Frey, 'History of the Eagles' dá seu recado ao comprimir de forma compreensível os 42 anos de pena no tal “inferno congelado” onde os membros dos Eagles se mantiveram reclusos em pouco menos de quatro horas de duração.