Hinos embalam as torcidas mineiras, mas seus autores não recebem direitos autorais

Família de Vicente Mota recorre à Justiça e quer ver o Galo no Guinness world records

por Ailton Magioli 02/09/2013 07:20

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Alexandre Guzanshe/EM/D. A. PRESS
Carlos Gustavo, neto de Vicente Mota, autor do hino do Atlético, com a tia Nancy, a irmã Giulia e a mãe Vânia (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A. PRESS)
Carlos Gustavo Alves Mota dos Santos jamais se esqueceu da primeira vez que foi ao Mineirão com o avô, Vicente Mota. “Era a Copa Centenário de Belo Horizonte. O Atlético empatou em 2 a 2 com o Milan e vovô chorou ao ouvir a torcida cantar o hino criado por ele”, relembra o estudante, que tinha 6 anos na época.


Desde pequeno, Carlos sabe de cor o hino do Galo. “Nós somos/ Do Clube Atlético Mineiro/ Jogamos com muita raça e amor...”, anunciam os primeiros versos da marcha composta em 1969. Com base na popularidade do cântico alvinegro, a família Mota reivindica ao famoso Guinness world records que a composição de Vicente seja registrada como o hino mais cantado nos estádios do mundo.


Boa parte dessa popularidade se deve ao próprio compositor montes-clarense, que criou esse verdadeiro “patrimônio imaterial” atleticano sob encomenda.“Cantem com a charanga o nosso hino oficial”. Assim estava escrito em centenas de cópias xerox distribuídas por Vicente Mota nos estádios enquanto o Atlético jogava. Simples e relativamente barata, a tática contribuiu para que a trilha sonora do Galo vencesse a eleição do mais belo hino de clube de futebol do mundo. A proeza se deu em Nápoles, na Itália, em 1976.


Vicente Mota é também autor dos hinos do América mineiro e de dois clubes belo-horizontinos, o Labareda e o Vila Olímpica. O primeiro hino do Atlético data de 1928, com música do maestro Augusto César Moreira e letra do poeta Djalma Andrade. Mota compôs o hit alvinegro a pedido de Alberto Perini, diretor do Galo.

Beto Novaes/EM/D.A Press 29/10/03
Jadir Ambrósio, de 91 anos, autor de hino do Cruzeiro, nada recebe de direitos autorais (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press 29/10/03)
Para poucos Torcedores do Cruzeiro Esporte Clube acompanham seu time do coração ao som da música de Jadir Ambrósio. Aos 91 anos e recém-saído do hospital, o veterano compositor garante: “Faz hino quem sabe, quem não sabe não faz”.


O sucesso nos estádios, porém, não é sinônimo de lucro para os dois compositores. Reunida em torno do Troféu Galo de Prata recebido por Vicente Mota – honraria conferida pelo Atlético a seus mais fiéis seguidores –, a família do autor do hino oficial do Galo revela que o músico pouco recebeu de direitos autorais.


“A Editora Euterpe sempre repassava algo a meu pai, mas de meses em meses”, diz a professora Nancy Alves Mota, com o assentimento da irmã, a dona de casa Vânia Isabel Alves Mota. As duas são filhas do primeiro casamento do montes-clarense, que deixou duas famílias.


Vicente morreu em 2001. Do falecimento dele até o inventário, concluído no ano passado, a família diz nada ter recebido. Na Justiça, corre ação solicitando a prestação de contas da editora, com sede no Rio de Janeiro. O hino atleticano foi lançado em compacto simples da CBS. Posteriormente, foi reeditado no mesmo formato pela CID.


Problema pior enfrenta Jadir Ambrósio. Os filhos garantem: o pai nada recebe de direitos autorais pelo hino que embala as vitórias da Raposa.


Duas vezes América

 

O América mineiro tem dois hinos. O legítimo foi composto pelo atleticano Vicente Mota. O não oficial veio de dois craques do Clube da Esquina: Tavinho Moura e Fernando Brant.


“Fizemos uma homenagem ao clube, não um hino”, explica Tavinho, contando que, por falta de experiência, acabou criando arranjo incompatível com os estádios. “Fiz em si bemol, mas o ideal seria em dó”, reconhece. Resultado: tornou-se impraticável para a charanga executar a parceria Moura-Brant.

“O hino acabou virando uma armadilha para todos nós”, admite Tavinho, contando que, recentemente, fez uma gravação “mais confortável” da marchinha.


Para o compositor carioca Nei Lopes, hino de time de futebol é uma espécie de canção utilitária. “Digamos assim: é como jingle, que tem a finalidade de vender o produto. Ele louva, enaltece. Nunca vi um hino feito para esculachar, espinafrar”, diverte-se. E compara a trilha sonora oficial dos estádios a marchas marciais, épicas, “como a Marselhesa e o nosso Hino nacional”.

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