Prestes a completar em novembro 20 anos a serviço do assim chamado classic rock, mas sempre aberta para a divulgação de artistas ligados a novas tendências, bem como a trabalhos experimentais e fora do circuito convencional, a revista inglesa Mojo ainda é a publicação mensal impressa mais respeitada sobre música pop do mundo. Por lá circularam críticos do renome de Charles Shaar Murray, Nick Kent, Greil Marcus e Paul Du Noyer, cujo texto refinado, insight e conhecimento enciclopédico sobre a matéria ajudaram a avaliar de forma singular – em generosas matérias de 20, 30 páginas – tanto a obra de medalhões como Beatles e Dylan quanto aquela criada por valores emergentes praticamente desconhecidos do grande público – vale lembrar que Mojo foi a primeira publicação ligada ao mainstream a destacar enfaticamente o trabalho do ainda embrionário duo The White Stripes.
saiba mais
-
Britney Spears faz suspense ao colocar contagem regressiva em seu site
-
Site oficial de Beyoncé divulga vídeo de sua turnê no Brasil
-
Famosas gravações dos Beatles na BBC ganham segundo volume em novembro
-
Entrevista com John Lennon revela bastidores do último álbum dos Beatles
-
Gravata de John Lennon é leiloada por US$ 5,6 mil
-
Franz Ferdinand lança álbum de inéditas que reflete frescor do início de carreira
-
Leandro Braga homenageia Milton Nascimento ao piano em novo álbum
-
Gilberto Gil é atração da 10ª edição do Mimo
Entre as atrações mais festejadas pelos leitores de Mojo estão os CDs temáticos que seus editores anexam como brinde da revista. Produzidos com esmero a partir da colaboração voluntária de músicos da velha e da nova geração, os CDs bônus da Mojo já chegam ao mercado com status cult, tornando-se itens disputados a tapa entre os colecionadores. Foi o que ocorreu com as regravações integrais dos antológicos 'The wall/The dark side of the Moon' (Pink Floyd), 'Harvest' (Neil Young), 'Pet sounds' (Beach Boys”), 'Sgt, Peppers... /The white album' (Beatles), 'Sticky fingers' (The Rolling Stones), 'Power', 'corrruption & lies' (New Order), 'Rumours' (Fleetwood Mac) e 'The songs of Leonard Cohen' (Leonard Cohen) – prática que na edição de agosto Mojo retoma com a revisão completa do álbum With the Beatles, com cada uma de suas 14 faixas executadas em versões inéditas e na mesma sequência estabelecida para o álbum original.
Covers bacanas
Despretensiosa, mas de uma sinceridade a toda prova, a edição do rebatizado 'We’re with the Beatles' revê o clássico lançado pelo Fab Four em 1963 de modo a não deixar dúvidas de que, se com o prévio 'Please, please me' o então iniciante quarteto de Liverpool apresentara um frenético cartão de visitas, sua poderosa sequência era a confirmação sônica de que Paul, Ringo, John e George realmente haviam chegado para ficar. Hoje, quando a gravação comemora meio século (!) de sua chegada às lojas no formato de vinil de 12 polegadas, o remake provido pela Mojo confirma de modo peculiar que o material lá contido era bem mais do que alguns céticos acreditavam ser mais outra amostra do tal iê-iê-iê, um parvo modismo juvenil que, em questão de meses, talvez semanas, estava fadado a desaparecer, sem deixar rastro.
Dividido entre temas de Lennon & McCartney, uma solitária contribuição de George Harrison e releituras de hits compostos por Chuck Berry, Smokey Robinson e Berry Gordy, entre outros, With the Beatles serviu aos fãs com um delicioso coquetel de soul da Motown, baladas ao modo das girl-groups da época, canções pinçadas de musicais da Broadway, r&b, pop e rock’n‘roll. Projetado para o novo milênio, We’re with the Beatles ressurge ostentando timbres inauditos, arranjos ousados e um frescor, digamos, inesperado, mas plenamente condizente com a natureza indelével das grandes obras dos Beatles.
Entre os destaques do disco, impossível não se surpreender diante do abandono ska-soul ao qual o grupo James Hunter Six se entregou a 'I wanna be your man'; da lisergia metafuturista a trespassar os etéreos vocais de Eva Petersen (uma estrela em ascensão que deve estourar logo) e a guitarra technicolor de Will Sergeant (leia-se Echo & The Bunnymen) na harrisoniana 'Don’t bother me'; do assombrado êxtase que tomou o projeto Taken By Trees quando releu a romântica 'Till there was you'; do embalo dançante provido por uma sanfona (!) que emprestou uma aclimatação digna dos mafuás que infestam a zona boêmia de New Orleans em meio ao arranjo cajun-zydeco proposto para 'Please, mr. postman'; da fantasia barroca tramada entre acordes de harpa, piano e synths pelo “holandês voador” em 'You really got a hold me' e do minimalismo espectral com que Marc Rigesford – também um nativo de Liverpool – revisitou (sob o codinome Magic Arm) a balada Not a second time. Enfim, palmas para a equipe da Mojo, pois ela merece, já que a audição de 'We’re with the Beatles' é sinônimo de diversão garantida para velhos e novos fãs do eterno Fab Four.