

De acordo com o DJ Zé Pedro, que assina a apresentação da obra, Mauro oferece ao leitor “um balanço afetivo sem perda da lucidez”. Ali estão perfiladas 25 cantoras que o impressionaram e o comovem enquanto admirador do canto feminino.
AGRESSÃO Para o crítico, a indústria das celebridades contamina demasiadamente o jornalismo cultural. “Inclusive a crítica musical, que hoje soa mais como releases disfarçados. Você se posicionar contra é quase agressão”, defende Mauro. No livro de estreia, ele reuniu 25 pequenos ensaios que vão de Adriana Calcanhotto (“O traço modernista da estilista da canção”) a Zizi Possi (“Sobre todas as coisas, uma bela voz”), passando por Maria Bethânia (“Drama majestoso em atos contínuos”) e Tulipa Ruiz (“Em movimento na floresta pop”).
Para quem sentir a falta de alguns nomes – no país das cantoras é impossível agradar aos fãs de todas elas –, o autor esclarece: “Trata-se, em essência, de uma análise da trajetória fonográfica dessas 25 artistas ao longo de meus 25 anos de atuação no jornalismo musical”. Eventualmente, foi necessário recuar no tempo para falar de artistas em ação antes de 1987. Em síntese, confessa Mauro, seu livro é uma declaração de amor a mulheres que cantam com paixão.
O segundo volume não está descartado. “O assunto não se esgota com esse primeiro livro, que, na verdade, captou bem a nossa diversidade. Mas momentos fortes ficaram de fora”, conclui Mauro Ferreira.
Cantadas - A sedução da voz feminina em 25 anos de jornalismo musical
>> De Mauro Ferreira
>> Organo Grama,
191 páginas, R$ 35
OUVIDO CLÍNICO
>> CANTORA
“Sempre gostei de música e teatro, e Maria Bethânia foi a primeira que me pegou nesse sentido, apesar de também gostar de Clara Nunes, Alcione e Beth Carvalho antes. Bethânia me pegou na adolescência. Ela tem uma discografia impecável, é a que mais me magnetiza, embora Elba Ramalho e Nana Caymmi também tenham esse poder sobre mim. Maria Bethânia, no entanto, é mais teatral. Por isso ela me arrebatou.”
>> DISCO
“Sobre todas as coisas, de Zizi Possi. Possibilitou a ela uma renovação. Mostrou como uma intérprete pode se reinventar. Para isso, bastam talento, voz e vontade que a coisa flui. Com Sobre todas as coisas, Zizi antecipa toda uma estética na música brasileira. E olha que de Estrebucha baby e de outros discos dela eu também gosto. Mas com aquele ela virou a mesa”.
>> SHOW
“Leão do norte, de Elba Ramalho. Show antológico. Elba sempre fez grandes shows mas em Leão do norte, com o qual ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), ela se superou. Na mesma época, Bethânia fez Imitação da vida, um de seus melhores shows. Mas Elba veio com um momento especial. Sinto não haver o registro integral em DVD dessa apresentação, que na época saiu apenas em VHS.”
>> COMPOSITORA
“Adriana Calcanhotto tem assinatura muito interessante. É também uma grande intérprete, mas a obra dela é essencialmente autoral. Ela é como Vanessa da Mata. A impressão que tenho é que as duas cantam porque compõem.”
>> SUCESSO
“Resposta ao tempo, de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc. Com esse bolero, Nana Caymmi arrebatou o Brasil. Não digo nem que tenha sido um divisor de águas na carreira da artista, que é tão coerente. Trata-se mesmo de um momento iluminado.
>> PARCERIA
“Gal Costa e Caetano Veloso. Recanto, por exemplo, é ideia de Caetano, mas se a voz não fosse a de Gal, não seria o que é.”
>> REVELAÇÃO
“Caracterizado pela artista como pop florestal, rótulo que alude à vivência de Tulipa Ruiz na bucólica cidade mineira de São Lourenço, onde ela morou dos 3 aos 22 anos, o som autoral da cantora e compositora se mostrou leve e feminino já no disco de estreia, Efêmera.”