Por analogia, impossível deixar de vincular 1981 à estratégia de guerra-relâmpago de que o trio norte-americano Stray Cats se valeu para tomar de assalto a Inglaterra. Adornados por volumosos topetes, tatuagens, sapatos de sola grossa, paletós drapeados e jaquetas de couro preto e zíperes, Brian Setzer (vocal, guitarra), Lee Rocker (contrabaixo acústico) e Slim Jim Phantom (bateria) deixaram a ilha nova-iorquina de Long Island para se entrincheirar no underground londrino e, de lá, comandar a revolução do neorrockabilly. Um subgênero marcado pelo mesmo espírito iconoclasta e atitude de rebeldia que, nos idos anos 1950, motivou a ascensão de ícones teen como Eddie Cochran, Gene Vincent, Johnny Burnette, Carl Perkins,Warren Smith, Charlie Feathers e Link Wray.
Elogios
Naquele ano, a investida dos “gatos vadios” resultou em casas de show abarrotadas por toda a Europa, um álbum e três singles cravados no intervalo de nove meses no topo das paradas de sucesso, além de elogios rasgados da parte de integrantes dos grupos Led Zeppelin, The Who e Rolling Stones. Não faltou sequer o efeito bumerangue que os arremessou de volta aos Estados Unidos a tempo de beneficiá-los pela exposição massiva de seus vídeos na então nascente MTV.
A “straycatsmania” ainda se estenderia por mais dois anos. Porém, a superexposição acabou por minar o poder avassalador da banda, levando-a a se dividir em duas facções: enquanto Setzer optava pela carreira solo, os demais se alinhavam com um ex-guitarrista da banda de apoio de David Bowie para fundar o power-trio Phantom, Rocker& (Earl) Slick. Como ambas investidas não deram em nada, os Stray Cats quiseram voltar atrás, reunindo-se de novo em 1986. Em vão, já que a mágica inicial havia se desvanecido no ar.
Para quem não teve o privilégio de ouvi-los no auge da forma ou ficou curioso com tal história, a chegada do DVD Stray Cats – Live at Montreux – 1981 ao Brasil vem mesmo a calhar. Transbordando carisma, técnica instrumental e energia, Setzer, Rocker e Phantom só precisam de alguns segundos para deixar o público literalmente de quatro.
Ao longo de 80 minutos, o velho rockabilly rejuvenesce a olhos vistos graças à fabulosa pressão imposta pelo trio. Milagre sônico manifesto não só durante a execução das autorais Rock this town, Runaway boys, Drink that bottle down, Storm the embassy e Rumble in Brighton, mas que adquire ares de completa veracidade quando, tomados de fúria e feeling, os Stray Cats releem clássicos do gênero como Be-bop-a-lula (Gene Vincent), Sweet love on my mind (Johnny Burnette), Ubangi stomp (Warren Smith) e Somethin’ else (Eddie Cochran).