Foi no gramado do quintal que pouco a pouco a cantora Marina Machado se reencontrou com a música depois da maternidade. “O Jorge se arrasta nesse chão desde que ele tinha quatro meses. E eu ficava aqui, ouvindo músicas aleatoriamente”, conta, acomodada em uma poltrona bem no meio do gramado. Cercada por aroeira, bananeira, tomateiro, um pé de abóbora e até um minhocário, Marina demonstra o quanto a estética escolhida para o trabalho faz sentido em seu momento de vida.
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“Não procurei nenhum compositor para fazer o disco. É como se tivesse perdido contato com o mundo” conta. Para escolher as oito faixas, Marina trocou figurinhas com o coprodutor do álbum, Dênio Albertini. Foi ele quem lhe apresentou, por exemplo, 'O melhor vai começar', de Guilherme Arantes, 'Cara bonita', de Carlos Lyra, e 'Vai chover', de Nei Lisboa. A essas canções juntam-se 'Que volte a tristeza', de Johnny Alf, 'É tarde', parceria de Samuel Rosa e Chico Amaral gravada pelo Skank, e 'Embora o mundo nos separe', também de Chico com Affonsinho.
A única que não é totalmente novidade no repertório de Marina é a versão suave para 'Que pena', de Jorge Ben Jor, com direito à reprodução de um trecho da trilha sonora do filme 'O homem do Sputnik', com Norma Benguel e Oscarito. A citação, aliás, tem a ver com a carreira de atriz da cantora. Quando Marina fez 'Hollywood bananas', sob a direção de Eid Ribeiro, interpretou justamente o papel de Norma Benguel.
A brincadeira entrou no CD por sugestão de Alexandre Mourão e Lenis Rino, parceiros musicais de longa data. Alexandre Mourão, o Boi, como é chamado, toca contrabaixo com Marina há 10 anos, o mesmo tempo que Lenis Rino cuida da bateria. Junto deles, completaram a banda de 'Quieto um pouco' Tatá Spalla (violões, ukulele e guitarra) e Ricardo Fiúza (teclados e escaleta).
“Não é um CD temático. Tem uma linha estética musical dos arranjos, com baixo e bateria. É um disco de groove. É balançado, só que ele é low, quieto um pouco”, diz. Diferentemente dos outros álbuns, quando Marina Machado se voltava totalmente para a criação, 'Quieto um pouco' foi feito nas brechas do papel de mãe.
Ritmo doméstico O esquema de gravação de 'Quieto um pouco' foi caseiro, no bom sentido do termo. O registro das vozes, por exemplo, era feito somente depois que Jorge já estava na cama. Detalhe: no escritório que a cantora tem em casa. Dinâmica bem diferente de outras épocas. Quando gravou 'Tempo quente' (2008), Marina reconhece que a ansiedade reinava.
“Tinha aquela coisa difícil de estar saindo de um trabalho com o Milton Nascimento e ter que mostrar alguma coisa. Agora não. Continua tendo muita importância, porque amo o que faço, mas é só um momento que faz parte de tudo isso”, conta. Daquele álbum, 'Os grilos', de Samuel Rosa, foi parar até em trilha de novela, mas o feito não mudou em nada a relação que a cantora tem com a música que procura fazer e as escolhas tomadas na carreira.
Aos 40 anos, Marina Machado se diz muito mais segura. Para ela, a maternidade foi elemento-chave para reconhecer o quanto mudou. Até mesmo o que pensa sobre a própria a voz não deixa espaço para inseguranças. “Não acho que tenho uma voz bonita. Tenho condições. Sou potente ao mesmo tempo em que sou suave. Já consegui fazer tanta coisa com a minha voz: atuar, cantar rock, bossa nova. Dou conta disso tudo e nos graves acho que tenho um veludo”, analisa. 'Quieto um pouco' revela essa versatilidade.
No texto de apresentação do disco, Chico Amaral escolhe “despojada” como palavra adequada para descrever Marina. Ela concorda e burila o termo. “Isso é ser simples, econômica. Não fico querendo fazer um CD cheio de arranjos de orquestra. Penso na coisa real, o que é possível. Isso é um despojamento”. É bom lembrar, o momento agora é outro.
Novo estilo no palco
O lançamento de 'Quieto um pouco' será dia 19, no Teatro Brasdesco. O show terá direção de Rodolfo Vaz e Fernanda Vianna, atores do Grupo Galpão, com participação de Celinha Braga nos vocais. Como Marina gosta de dizer, ela se considera cantora que topa fazer outras coisas. Se é assim, a hora do show será o momento de se revelar. “No palco estou nuance total”, garante, em oposição ao estilo low profile que reina no disco.
Marina Machado promete misturar novo repertório com canções de Tempo quente e músicas que não podem faltar, como Casa aberta, gravada em 'Baile das pulgas'. Sendo coerente com a estética do álbum – e também com a opção de levar uma vida mais sustentável –, o cenário de Joanna Sanglard é todo feito com material reciclado. A iluminação será assinada por Bruno Cerenzoli e o figurino por Júlia Braga.
A banda do show será formada por Alexandre Mourão (contrabaixo), Lenis Rino (bateria e eletrodos), Tiago Borba (violões, ukulele) e Richard Neves (teclados). Para vender ingressos e CDs antecipadamente, a cantora colocou no ar campanha no site colaborativo Catarse. O prazo para aquisição das cotas encerra-se sexta-feira. Por enquanto, atingiu 83% da meta. Endereço do Catarse: https://catarse.me/en/marinamachado.
DISCOGRAFIA
'Baile das pulgas' (1999)
'Marina seis horas da tarde' (2002)
'Tempo quente' (2008)
'Quieto um pouco' (2013)
Confira um teaser de 'Quieto um pouco':