Para uma orquestra, a gravação de um disco tem significado bem diferente em relação à realidade dos artistas da música popular. Os próprios regentes não chegam ao consenso, como fica claro na contraposição das ideias do romeno Sergiu Celibidache e do austríaco Herbert von Karajan: o primeiro se recusou a gravar por acreditar que tal processo é incompatível com o ato espontâneo e único de fazer música; o segundo perseguiu a perfeição sonora ao registrar praticamente todo o repertório sinfônico tradicional.
Para o maestro paulistano Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular da filarmônica, o disco funciona como retrato da evolução da orquestra, criada em 2008 e composta por músicos brasileiros e estrangeiros. “O CD já é algo ultrapassado, mas importante para tornar mais acessíveis as performances do grupo. No futuro, queremos permitir que esse acesso se dê por download pago”, adianta. Isso seria viabilizado a partir de 2015, quando será inaugurada a sede da orquestra, na futura Estação da Cultura Presidente Itamar Franco, no Barro Preto, na capital mineira.
O quarto disco da filarmônica será gravado lá, pois o espaço foi projetado especificamente para comportar a orquestra. Os anteriores se valeram do desafio de encontrar local adequado para a tarefa. No caso dos dois CDs que sairão pelo selo Naxos, um registro se deu no Grande Teatro do Palácio das Artes e o outro num teatro da cidade vizinha de Ibirité. “É impossível achar local em Belo Horizonte que tenha silêncio”, reclama Mechetti. Na segunda gravação, músicos e maestro foram interrompidos diversas vezes pelo barulho do trem de carga.
O repertório do álbum dedicado a Schubert, explica o regente, fez parte do programa da orquestra no ano passado. “Quisemos mostrar a competência do grupo e nessa peça se vê isso. A sinfonia é conhecida, o que torna mais fácil a venda do CD”, explica Mechetti. A primeira prensagem terá duas mil cópias. “Gravação de música clássica é quase o oposto de música popular. A Naxos, por exemplo, não quer o que se tornou muito conhecido. Além disso, as prioridades estão na qualidade sonora e artística, bem como na relevância para as orquestras, criando arquivo que valorize a história de cada uma”, afirma o regente.
Expectativa
Fabio Mechetti revela que os concertos regulares (24, atualmente) serão dobrados quando a orquestra estiver em sua sede definitiva. “Isso vai facilitar muito a nossa vida e nos dará plenas condições de trabalho. Vamos tocar mais vezes e de forma mais regular. Poderemos ter mais opções de assinatura e de concertos especiais. Atualmente, ficamos dependentes da agenda do Palácio das Artes”, explica. Além disso, as repetições de concertos não apenas contribuirão para o aprimoramento artístico, mas também ajudarão a reduzir custos.
“Os dados mostram que o número de assinantes de nossas temporadas aumenta todos os anos. Os concertos estão sempre lotados. Há interesse de Belo Horizonte por nosso trabalho. O momento é ótimo, mas temos de reconhecer que há muito a ser feito. Todas as grandes orquestras do mundo têm 100 anos. Em termos de crescimento interno, haverá grande salto em 2015, com a nossa nova sala”, conclui.
Aliança estratégica
Assim como Fabio Mechetti, outros regentes são otimistas em relação à possibilidade de ampliar a cena da música clássica em Belo Horizonte. “A cidade comporta até mais orquestras. O grande problema é a divulgação. Poderíamos ter duas salas cheias para ouvir grupos num mesmo dia. Quando o evento é bastante divulgado, o público comparece”, diz Marco Antônio Maia Drumond, fundador e regente titular da Orquestra de Câmara Sesiminas.
Colaborações entre orquestras e artistas populares são importantes para formação de público. Drumond anuncia dois projetos do gênero: um com a banda Jota Quest (10 shows em setembro) e outro com Skank (ano que vem), fora a turnê com o pianista Arthur Moreira Lima pelo interior mineiro a partir deste mês. Nesse sentido, vale lembrar o projeto Sinfônica pop, com artistas da MPB e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Wagner Tiso, Zizi Possi, Nana Caymmi e João Bosco foram alguns dos convidados.
Miniturnê
O concerto de quinta-feira da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais terá regência de Fabio Mechetti e a pianista Lilya Zilberstein como solista convidada. O repertório reúne 'As vésperas sicilianas: abertura' (Verdi), 'Concerto para piano nº 3 em dó maior, op. 26' (Prokofieff), 'O navio fantasma: abertura' (Wagner) e 'O cavaleiro da rosa, op. 59: suíte' (Strauss). O grupo repetirá o programa no interior paulista: apresenta-se em Campos do Jordão (sexta-feira, no Auditório Claudio Santoro) e em Paulínia (sábado, no Theatro Municipal). A convidada acompanhará a minitemporada.
SÉRIE ALLEGRO
Concerto da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Regência: Fabio Mechetti. Convidada: Lilya Zilberstein (piano). Quinta-feira, às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$ 60 (plateia 1), R$ 46 (plateia 2) e R$ 30 (plateia superior). Meia-entrada para estudantes e maiores de 60 anos, mediante comprovação. Informações: (31) 3236-7400.