Walter Sebastião
É um disco radical em todos os aspectos – forma, conteúdo e na deliberada extrapolação de gêneros, conceitos e estéticas. Da primeira à última das 23 faixas, qualquer rótulo se torna frágil diante da ostensiva mescla de pop e experimentação. O CD Substância será lançado hoje, na Livraria Scriptum, com apenas 500 cópias. Produção e edição se devem a um criador ilustre: o escritor Marcelo Dolabela.
Substância reúne a banda Divergência Socialista e vários intérpretes. Dolabela conta que o grupo surgiu em 1983, como extensão do coletivo performático-musical-literário Cem Flores, que sonhava com a revolução cultural. A mesma base de instrumentistas deu origem a três frentes, que exploravam diferentes estéticas: a linhagem irônica coube à banda Sexo Explícito; a lírica, à Último Número; a política e experimental ficou com a Divergência Socialista.
Vários integrantes e colaboradores se juntaram à Divergência Socialista, comandada por Marcelo Dolabela e pela cantora Silma Bijoux O’Hara. “A gente se perguntava como seria ler o mundo do rock com o olhar das primeiras vanguardas. Se dadaístas, surrealistas, cubistas e futuristas fossem nossos contemporâneos, estariam fazendo rock, música eletrônica e incorporando vídeo a suas manifestações”, garante Dolabela.
O grupo não acabou. Ainda aposta no poder transformador da arte. “Como outras personagens sociais, o artista dialoga, faz proposta, briga e transforma”, diz o escritor, defendendo a estética que se torna ação “com crivo ideológico”. A capa de Substância traz fotos da atriz Maria Schneider, do pensador Karl Marx e do diplomata Vyacheslay Molotov.
Marcelo Dolabela, de 56 anos, é poeta, pesquisador, roterista e compositor. “Tenho mídia principal, a poesia, mas de tempos em tempos dou uma escapada para mídias auxiliares”, explica. Substância reúne faixas compostas de 1983 a 2006. Admirador de Tom Zé, Caetano Veloso, Frank Zappa e Beatles, Dolabela é basicamente seduzido “por gente que busca alternativas para a canção”, infiltrando-se no mundo pop para renová-lo ou tensioná-lo.
Destacando Mutantes, Blondie e The Clash, o multiartista avisa: seu interesse é pela síntese de vanguarda, música dançante e politizada.
DIVERGÊNCIA SOCIALISTA
Lançamento do CD Substância. Hoje, a partir das 11h30. Livraria Scriptum, Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi, (31) 3223-8927. O CD custa R$ 20.
três perguntas para...
Marcelo Dolabela , mÚsico e escritor
Como está a cena da música em Minas?
Muito bem, como sempre foi. Temos pluralidade de vozes como nunca tivemos – na música, na literatura, na poesia, nas artes plásticas, no vídeo e no cinema. O que falta é espaço – físico, midiático e virtual. E, obviamente, acabar com o nosso complexo de periferia.
Isso se desdobra em produtos?
Pesquisando, descobri que Minas Gerais, hoje, lança quase 200 discos por mês. Isso já é uma grande indústria. Não devemos ser ingênuos: o estado não produziu Clube da Esquina, o movimento heavy metal e boa parcela do melhor pop-rock brasileiro ao acaso. Música e arte são minérios que merecem ser bem tratados e entendidos.
Que projeto você está desenvolvendo?
Estou concluindo uma história da indústria fonográfica de Minas Gerais de 1930 a 1996, do acetato ao vinil. Identifiquei quase 2 mil títulos. A produção é vasta e interessantíssima, com gravadoras, selos e produtores independentes em mais de 30 cidades. O Cogumelo é o único selo a preservar sua memória. A dificuldade é que como quem conta a história é sempre o vitorioso, quem não fez algo que apareceu nacionalmente não quer mexer no que considera fracasso. Em história não existe fracasso.
É um disco radical em todos os aspectos – forma, conteúdo e na deliberada extrapolação de gêneros, conceitos e estéticas. Da primeira à última das 23 faixas, qualquer rótulo se torna frágil diante da ostensiva mescla de pop e experimentação. O CD Substância será lançado hoje, na Livraria Scriptum, com apenas 500 cópias. Produção e edição se devem a um criador ilustre: o escritor Marcelo Dolabela.
Substância reúne a banda Divergência Socialista e vários intérpretes. Dolabela conta que o grupo surgiu em 1983, como extensão do coletivo performático-musical-literário Cem Flores, que sonhava com a revolução cultural. A mesma base de instrumentistas deu origem a três frentes, que exploravam diferentes estéticas: a linhagem irônica coube à banda Sexo Explícito; a lírica, à Último Número; a política e experimental ficou com a Divergência Socialista.
Vários integrantes e colaboradores se juntaram à Divergência Socialista, comandada por Marcelo Dolabela e pela cantora Silma Bijoux O’Hara. “A gente se perguntava como seria ler o mundo do rock com o olhar das primeiras vanguardas. Se dadaístas, surrealistas, cubistas e futuristas fossem nossos contemporâneos, estariam fazendo rock, música eletrônica e incorporando vídeo a suas manifestações”, garante Dolabela.
O grupo não acabou. Ainda aposta no poder transformador da arte. “Como outras personagens sociais, o artista dialoga, faz proposta, briga e transforma”, diz o escritor, defendendo a estética que se torna ação “com crivo ideológico”. A capa de Substância traz fotos da atriz Maria Schneider, do pensador Karl Marx e do diplomata Vyacheslay Molotov.
Marcelo Dolabela, de 56 anos, é poeta, pesquisador, roterista e compositor. “Tenho mídia principal, a poesia, mas de tempos em tempos dou uma escapada para mídias auxiliares”, explica. Substância reúne faixas compostas de 1983 a 2006. Admirador de Tom Zé, Caetano Veloso, Frank Zappa e Beatles, Dolabela é basicamente seduzido “por gente que busca alternativas para a canção”, infiltrando-se no mundo pop para renová-lo ou tensioná-lo.
Destacando Mutantes, Blondie e The Clash, o multiartista avisa: seu interesse é pela síntese de vanguarda, música dançante e politizada.
DIVERGÊNCIA SOCIALISTA
Lançamento do CD Substância. Hoje, a partir das 11h30. Livraria Scriptum, Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi, (31) 3223-8927. O CD custa R$ 20.
três perguntas para...
Marcelo Dolabela , mÚsico e escritor
Como está a cena da música em Minas?
Muito bem, como sempre foi. Temos pluralidade de vozes como nunca tivemos – na música, na literatura, na poesia, nas artes plásticas, no vídeo e no cinema. O que falta é espaço – físico, midiático e virtual. E, obviamente, acabar com o nosso complexo de periferia.
Isso se desdobra em produtos?
Pesquisando, descobri que Minas Gerais, hoje, lança quase 200 discos por mês. Isso já é uma grande indústria. Não devemos ser ingênuos: o estado não produziu Clube da Esquina, o movimento heavy metal e boa parcela do melhor pop-rock brasileiro ao acaso. Música e arte são minérios que merecem ser bem tratados e entendidos.
Que projeto você está desenvolvendo?
Estou concluindo uma história da indústria fonográfica de Minas Gerais de 1930 a 1996, do acetato ao vinil. Identifiquei quase 2 mil títulos. A produção é vasta e interessantíssima, com gravadoras, selos e produtores independentes em mais de 30 cidades. O Cogumelo é o único selo a preservar sua memória. A dificuldade é que como quem conta a história é sempre o vitorioso, quem não fez algo que apareceu nacionalmente não quer mexer no que considera fracasso. Em história não existe fracasso.